O passo histórico de Micheline Calmy-Rey
A ministra suíça de Relações Exteriores atravessou, na manhã de terça-feira, a linha de demarcação entre as duas Coréias, em Panmunjon.
Além do ato simbólico, Calmy-Rey propôs que a Suíça sirva de intermediária na crise nuclear que balança a região.
Às onze horas da manhã de hora local, Micheline Calmy-Rey atravessou a fronteira que separa, há cinqüenta anos, a Coréia do Norte da Coréia do Sul.
“Esse foi um pequeno passo, mas eu espero que seja um grande passo para a paz na região”, declarou a Ministra de Relações Exteriores ao enviado especial da swissinfo.
A imprensa da Coréia do sul estava presente em peso para assistir ao evento. Essa talvez seja um sinal, de que esse “pequeno passo” tenha tido importância – pelo menos simbólica – na península.
Suíça abre um caminho
“Esse gesto ajuda, antes de tudo, à desmontar uma situação claramente tensa”, comenta Philippe Régnier, diretor do Centro de Pesquisas sobre a Ásia Moderna, um instituto universitário baseado em Genebra.
“A Suíça mostra que ela está realmente preocupada com uma possível agravação da crise coreana. Essa inquietude é partilhada, sobretudo pela China, Japão e a Coréia do sul. Esses três países são sensíveis em relação à iniciativa suíça”.
Philippe Régnier ainda conclui: – “Ao tentar mostrar que a cooperação com a Coréia do norte pode ajudar a encontrar uma solução pacífica da crise, Micheline Calmy-Rey abre esse caminho também a outros países”.
Um acontecimento raro
É necessário dizer que a passagem dessa última fronteira da Guerra Fria é considerada um momento raro. Normalmente os viajantes pegam um avião de Pyongyang (Coréia do norte) para Pequim e, de lá, viajam para Seul.
Em 1994, durante a primeira crise nuclear coreana, o ex-presidente Jimmy Carter também atravessou a fronteira graças à autorização do regime norte-coreano.
O governo suíço explica que o privilégio de atravessar a fronteira mostra o grau “satisfatório” de cooperação entre o país e os governos das duas Coréias.
A Suíça havia sido convidada em 2002 a visitar a península coreana, quando o ministro Joseph Deiss estava encarregado da pasta de Relações Exteriores.
“Nós sugerimos de abrir essa fronteira hermética, ao se dizer: e por que não?”, explica Christian Mühlethaler, embaixador da Suíça em Seul.
Por uma solução diplomática
Ao chegar em Pyongyang na sexta-feira passada para um visita oficial, a ministra Micheline Calmy-Rey conclamou a realização de uma “solução negociada de todas as questões relacionadas à península coreana”.
Camly-Rey propôs, ao mesmo tempo, a ajuda suíça para facilitar as discussões entre as duas Coréias. “Segurança só pode existir através do diálogo”.
A ministra suíça insistiu ainda na questão dos direitos humanos. Ela se declarou satisfeita ao verificar que as autoridades norte-coreanas haviam aceitado o diálogo como algo necessário.
O perigo de confrontação
Ao mesmo tempo, o governo da Coréia do norte advertiu que o país cortará toda a ligação com a Coréia do sul, caso ela escolha o caminho de “confrontação”.
“O sul deve se lembrar que existe um grande risco de um desastre abominável”, declarou Pak Chang-Ryon, chefe da delegação norte-coreana durante as conversações econômicas entre os dois países vizinhos, iniciadas na quarta-feira em Pyongyang.
Trata-se da primeira declaração oficial de um membro do governo norte-coreano, após o encontro entre o presidente americano George W. Bush e o presidente coreano Roh Moo-Hyun, na semana passada em Washington.
Relação tensa com os EUA
Após o relançamento do programa nuclear pelo governo norte-coreano, as relações entre a Coréia do norte e os Estados Unidos se degradaram.
Para diminuir as tensões, negociações entre a Coréia do norte, China, Japão e Estados Unidos estão em andamento. O primeiro passo foi dado na semana passada em Pequim, na China, através do encontro de representantes dos governos chinês, norte-coreano e americano.
Durante o encontro em Washington, na quarta-feira passada, George Bush e Roh Moo-Yhun sublinharam a necessidade de encontrar uma solução pacífica para o conflito com a Coréia do norte. Isso não exclui outras medidas, caso o programa de desenvolvimento nuclear de Pyongyang continue a representar uma ameaça para a região.
Próxima etapa: Seul
Na quarta-feira a delegação chefiada pela ministra suíça Micheline Calmy-Rey almoçou com cinco oficiais suíços, que estão sob o comando do general Adrien Evéquoz. Os militares fazem parte da comissão de países neutros para a observação do armistício na Coréia (NNSC).
Baseada em Panmunjom, sobre a linha de demarcação das fronteiras, essa comissão tem como missão principal separar as forcas armadas coreanas que, teoricamente, ainda estão em guerra desde o final do conflito de 1950-1953.
Após uma visita à zona desmilitarizada, Micheline Calmy-Rey viajou para Seul, situada 40 quilômetros ao sul. Na Coréia do sul, a ministra irá encontrar Yoon Young-Kwan durante o dia.
swissinfo, agências e enviado especial Juliet Linley, em Panmunjom
tradução de Alexander Thoele
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