Suíça busca se aproximar da UE em resposta às tarifas de Trump

A guerra tarifária do presidente dos EUA, Donald Trump, reacendeu uma antiga discussão na Suíça: o país deve se aproximar mais da União Europeia (UE), seu maior parceiro comercial.
No dia 11 de abril, a presidente da Confederação Suíça, Karin Keller-Sutter, se juntou aos ministros da economia dos países da UE em Varsóvia, marcando a primeira vez em que o país alpino participou de uma reunião do tipo. Keller-Sutter, que também é ministra da economia, declarou à imprensa local na semana passada que a Suíça queria “estabilizar e aprofundar suas relações com a UE”.

A chanceler britânica, Rachel Reeves, também compareceu e pediu que o Reino Unido e a UE trabalhem juntos no financiamento da defesa para proporcionar maior segurança econômica e nacional.
A Suíça, com sua economia voltada para a exportação, ficou chocada ao ser enquadrada no grupo de países que enfrentam as maiores “tarifas recíprocas” anunciadas pelo presidente Donald Trump neste mês: 31%, quase o mesmo valor que a primeira tarifa imposta sobre a China, de 34%.
A tarifa que pesa sobre a Suíça é significativamente maior que a taxação de 20% sobre a vizinha UE ou os 10% do Reino Unido. Embora os EUA tenham suspendido a aplicação das tarifas por 90 dias, abrindo espaço para negociações comerciais, a decisão de Trump causou arrepios em um país com uma grande clientela americana ávida por seus relógios de luxo, chocolates finos e queijos.

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A ofensiva comercial de Trump foi vista como a verdadeira implosão das garantias americanas que há muito sustentam a segurança da Suíça, aproximando o país neutro de seus vizinhos da OTAN.
Após o anúncio dos EUA, a presidente suíça declarou estar em contato próximo com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. A Suíça optou por não retaliar, e Keller-Sutter conversou por telefone com Trump na quarta-feira, poucas horas antes do presidente reverter a decisão e suspender as tarifas.
Nova realidade se instalando
A visita de Keller-Sutter a Varsóvia ocorre depois de a Suíça e a UE terem assinado um acordo histórico no final de 2024, que prevê a reformulação conjunta das relações comerciais entre o bloco e o pequeno país, após dez anos de negociações difíceis.
Os detalhes do pacote, que abrange uma ampla gama de políticas, desde liberdade de trânsito até solução de controvérsias e segurança alimentar, são esperados para junho. O acordo será então submetido à aprovação da população suíça em um referendo antes de entrar em vigor.
“Se a votação sobre o Quadro Econômico UE-Suíça fosse realizada amanhã, não tenho certeza se teria sucesso”, disse uma autoridade suíça em Zurique. “Mas agora temos uma janela em que as vozes pró-UE podem ter mais influência do que teriam de outra forma”.
Cédric Wermuth, parlamentar e colíder do Partido Social-Democrata Suíço, disse que o país “não pode mais ser uma ilha dentro da Europa”.
“Há uma nova realidade se instalando e não podemos mais lucrar da maneira como fizemos desde a II Guerra Mundial”, disse ele, acrescentando que não havia “alternativa” a não ser buscar uma “reorientação em direção à Europa”.
Adesão passiva à UE
Thierry Paul Burkart, parlamentar do Partido Radical-Liberal no Senado da Suíça, disse que agora é ainda mais importante não prejudicar o longo e estável relacionamento do país com a UE “em um momento em que o mundo está tão incerto”.
A oposição eurocética, liderada pelo Partido do Povo, de extrema direita, é veementemente contra o fortalecimento dos laços com a UE e chamou o acordo assinado de “tratado de submissão à UE”. A Kompass Europa, uma iniciativa lançada pelos fundadores da empresa de private equity Partners Group, também fez um lobby feroz contra o tratado, classificando-o como “adesão passiva à UE”.
Mas François Savary, fundador da Genvil Wealth Management and Consulting, sediada em Genebra, disse que o governo Trump e suas tarifas “mudaram a situação”.
“Vocês não estão mais negociando livremente com a maior economia do mundo”, observou Savary. “Aqueles que dizem que a UE não é a solução talvez tenham que defender essa posição com um pouco mais de firmeza.”
Colaboração: Anna Gross, em Londres
Adaptação: Clarissa Levy
© 2025 The Financial Times Ltd.

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