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Munição das armas não pode mais ficar em casa

Munição para as pistolas e fuzis do exército suíço serão banidas dos porões. Keystone

A munição de bolso utilizada pelos membros do exército suíço deverá ser guardada nas casernas e não mais em casa. Depois do Senado, agora é a vez da Câmara dos Deputados aprovar a lei.

Porém fuzis e pistolas militares continuarão nos lares. A iniciativa parlamentar lançada pelo Partido Social-Democrata pedindo o fim dessa antiga tradição suíça foi recusado pelos parlamentares.

Por 100 votos contra 72, o Conselho National (a Câmara dos Deputados na Suíça) aprovou a nova lei, que já havia sido sancionada pelo Conselho dos Estados (Senado Federal). Ela acaba com a possibilidade dos militares helvéticos de conservar sua munição de bolso em casa. Porém duas exceções são previstas.

A primeira é para os membros da tropa de intervenção tática, uma unidade de elite do exército helvético capaz de ser mobilizada em poucas horas. A segunda prevê que o governo federal tenha o direito de suspender a nova lei por questões de segurança nacional. Segundo a orientação assinada pela comissão do Conselho Nacional, o governo deve reavaliar a lei a cada legislatura, ou seja, de quatro e quatro anos.

Oposição da direita

A lei foi aprovada graças ao apoio do Partido Social-Democrata, Verdes, parte dos parlamentares do Partido Radical Democrático (direita) e dos democrata-cristãos (PDC, centro-direita), preocupados em diminuir os riscos da presença de armas de fogo nos lares.

Os parlamentares desses partidos não aceitaram os argumentos do deputado Ulrich Schlüer (UDC, partido da direita nacionalista), para quem a posse da arma nos lares, uma centenária tradição helvética, e as munições seriam indissociáveis. Schlüer argumentou que entrega de munição deve ser visto como um símbolo de confiança dada aos militares. Ela permitiria também aos “soldados-cidadãos” de estar imediatamente à postos em caso de urgência. “Estamos cedendo a pressão das petições e das ruas”, acrescentou o seu colega de partido Roland Borer.

Já o ministro da Defesa, Samuel Schmid, também membro da UDC, defendeu a aprovação da nova lei. Ele estima que ela é uma solução razoável e adaptada à situação atual e não uma etapa em direção ao fim da tradição de guardar as armas em casa, um elemento indispensável para a sobrevivência do sistema de exército de milícia. Essa posição declarada pelo ministro serve, sobretudo, para acalmar algumas correntes do seu próprio partido.

As armas continuam em casa

Por 97 votos contra 76, os deputados federais decidiram também não dar continuidade à iniciativa parlamentar apresentada pelo Partido Social-Democrata, no qual os parlamentares pedem o fim da guarda privada de fuzis e pistolas militares. Este pedido já havia sido feito em várias ocasiões, mas sempre terminou refutado em uma das duas casas do Parlamento.

Na tribuna, a deputada social-democrata Chantal Galladé lembrou que 300 pessoas morrem anualmente por acidentes provocados por armas militares, como indica um estudo realizado pelo criminólogo suíço Martin Killias.

Seu colega de partido, Boris Banga, declarou que não existe nenhuma necessidade militar de manter as armas em casa. “Isso não ocorre em nenhum outro exército do mundo. Quanto aos exercícios de tiro obrigatórios, eles poderiam ser efetuados durante cursos de repetição (no sistema de exército de milícia, o serviço militar obrigatório é dividido em cursos anuais de treinamento)”, disse.

“Quando é um estrangeiro do Kosovo que cometeu um crime com uma arma, nós falamos de problemas culturais. Quando é um jovem militar ou um oficial do exército, costumamos falar aqui na Suíça de pequena derrapagem pessoal”, criticou a deputada Marianne Huguenin (do partido sucessor do Partido Comunista).

Já os membros dos partidos do centro até a direita branda defendeu a lei, afirmando que os soldados suíços continuarão a manter suas armas em casa. Para a extrema-direita, a lei é um atentado a uma tradição que existe desde 1874.

Quatro petições

Na seqüência, o Conselho Nacional colocou na agenda mais quatro petições sobre a questão das armas, mas não os colocou em votação. Uma delas foi entregue pelas leitoras da revista feminina “Annabelle”, contendo 17.400 assinaturas, que pede a interdição completa da guarda de armas nos domicílios e a criação de um registro nacional de armas de fogo.

A segunda petição vem de um grupo à favor de um controle eficaz de armas e, a outra, entregue por grupos jovens, pedindo a retirada de qualquer tipo de arma militar dos lares.

A quarta vai no sentido inverso, entregue pelo jornalista Frank Leutenegger, ela defende o direito de possuir armas.

swissinfo com agências

Na Suíça a tradição permite que os membros das forças armadas mantenham seu uniforme, material militar e até as armas em casa.

A guarda de armas nos lares tem sido fortemente criticada nos últimos anos. Mais de 300 casos de acidentes mortais provocados por armas de fogo anualmente envolvem fuzis e pistolas militares.

A iniciativa intitulada “Pela proteção contra as armas de fogo” foi lançada. Ela exige a proibição da permanência de armas militares nos lares e que elas sejam entregues nos quartéis.

Segundo uma pesquisa realizada no início do ano, 65,6% da população apóiam a guarda de armas militares nos lares. 37% acreditam que essa proibição poderá reduzir o número de dramas familiares.

Analistas acreditam que existem entre 1,2 e 2 milhões de armas de fogo em circulação na Suíça.

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