O papel da Suíça entre o Irã e os Estados Unidos
A Suíça representa os interesses dos Estados Unidos no Irã, que romperam relações há quase 30 anos, e está pronta para facilitar o diálogo entre os Estados Unidos e o Irã, afirma a diplomata suíça Livia Leu Agosti, única embaixadora mulher em Teerã.
No entanto, em entrevista escrita à swissinfo, ela adverte que a aproximação entre Washington e Teerã vai precisar de tempo.
Lieu Agosti, embaixadora em Teerã desde o início deste ano, manifesta sua inquietude acerca da difícil situação dos direitos humanos no Irã e diz ter a convicção de que o diálogo com as autoridades iranianas é o melhor modo de conseguir mudanças nessa área.
swissinfo: Washington e Teherán parecem mais dispostos ao diálogo nos últimos meses. Como a senhora vê essa aproximação?
Livia Leu Agosti: Ambos os países iniciaram uma cuidadosa e positiva aproximação. Como primeiro passo, os dois lados estão em processo de mundança do vocabulário e de permitir contatos informais.
Se vemos e ouvimos ainda sinais mesclados de ambas as partes, isso é normal depois de quase 30 anos sem relações diplomáticas. Qualquer aproximação vai precisar de tempo.
Que papel a Suíça tem nesse início de aproximação pelo fato de representar os interesses estadunidenses no Irã?
A Suíça representa os interesses dos Estados Unidos no Irã há quase 30 anos. Esse papel tem dois aspectos: proporcionar serviços consulares aos cidadãos norte-americanos que vivem no Irã e manter um canal confidencial de comunicação entre os dois países.
Esse mandato, denominado Poder de Proteção, faz parte dos clássicos bons ofícios da Suíça. Se os dois lados quiserem, estaremos prontos para facilitar um dialogo mais avançado.
Berna fez uma proposta de solução diplomática na questão nuclear. A diplomacia suíça continua ativa nesse campo?
Em acordo com todas as partes implicadas, a Suíça formulou propostas que se volte à mesa de negociações. Foi nesse contexto que acolhemos as conversações de julho passado em Genebra, das quais participou pela primeira vez um alto funcionário do Departamento de Estado dos Estados Unidos.
Durante os últimos meses, o P5+1 (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha) trabalharam para adaptar seu enfoque à nova política estadunidense com o Irã, que começa a tomar forma.
Quando o futuro formato de conversações estiver mais claro, a Suíça poderá dar outras contribuições ao processo se todas as partes desejarem.
Na eleição presidencial de julho no Irã, que mudanças a senhora espera se vencer um reformador?
A posição do presidente iraniano é essencialmente de um chefe de governo. Contrariamente a outros países, o presidente não é a mais alta autoridade na República Islâmica do Irã.
As principais decisões do país são do líder supremo religioso, o Ayatolá Jameni. Ele tem a última palavra e todos os assuntos importantes como a relação com os Estados Unidos e a questão nuclear. Qualquer presidente está ataco por suas diretivas.
Enquanto as ordens do líder supremo são das em grande parte nos bastidores, o presidente é figura mais visível da República Islâmica. Nesse sentido sua pessoa e sua personalidade são importantes para a imagem do país.
O Irã prossegue com a execução de menores, as lapidações, as violações da liberdade de expressão e dos direitos das minorias, apesar dol diálogo regular entre Berna e Teerã sobre direitos humanos. Como sev manifestam suas preocupações a esse respeito?
Para a Suíça, o respeito aos direitos humanos é uma prioridade. Então é claro que estamos preocupados pelas violações que você mencionou e continuamos abordando o tema com as autoridades. Desde 2003 temos um diálogo sobre os direitos humanos com Teerã, como também com alguns outros países.
Porém, este nunca é um tema fácil de discussão, embora estejamos convencidos de que o diálogo é a melhor maneira de avançar na causa dos direitos humanos.
A senhora acha que a Suíça deveria exercer mais pressão sobre as autoridades iranianas?
A Suíça não é uma superpotência e nossa força não está arraigada ao poder. Nossa margem de triunfo é o direito internacional, de que somos árduos defensores.
Somos muito constantes na denúncia das violações do direito internacional, onde quer que ocorram, e esse enfoque objetivo nos tem dado muita credibilidade. Isso nos permite fazer perguntas críticas e ser ouvidos.
A próxima votação na Suíça sobre a proibição dos minaretes é assunto de discussão no Irã?
Até agora, a iniciativa sobre a proibição dos minaretes não mereceu muita atenção pública. Como em todos os países muçulmanos, temos informado as autoridades acerca de nosso contexto legal e nosso sistema político de democracia direta e também sobre os objetivos e o fundamento dessa iniciativa.
Mesmo se entendem que a iniciativa no atinge mesquitas ou o islã em seu conjunto, realmente a veem como basicamente hostil aos muçulmanos.
A senhora é uma das poucas diplomatas no Irã. Tem dificuldades de viver em uma sociedade de homens?Como a senhora vive a necessidade do véu?
Na realidade, sou a única embaixadora no Irã. A outra representante feminina, de Serra Leoa, concluiu sua missão antes de minha chegada.
Até agora, essa posição não tem sido uma desvantagem. O tratamento que me tem sido dispensado pelas autoridades é respeitoso, profissional e expeditivo – pude apresentar minhas credenciais ao presidente em um mês, quase um recorde.
Quanto ao uso do véu em lugares públicos, é uma obrigação legal para qualquer mulher independentemente de sua nacionalidade, religião ou cargo.
Entendo a pergunta sobre essa obrigação, porém como diplomata me cabe respeitar as leis do meu país de residência.
Entrevista swissinfo: Federico Bragagnini
A Suíça representa os interesses dos Estados Unidos no Irã desde 1980.
Representante oficial da Suíça no Irã, Lívia Leu Agosti é a única embaixadora nesse país.
A ministra suíça das Relações Exteriores Micheline Calmy-Rey fez uma visita polêmica a Teerã no ano passado, quando assistiu a assinatura de um contrato de fornecimento de gás entre o governo iraniano e uma empresa privada suíça de energia.
No ano passado, um alto membro do Departamento de Estado dos Estados Unidos participou em Genebra de conversações sobre o nuclear em que o Irã também participou.
O Irã é o quarto mercado para as exportações suíças no Oriente Médio nos últimos dois anos.
As exportações para o Irã são principalmente de maquinaria, produtos farmacêuticos e agrícolas, totalizaram 846,6 milhões de francos suíços em 2008 (740,6 milhões de dólares), segundo a Secretaria Federal de Economia (Seco).
A Suíça estava entre os 15 primeiros países importadores de produtos iranianos em 2007.
As importações do Irã, sobretudo tapetes e produtos agrícolas, caíram para 23,5 milhões em 2008, 39% a menos do que em 2007.
A Suíça e o Irã concluíram acordos bilaterais de proteção de investimentos e de dupla tributação, assim como em comércio e transporte aéreo.
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