Questão síria será resolvida internamente
Pela segunda vez, o Conselho dos Direitos Humanos da ONU, em Genebra, condenou as violências na Síria.
A pressão adicional ao regime de Bachar al-Assad não bastará para derrubá-lo, como explica o cientista político suíço Mohammad Reza-Djalili.
Depois dos apelos para que Bachar el-Assad renuncie ao poder e das condenações de países ocidentais, é a vez das instâncias internacionais condenarem a sangrenta repressão contra a revolta popular na Síria.
Na abertura da segunda sessão especial dedicada à Síria no Conselho dos Direitos Humanos (CDH), em Genebra, a Alta Comissária da ONU para os direitos humanos, Navy Pillay falou em 2.200 mortos desde o início das manifestações, em março, entre elas 350 pessoas a partir do começo do mês sagrado muçulmano (Ramadã).
Proposta pelos Estados Unidos, União Europeia e quatro países árabes – Arábia Saudita, Jordânia, Catar e Kuwait – foi adaptada uma resolução (33 votos a 4 e 9 abstenções). O texto pede o envio urgente de uma comissão de inquérito independente para estabelecer os fatos e circunstâncias que levaram a tais violações desde março de 2011, a fim de identificar os autores para que respondam por seus atos.
E não é só isso. Os Estados Unidos e quatro países europeu vão apresentar no Conselho de Segurança um projeto de resolução impondo sanções a Bachar el-Assad e a vários dignitários do regime sírio.
O texto, preparado pelos Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Portugal, prevê também acionar a Corte Penal Internacional acerca da repressão das autoridades sírias contra manifestantes que reclamam a queda de
Bachar el-Assad.
Na entrevista a seguir, essa mobilização internacional é relativizada por
Mohammad Reza-Djalili, cientista político suíço especialista do Oriente Médio.
swissinfo.ch: As críticas crescentes da comunidade internacional podem exercer uma influência decisiva na Síria?
Mohammed Reza-Djalili: Durante os primeiros meses do levante, a comunidade internacional, incluindo os países ocidentais, quis fazer acreditar que o presidente Bachar al-Assad era capaz de fazer as reformas necessárias para colocar progressivamente a Síria no caminho da democracia.
Hoje o presidente Assad está abandonado pela comunidade internacional. Para chegar a esse ponto, o regime Assad devia primeiro ser isolado no plano regional, o que ocorreu recentemente com Arábia Saudita, Bahrein, Kuait, Catas, Liga Árabe e Turquia.
Os países ocidentais podiam então reclamar a queda de Bachar el-Assad. Do ponto de vista internacional, entramos portanto em uma nova fase da crise síria. Isso foi reforçado pela queda do coronel Gaddafi, na Líbia.
swissinfo.ch: O senhor acredita em um desmantelamento rápido do regime sírio?
M. R-D:. É muito difícil prever. Por enquanto, o que permite ao regime se manter é a confiança da grande maioria das forças armadas e da polícia.
Poderia ocorrer uma mudança rápida se o regime perdesse esses apoios, se o exército recusasse de atirar na população, como na Tunísia e no Egito. Mas ainda não é o caso. O governo sírio é consciente do que ocorreu nesses dois países e faz todo o possível para impedir a emergência de um lugar permanente da contestação, como a praça Tahir no Cairo.
swissinfo.ch: Não existem sinais de divisão nas forças de segurança sírias?
MR-D: Certas informações dão a entender que sim. Mas, mesmo se existem cisões, elas não colocam em causa o aparelho repressivo que continua globalmente fiel ao regime extremamente autoritário e centralizado. É uma situação que não pode durar eternamente.
swissinfo.ch: Qual é o papel do Irã no que ocorre na Síria?
MR-D:. Hoje o Irã é o único aliado da Síria na região, uma aliança que já dura 30 anos.
No início, Teerã minimizou a importância da crise. Em seguida, o Irã retomou a tese síria de uma revolta manipulada pelos Estados Unidos e por Israel. Hoje os iranianos parecem estar muito inquietos: se o regime Assad cai, o Irã perde 30 anos de esforços para criar uma estratégia de politica estrangeira que utiliza a ajuda da Síria no Líbano e nas relações com o Hamas e outros grupos palestinos.
Se Assad cai, isso significa uma mudança considerável para a política iraniana na região, uma estratégia que deverá ser inteiramente revista.
Os iranianos começam a pagar caro pelo apoio moral e político à Síria, como mostram várias pesquisas de opinião no mundo árabe. Em termos de influência, o Irã está perdendo terreno para a Turquia
“A Suíça condena com firmeza as violações de direitos humanos que ocorreram na Síria desde o mês de março. O número de mortos e feridos na população devido à utilização excessiva de força pelas autoridades é chocante. Segundo o relatório do Alto Comissariado, mais de 1.900 pessoas teriam sido mortas”
Extrato da declaração do embaixador suíço, Jürg Lauber, durante a sessão extraordinária sobre a Síria no Conselho dos Direitos Humanos. Genebra, 22 de agosto de 2011.
Adaptação: Claudinê Gonçalves
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