Política cultural toma novo rumo
A política cultural da Suíça recebeu um impulso com o parlamento aprovando um orçamento de 669,5 milhões de francos (US$ 742 milhões) a serem gastos em quatro anos.
O plano é 31,6 milhões a mais que o orçamento proposto pelo governo e aumentará significativamente o financiamento do cinema e da proteção do patrimônio, principalmente dos monumentos.
Mas para um dos principais organismos culturais da Suíça, o Pro Helvetia, foi negado financiamento adicional apesar de seu argumento de que recebera novas missões como o apoio à fotografia e às artes digitais.
Com a definição do orçamento da cultura para 2012-2015, é a primeira vez que o Governo e o Parlamento lançam uma política conjunta de quatro anos de apoio às atividades culturais, resultado da introdução da nova lei de promoção cultural, que entra em vigor a partir de janeiro.
“É realmente o início de uma política cultural conjunta”, declarou à swissinfo.ch Jean-Frédéric Jauslin, diretor da Secretaria Federal de Cultura.
Com a nova lei, as autoridades federais terão mais contato com as atividades culturais, trabalhando mais estreitamente com os cantões e os municípios, que são tradicionalmente na Suíça, os principais responsáveis do apoio à cultura.
Envolvimento político
Além de concordar em aumentar o financiamento para o cinema e a proteção do patrimônio cultural e monumentos em um total de 30 milhões de francos, o parlamento também aposta em projetos locais menores.
O Museu do Esporte de Basileia receberá, por exemplo, 600 mil extra, e o Museu Alpino Suíço, em Berna, 500 mil.
O diretor da Pro Helvetia, Pio Knüsel disse que, enquanto havia diferenças claras entre os conceitos culturais da esquerda e da direita, era legítimo que o Parlamento debatesse o papel das organizações culturais que, no caso da Pro Helvetia, é inteiramente financiado pelo contribuinte.
“O problema é que temos muitas novas tarefas, como o apoio à fotografia ou às artes digitais da Suíça, mas o parlamento não nos concedeu um orçamento proporcional e esta é a grande luta que vem acontecendo”, disse Knüsel, acrescentando que a organização é, efetivamente, refém dos caprichos do parlamento.
Para a antropóloga Florence Graezer Bideau, professora da Escola Politécnica Federal de Lausanne, a definição do orçamento federal para a cultura perdeu a oportunidade de abrir um debate público sobre a cultura suíça.
“Infelizmente, essa nova lei não provocou um verdadeiro debate sobre a questão da cultura nacional suíça”, disse.
“A mensagem cultural é mais ou menos uma mensagem que explica o novo orçamento e como ele será dividido entre os vários grupos… não há realmente nada de novo além da menção de arte digital e de patrimônio cultural intangível. Eu acho que muitos especialistas culturais ficaram desapontados com isso.”
Definição de cultura
Com a lei de incentivo à cultura, novos mecanismos serão criados para o diálogo entre os cantões e as autoridades federais sobre as questões culturais e o acesso às instalações e atividades culturais – teatro, cinema, música – para os jovens será melhorado.
“Também queremos modificar a imagem internacional da Suíça”, disse Jauslin, apontando para o Índice de Marcas das Nações, que revelou que os estrangeiros reconhecem a Suíça pelos seus bancos, montanhas e chocolate, mas “realmente não acham que somos um país cultural”.
Então, o que é cultura suíça? Knüsel disse que os últimos 20 anos da globalização forçou uma mudança do ponto de vista da cultura suíça como sendo algo que cria identidade e codifica o espírito suíço.
“Tal definição de arte e cultura da Suíça não pode ser mais defendida”, disse Knüsel.
“Partimos de uma definição muito simples. Cultura suíça é qualquer tipo de trabalho artístico que emana de pessoas que tenham um passaporte suíço ou que vivem e trabalham no país.”
Para Graezer Bideau, a cultura suíça é algo difícil de definir, porque é uma mistura de modernidade e tradição, de diferenças urbanas e rurais, religiosas e linguísticas. A falta de determinação do estado federal também não ajuda em nada.
Mas, segundo ela, a nova lei, juntamente com a ratificação da Suíça da Convenção da UNESCO para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, deu um sinal de que o país estava tentando ter uma “nova perspectiva” sobre questões de cultura e patrimônio.
“Acho que essa nova lei tenta apoiar a diversidade cultural, e o patrimônio cultural imaterial está incluído nela”, disse.
“Ficou claro que as associações locais e amadoras serão apoiadas, particularmente para melhorar a transmissão e a difusão entre os jovens.”
Cerca de 200 mil pessoas estão empregadas no setor cultural da Suíça, o equivalente a 41600 empregos a tempo integral.
Os gastos públicos com a Cultura, incluindo os 669,5 milhões do erário federal, aumentarão para cerca de 2,4 bilhões de francos por quatro anos.
Estima-se que as contribuições privadas ao setor, incluindo cerca de 12000 fundações privadas e patrocínios de empresas para as artes e a cultura, cheguem a 1,5 bilhão por ano.
Segundo Jean-Frédéric Jauslin, “Existem mais pessoas trabalhando com cultura na Suíça do que em bancos, e a contribuição anual da cultura para o PIB é de cerca de 17,7 bilhões de francos, o que é mais do que a indústria relojoeira, por isso ela é muito importante para a economia”.
Aprovada pelo parlamento em dezembro de 2009, a lei tem como objetivos:
– Definir claramente a política cultural federal em relação aos cantões e municípios
– Dividir as responsabilidades entre as autoridades federais e Pro Helvetia
– Definir as diretrizes da política cultural da Suíça
– Fornecer financiamento para a promoção cultural
– Dinamizar atividades promocionais no nível federal
– Definir novas tarefas para a Secretaria de Cultura para a promoção da educação musical e preservação do patrimônio cultural
– Modernizar Pro Helvetia
No atual orçamento de quatro anos, 2008-2011, Pro Helvetia recebeu em torno de 25 milhões de francos por ano para projetos culturais, 43% na Suíça e 57% no exterior.
68% dos fundos operacionais apoiam projetos de terceiros, 17% escritórios de apoio e centros culturais, 12% programas, 3% informações sobre as atividades culturais.
Pro Helvetia recebe cerca de 3.300 pedidos de subvenção por ano, e aprova cerca de 52%. A subvenção máxima é de cerca de 300 mil francos para um projeto de grande escala, envolvendo várias disciplinas.
Adaptação: Fernando Hirschy
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