Metade do poder municipal suíço é apartidário
Os partidos suíços perdem poder local. Quase a metade dos 15.500 membros do Poder Executivo municipal no país não tem filiação partidária, segundo um estudo da Universidade de Zurique.
Em municípios com menos de mil habitantes, os partidos políticos são praticamente inexistentes, resultado de uma crise que começou nos anos de 1980.
Um exemplo é Trimstein, no cantão (estado) de Berna. O município com 500 habitantes só tem um partido, a União Democrática de Centro (UDC). “Mas seis dos sete membros do conselho municipal (Executivo) não têm partido”, conta a prefeita Lelia Arn Mülller. Até a UDC ajuda a procurar apartidários interessados em participar da administração municipal.
Ao contrário do que ocorre no Brasil, em muitos dos 2636 municípios suíços os cargos de prefeitos e conselheiros municipais (secretários) não são a ocupação principal dos mandatários – os membros do Executivo nos três níveis de governo são eleitos na Suíça. Só em cidades maiores, onde a tarefa é de tempo integral, eles recebem salário.
Por isso aumenta o número de comunas, sobretudo pequenas, que têm dificuldade de encontrar candidatos dispostos a assumir cargos no conselho municipal. “Em comunas com menos de mil habitantes, os partidos políticos são praticamente inexistentes”, disse Urs Meuli, coordenador da pesquisa, ao jornal universitário UZH News.
Partidos continuam sendo importantes
Mas os apartidários não negam a utilidade dos partidos, afirma o estudo “Política Municipal sem Partidos”, realizado pelo Instituto Sociológico da Universidade de Zurique em cooperação com o Instituto de Altos Estudos de Administração Pública, de Lausanne, e o Centro de Competência para Administração Pública da Universidade de Berna.
Perguntados sobre os motivos de seu apartidarismo, quase 50% dos 15.500 membros dos executivos municipais suíços responderam que o partido com o qual se identificam não existe no município. Embora 70% se identifiquem com algum partido nacional, 96% estão convictos de que a política comunal também funciona bem sem partidos.
Os apartidários tendem a assumir posições centristas e criticam o fato de os partidos estarem mais interessados em conflitos do que na solução dos problemas reais da população. Em vez de fazer carreira partidária, os sem-partido preferem se engajar por tempo limitado por determinada causa.
Crise desde os anos de 1980
Segundo Meuli, o aumento do número de mandatários apartidários reflete a crise dos partidos locais iniciada no anos de 1980. Antigamente, o engajamento político municipal era um requisito decisivo para a ascensão profissional. Hoje os cidadãos são mais móveis, flexíveis e individualistas.
A maioria dos que ainda se candidatam para um cargo eletivo é casada, tem filhos e possui fortes vínculos com a comuna. Aproximadamente a metade dos apartidários mora há menos de 20 anos no município – 70% dos prefeitos e secretários com ficha partidária moram há mais tempo.
Além disso, apenas 30% dos membros dos executivos municipais sem partido vêm de tradicionais famílias ligadas à política, enquanto esse índice é de 60% entre os filiados a partidos.
A atual pesquisa dá continuidade a um estudo de 2003 intitulado “Os Partidos Políticos Locais Suíços em Mudança”, igualmente realizado pelos sociólogos de Zurique. Os resultados detalhados serão publicados no começo do ano que vem.
swissinfo.ch com agências
Em 1848, quando a Confederação Helvética foi fundada como Estado moderno, ela tinha 3205 municípios (comunas) – hoje ainda são 2636.
Segundo o Departamento Federal de Estatísticas, em 2008, sumiram 79 comunas, através de fusões com outras, para reduzir o aparato e os custos administrativos.
No começo de 2009, a Suíça tinha 254 comunas a menos do que em 2000; 465 a menos do que em 1950. Nos cem anos anteriores, tinham sumido apenas 104.
Quinze dos 26 cantões (estados) suíços adotam medidas de fomento à fusão de municípios. Em geral, são contribuições para planejar e implementar as fusões.
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