Livre circulação: 80% de portugueses em Zermatt
Quais mudanças ocorrem a partir de 1° de maio, quando o acordo de livre circulação de mão de obra valerá também para cidadãos de mais oito países da União Europeia?
swissinfo foi a Zermatt, conhecida estação de esqui no país, investigar. A primeira descoberta: 80% da população estrangeira vêm de Portugal.
A rua “Bahnhofstrasse”, uma loja de uma rede internacional de fast-food, lojas de relógios, joias e produtos esportivos, restaurantes tradicionais e vendedores de lembranças. Com um leve zum-zum, taxis e caminhonetas elétricas percorrem as ruas de Zermatt. Nenhum motor à combustão polui o ar puro da montanha.
Nas ruas passeiam americanos, alemães, chineses ou indianos. Também se veem amantes dos esportes de inverno carregando seus esquis nos ombros e caminhando com as pesadas botas. Eles passaram o dia 1.500 acima dessa nobre estação de esqui.
A cena é completada por diversos grupos de pessoas, crianças em sua grande maioria, que conversam entre si em português. Será que tantos turistas lusitanos podem se dar ao luxo de passar suas férias em Zermatt, enquanto sua pátria corre o risco de pedir falência?
A imagem engana. Aqui se tratam dos filhos e filhas das inúmeras faxineiras, arrumadeiras de quartos e auxiliares de restaurante originários de Portugal. Muitos deles trabalham há vários anos como mão de obra não especializada em Zermatt. E muitas vezes eles trouxeram suas famílias à Suíça.
Muitos estrangeiros
Durante a alta temporada, mais de metade dos habitantes de Zermatt não possui o passaporte vermelho com a cruz branca. Os turistas não foram incluídos nessa contagem.
Cerca de 80% dos estrangeiros registrados na estação de esqui na região de montanhas do cantão do Valais vêm de Portugal. Essa estrutura poderá mudar desde 1° de maio, quando entrou em vigor o dispositivo que permite a livre circulação de mão de obra também para mais oito países da União Europeia: Polônia, Hungria, Eslováquia, República Tcheca, Lituânia, Letônia, Eslovênia e Estônia.
“Meus colegas alemães trabalham em grande parte servindo ou nas cozinhas dos restaurantes e hotéis. Eles têm uma formação profissional concluída”, explica a suíça Nathalie, 26 anos. Ela chefia o bar de um conhecido hotel.
Muitos estrangeiros de outros países cumprem funções que já não são mais ocupadas pelos suíços. “Que suíço teria disposição de passar o dia inteiro lavando pratos e panelas, ou passar dez hora do dia tirando pó e polindo metais? Para muitos dos nossos concidadãos isso é impensável”, ressalta Nathalie.
Baixa remuneração
Até então, pessoas interessadas dos novos oito países da UE só podiam trabalhar na Suíça se o emprego não pudesse ser ocupado por suíços. Essa barreira foi agora eliminada.
Mauro Moretto, responsável pela área de gastronomia no sindicato Unia, não vê perigo para o mercado de trabalho na gastronomia: “Precisamos estar de olho na situação para evitar possíveis práticas de dumping salarial e reforçar os controles. Porém da última vez o mercado também não sofreu grandes transformações”. Ele se refere ao ano de 2006, quando o tratado de livre circulação foi estendido aos países da UE que aderiram em 2004.
“Os estrangeiros ganham menos do que os suíços”, explica Nathalie. “Mas eles ganham mais do que nos seus países”. A alemã Renate, 24 anos, trabalha no mesmo hotel de Nathalie como chefe de atendimento. Ela dá o seu depoimento: “Fui contratada nas mesmas condições ditadas pelo contrato coletivo setorial. Pode-se dizer que os suíços ganham mais, mas sou da opinião que é preciso negociar aquilo que você irá assinar. E depois é preciso estar satisfeito.”
Pressão sob os alemães
“Nós esperamos que, a partir de 1° de maio, mais pessoas à procura de trabalho originárias da Europa do leste possam bater nas nossas portas. Como muitas delas têm bons conhecimentos de alemão, penso que o número de alemães e austríacos cairá”, afirma um funcionário do controle de estrangeiros na comuna de Zermatt.
“Existe realmente um risco”, concorda Renate. “Mas não estou muito preocupada. Em todo os caso, nós temos a vantagem de dominar o idioma. Além disso, somos formados na nossa profissão. Até que as pessoas desses oito países da União Europeia se tornem realmente concorrentes, acho que levará um certo tempo.”
Concorrência existe
A nova mão de obra do leste pode aparecer como mostra o exemplo de Oksana, 26 anos, originária da Lituânia. Com seu simpático sotaque ela pergunta se pode levar café ou chá à mesa do café da manhã.
Oksana estudou francês e inglês, mas também fala italiano e alemão. Por muito tempo ela esperou receber uma autorização de trabalho na Suíça. Não foi fácil para ela ser contratada para o serviço do hotel.
Em Zermatt ela não conhece outros concidadãos, mas está convencida que outras pessoas tentarão sua chance na Suíça, uma vez que o tratado de livre circulação entrou em vigor. Isso, pois a situação econômica na Lituânia está mais do que desoladora.
“Eu me sinto muito bem aqui na Suíça e gostaria de ficar, mas não como funcionária do serviço. Eu gostaria de ter um trabalho onde pudesse aplicar meus conhecimentos linguísticos”, detalha Oksana, precisando o futuro que gostaria de ter na Suíça.
7.325 habitantes estavam registrados na comuna de Zermatt em 11 de fevereiro de 2011.
Delas, 3.721 eram suíços. Os 3.604 estrangeiros são originários de 56 diferentes países.
Ao final da temporada de inverno, depois da Semana Santa, o número de estrangeiros caiu para 2.794. Razão: muitos restaurantes fecham por algumas semanas.
O Protocolo I da extensão do acordo de livre circulação aos dez países que aderiram à UE em 2004 entrou em vigor em 1° de abril de 2006.
A partir de 1° de maio de 2011 ele também inclui cidadãos da Polônia, Hungria, República Tcheca, Eslovênia, Eslováquia, Estônia, Lituânia e Letônia.
As restrições ao mercado de trabalho como contingentes, preferência aos cidadãos nacionais e controles de salário e condições profissionais foram eliminadas.
Os cidadãos de Chipre e Malta gozam, desde 1° de junho de 2007, da total livre circulação.
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