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Suíça combate protecionismo em Davos

A Suíça depende do acesso aos mercados, explica Doris Leuthard (aqui em 2008). World Economic Forum

A ministra suíça da Economia, Doris Leuthard, reconhece o aspecto inédito da crise atual.

No Fórum Econômico Mundial de Davos, ela incita as autoridades a se posicionar contra o fechamento dos mercados e contra novas medidas protecionistas.

A ministra convidou para uma reunião mais de 20 ministros presentes em Davos, todos de países-membros da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Neste sábado, eles discutirão a agenda 2009 das negociações intermináveis da Rodada de Doha. Doris Leuthard garante que faz tudo o que pode para enfrentar a crise.

swissinfo: A Suíça volta-se cada vez mais para a Ásia no plano comercial. A senhora vai assinar um acordo de livre comércio com o Japão em fevereiro e o primeiro-ministro chinês esteve em Berna esta semana. Essa visita foi importante?

Doris Leuthard: Essa visita foi muito importante para a Suíça. No passado, tivemos alguns problemas, alguns incidentes com a China. Em Berna, o primeiro-ministro Wen Jiabao anunciou que, no segundo semestre deste ano, vamos começar um estudo comum de viabilidade. Significa que, no futuro, vamos negociar um acordo de livre comércio.

É um sinal muito positivo porque, desde 2007, procuramos ter relações mais estreitas na área econômica. Seríamos o único país europeu a ter um tal acordo com a China. Um sucesso para a nossa diplomacia econômica.

Aqui em Davos, os participantes são geralmente muito pessimistas em relação à crise. A senhora. compatilha esse pessimismo?

Muitos países estão em recessão aguda. Ninguém sabe a duração dessa crise e ninguém pode prever realmente sua gravidade. As previsões mudam praticamente todos os meses, mas ter medo não serve para nada.

No governo, fazemos o melhor possível nessa situação e estamos preocupados. Recebo toda semana análises precisas da situação da Suíça e de seus parceiros comerciais. O importante é fazer o necessário para dar impulsos e trabalhar com nossos parceiros no reforço de nossos laços, sobretudo em matéria de exportação.

Nessa área, subsistem alguns obstáculos. Porém, constato que muitos países demonstram interesse em cooperar conosco e querem reduzir obstáculos técnicos ao comércio.

Segundo o fundador do WEF, nenhum empresário entende totalmente a crise. É o caso da senhora também?

É, porque em setembro a situação mudou com a falência do Lehman Brothers, que provocou uma dinâmica desconhecida até aquele momento.

Pela primeira vez, também a crise não atinge somente alguns mercados e sim o mercado mundial, que entrou quase repentinamente em crise. Isso torna muito importantes as medidas tomadas nos Estados Unidos, na China e na Europa. Se esses programas tiveram um efeito rápido, poderemos sair rapidamente da crise, mas ninguém pode dizer se é isso que vai acontecer.

A situação atual demonstra que a mundialização está muito avançada. Somos muito vulneráveis a qualquer crise que ocorra em um mercado, o que significa que devemos necessariamente cooperar. É preciso transparência e uma certa vigilância dos mercados financeiros e econômicos. Precisamos de organizações multilaterais que assumam essa função. Devemos dar-lhe o mandato de vigilância e de transparência. Sem isso, da próxima vez, não poderemos reagir aos primeiros sinais de uma crise.

A senhora é criticada internamente. Certos políticos dizem que a senhora não é suficientemente ativa para recuperar a economia. A senhora entende essas críticas?

Conheço essas críticas, que vêm principalmente da esquerda. Os outros estão satisfeitos com nosso programa aplicado etapa por etapa.

Naturalmente, eu escuto essas críticas, o governo (Conselho Federal) observa até aqui que a situação é particular na Suíça. Os efeitos nos nossos mercados são mais tardios do que na Alemanha e na França. Não temos crise imobiliária, contrariamente a outros países. Também não temos crédito crunch. O acesso ao crédito para as pequenas e médias empresas (PME) funciona. Daí nossa análise particular do mercado suíço e nosso plano por etapas.

Poderíamos evidentemente anunciar um plano conjuntural de 1% do PIB – além das medidas nos estados (cantões), isenções fiscais, extensão do prazo do salário-desemprego etc. Mas, no geral, estamos na linha de nossos vizinhos.

Frente a crise, muitos temem a volta do protecionismo. A senhora também?

É um risco. Os grandes mercados têm capacidade de viver da própria demanda, até um certo ponto. Tememos que obstáculos técnicos sejam impostos ou barreiras alfandegárias maiores. Mas as medidas concretas tomadas até aqui por vários países não vão nesse sentido. Estão no domínio racional.

Dito isto, devemos conversar e ficar atentos. A Suíça é dependente do acesso aos mercados, por isso discutimos com alguns parceiros ainda mais abertos do que nós, especialmente para fazer evoluir a Rodada de Doha, que visa a abertura de mercados e não a redução de oportunidades para os pequenos países.

Em Davos, a Suíça prepara um documento em que os países se comprometeriam a evitar o protecionismo. Como é isso?

Trata-se de uma iniciativa que lançamos. Em Davos, há painéis organizados sobre o protecionismo. Queremos dar um sinal concreto, além dos discursos. Países e empresários assinarão em público uma declaração, afirmando que seria totalmente falso fechar os mercados e colocar novas barreiras alfandegárias. Queremos que eles afirmem que querem a abertura, o acesso de produtos, serviços, e de todos, aos mercados. Esse sinal daria um impulso e uma moral de abertura importante nesses tempos de crise.

swissinfo, Pierre-François Besson, Davos

Desemprego: No pior cenário, o número de desempregados poderia aumentar até 51 milhões este ano no mundo, segundo estimativas da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em Genebra.

Comparação: Isso significa uma taxa muundial de 7,1% e 230 milhões de pessoas sem trabalho, contra 5,7% (198 milhões de desempregados) em 2007.

Revisão em alta: Em outubro, a OIT havia publicado uma primeira estimativa de perda de 20 milhões de postos de trabalho em decorrência da crise.

Pobres: Segundo a OIT, o número de trabalhadores pobres (que ganham menos de dois dólares por dia) chegará a 1,4 bilhão de pessoas, ou seja, 45% da população ativa mundial que tem um emprego.

Vulneráveis:Sempre no pior cenário, 200 milhões de pessoas, a maioria nos países em desenvolvimento, poderiam ser incluídos na categoria dos trabalhadores vulneráveis. São os que trabalham por conta própria, sem qualquer proteção social.

Minoritários:Segundo um estudo da consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC) em 50 países, entre eles a Suíça, apenas 34% dos empregadores questionados (contra 42% em 2008) estão confiantes na retomada da economia durante os próximos três anos. A maioria dos 1.124 questionados acha que haverá uma retomada progressiva do crescimento nos próximos três anos.

Pessimismo:Somente 21% dos dirigentes (2008: 50%) dizem que estão muito confiantes no crescimento econômico nos próximos 12 meses, enquanto 29% estão pessimistas quanto às perspectivas em um ano.

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