Suíços de Helvetia festejam tradição dos fundadores
Cerca de sete mil pessoas participaram no domingo (2/8) da 33ª Festa da Tradição na Colônia Helvetia, no município de Indaiatuba, no interior de São Paulo.
O ambiente era de muita gente vestida com roupas típicas, músicas e danças folclóricas, coroação do rei do tiro e uma fogueira para encerrar a festa. Mas a grande preocupação atual é a ampliação do aeroporto de Viracopos.
A Festa da Tradição é um acontecimento esperado e festejado em toda a região de Campinas, no interior de São Paulo, com aproximadamente 3,5 milhões de habitantes.
“Hoje a festa é praticamente exigida pela população da região”, explica à swissinfo.ch José Luis Sigrist, nascido na Colônia Helvetia e há anos envolvido com as várias atividades culturais e com organização da Festa da Tradição.
“A participação de tanta gente também é uma forma de apreço e consideração por nós e uma oportunidade de reunir os descendentes espalhados pelo estado de São Paulo”, acrescenta Sigrist, professor aposentado da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Momento mais importante do ano
“É o momento mais solene de todo o ano. Nesta festa, buscamos nos costumes suíços as caracteríscas que ainda temos da Suíça”, afirma José Carlos Bannwart, descendente de uma das quatro famílias fundadoras da Colônia Helvetia. “Somos uma comunidade que segue o lema da Suíça: unidos na diversidade. Não é fácil, mas na hora de ser suíço-descendente todos estão juntos; sempre foi assim nesses 122 anos, acrescenta Bannwart, há 11 anos presidente da Colônia.
As festividades, que sempre ocorrem na data mais próxima de 1° de agosto, festa nacional suíça, começaram com uma missa na igreja de Nossa Senhora de Lourdes, segunda instituição, depois da escola, criada pelas quatro famílias de emigrantes do cantão de Obwalden, que fundaram a Colônia Helvetia em 14 de abril de 1888.
Fervor religioso
O pastor luterano Armindo Müller, de Nova Friburgo, participou da cerimônia religiosa e disse à swissinfo.ch que “ficou impressionado com a seriedade e a participação”. Acrescentou que “me engrandece e fico profundamente feliz que o berço que trouxeram, a maioria católicos e alguns luteranos, continue a manter a fé que trouxeram de seus antepassados.”
Depois da missa, houve a cerimônia de abertura, pelo embaixador suíço no Brasil, Wilhelm Meier, de uma exposição de fotografia sobre a emigração suíça para a América Latina. Essa exposição itinerante será posteriormente montada na Argentina, no Chile e no México.
A festa prosseguiu com espetáculos folclóricos de um grupo vindo especialmente de Obwalden, cantão de origem dos primeiros imigrantes, e também dos grupos que perpetuam as tradições na própria Colônia Helvetia. Não faltaram comidas típicas suíças nem a cerimônia cívica com a execução dos hinos suíço e brasileiro.
Um dos pontos importantes da festa foi a coroação do rei do tiro 2009, vencedor que marcou mais pontos nas competições ao longo do ano, no estande de tiro, uma das atividades de lazer mais importantes na colônia.
Grande preocupação
Se a vida dos fundadores foi difícil, a calma e a tranquilidade dos descendentes está ameaçada pelo projeto de expansão do aeroporto de Viracopos. Durante a Festa da Tradição, começou uma coleta de assinaturas pela revisão do projeto, que, na forma atual, desapropriaria cerca quase 50% das terras da Colônia Helvetia.
As reinvindicações foram entregues oficialmente ao embaixador Wilhelm Meier, para gestões em Brasília. A mobilização em toda a região atingida pelo projeto, que inclui vários muncípios, está começando através do Movimento Viracopos Ético e Responsável (Mover).
O Mover afirma que não é contra a ampliação do aeroporto, mas afirma que as dimensões atuais do projeto são destinadas a atender futuros interesses de empresários e especuladores imobiliários e causariam danos ambientais e para a saúde pública dos cerca de 3,5 milhões de habitantes da região.
Segundo o Mover, atualmente o aeroporto de Viracopos tem uma frequência média de um voo a cada meia hora. Na forma atual do projeto, a frequência média em 2025 passaria a ser de três voos por minuto, ou seja, 60 vezes maior. O movimento contesta inclusive a validade dos estudos de impacto ambiental que foram feitos para o projeto.
Um dos articulares do Mover, o suíço Carlos Carmelo Campregher, afirma que as “principais preocupações são a poluição sonora, os gases tóxicos e a extinção parcial de Helvetia”. Além disso, acrescenta, muitas famílias de descedentes que moram nos municípios vizinhos serão diretamente afetadas pelo projeto.
Claudinê Gonçalves, swissinfo.ch
A Colônia Helvetia foi fundada em 14 de julho de 1888 por quatro famílias originárias do cantão de Obwalden, na Suíça central.
Essas quatro famílias – Ambiel, Amstalden, Bannwart e Wolf – são chamadas de pioneiras. Elas trabalham em fazendas de café e conseguiram fazer algumas economias. Compraram terras e o sítio original tinha 463 alqueires.
Em 1988, quando do centenário da fundação, havia mais de 8 mil descendentes das famílias de Helvetia, espalhados em 101 localidades. As propriedades hoje são chácaras onde residem 324 descendentes.
Fonte: Site da Colônia Helvetia
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