Suíços do Brasil votaram e avaliam eleições
Com a ida de 48,8% dos eleitores às urnas, as eleições suíças para o Parlamento realizadas no último domingo (21) tiveram a maior taxa de participação popular desde 1975.
De acordo com as estimativas da Organização dos Suíços do Estrangeiro (OSE), o bom índice de participação se repetiu entre aqueles que votaram em outros países, por correspondência.
Segundo a OSE, entre 40% e 50% dos 110 mil cidadãos e cidadãs suíços que residem no exterior e estão regularmente inscritos como eleitores exerceram no domingo seu direito cívico de escolher os representantes da Câmara e do Senado na Suíça.
Essa participação foi considerada muito boa e saudada por representantes de todos os partidos envolvidos na disputa.
Ainda não se tem uma estimativa oficial de quantos suíços residentes no Brasil votaram por correspondência. A julgar pelas avaliações dos Consulados-Gerais da Suíça nas duas maiores cidades brasileiras – São Paulo e Rio de Janeiro – a participação no Brasil ficou aquém da média mundial, o que mostra que a contribuição da comunidade suíça residente no país para fortalecer politicamente a chamada “Quinta Suíça” ainda pode aumentar.
O Consulado-Geral do Rio de Janeiro tem sob sua circunscrição consular o registro de 4.593 cidadãos e cidadãs suíços residentes em 20 estados brasileiros. Destes, apenas 530 (cerca de 12%) estão registrados para votar por correspondência.
O Brasil é longe demais
Mesmo sem poder precisar quantos eleitores votaram nas eleições de domingo, o cônsul-geral, Roland Fischer, se baseia em sua experiência para estimar uma participação em torno de 20% a 25%.
“É impossível ter uma avaliação precisa sobre o universo de votantes. Infelizmente, não dá pra saber como votaram em outros estados”, lamenta Roland Fischer, lembrando que o material para votação chega pelo correio aos eleitores registrados no Brasil sem passar pela intermediação dos consulados ou mesmo da Embaixada em Brasília.
A participação abaixo da média, segundo o cônsul-geral, tem algumas explicações: “O Brasil é longe demais da Suíça, daí é natural que o interesse pelas eleições seja menor aqui do que, por exemplo, nos países da Europa.
Outro fator importante é que a maioria dos suíços que vivem no Brasil tem também a nacionalidade brasileira”, diz.
No Consulado-Geral de São Paulo estão registrados 6.863 cidadãs e cidadãos suíços. Destes, somente 728 (cerca de 11%) estão registrados para votar. Pelos mesmos motivos de seu colega no Rio de Janeiro, o cônsul-geral em São Paulo, Rudolf Wyss. “Infelizmente não temos indicações para avaliar a participação da comunidade suíça em São Paulo”, afirma.
Ligados na política
Apesar de a participação eleitoral nas duas cidades não ser das maiores, não faltam, seja em São Paulo ou no Rio de Janeiro, suíços que, mesmo residindo há bastante tempo no Brasil, permanecem antenados com o que está acontecendo na política em seu país de origem. É o caso de André Stuker, empresário do ramo de turismo que tem seu escritório em Copacabana.
Vivendo no Brasil desde março de 1998, Stuker, de 42 anos, afirma que votou por correspondência “sempre que foi possível”. Ele reclama que nem sempre isso aconteceu: “Infelizmente, não funciona bem o envio do material da Suíça. Algumas vezes não recebo nada, outras vezes os documentos chegam com atraso e assim não dá para mandar de volta para chegar antes da votação. Mas eu mantive o contato e me informo o tempo todo sobre o que acontece na minha pátria”, diz.
Stuker não se surpreendeu com o resultado das eleições do último domingo: “Eu já contava com a vitória da UDC. Antes das eleições, a UDC foi o partido que ficou mais tempo na mídia e que conseguiu fazer o melhor trabalho de marketing”, opina.
Ele também analisa a queda do PS, que ficou abaixo dos 20% de votos, e o crescimento dos Verdes: “Faltam idéias novas ao PS, e os Verdes se aproveitaram dessa situação. Acredito também que o filme do Al Gore, muito visto no mundo inteiro, tenha contribuído para o sucesso dos Verdes na Suíça”.
“Acabou a velha concordância”
Um belíssimo exemplo de consciência política é dado pelo empresário aposentado Heinz Rostock. Aos 74 anos de idade, vivendo há 40 anos no Brasil entre as cidades de Resende e Rio de Janeiro, ele afirma ter votado “em todas as eleições desde que o voto no exterior foi regularizado”.
Ligado no que acontece na política partidária e eleitoral Suíça, Rostock classifica essa última eleição como “a mais animada” dos últimos anos.
“A velha concordância dos últimos 50 anos acabou”, decreta Rostock. Experiente, ele avalia que deve aumentar muito a polarização política na Suíça no próximo período: “As futuras discussões em Berna serão muito mais duras e mais tensas do que estamos acostumados”, analisa o suíço, ressaltando que a estagnação de partidos tradicionais da direita, como o PRD e o PDC, devem contribuir para essa polarização.
O desgaste da esquerda tradicional e o crescimento da direita nacionalista representada pela UDC, na opinião de Rostock, são partes de um fenômeno natural que não deve ser encarado com temor.
“O crescimento da UDC representa um desejo de mudança. Apesar do discurso extremo, temos que reconhecer que o partido é a maior força eleitoral na Suíça em cinco décadas”, diz, acrescentando que deve aumentar no governo federal o poder “das tendências contrárias à integração com a Europa”.
Rostock também ressalta como positivo o crescimento de 10% dos Verdes e saúda o Cantão de Genebra, “que elegeu o único senador verde da Suíça”.
swissinfo, Maurício Thuswohl, Rio de Janeiro
4.593 suíços estão registrados no Consulado do Rio de Janeiro, entre eles 512 como eleitores (12%).
No Consulado de São Paulo, 6.863 cidadãos estão registrados e 728 como eleitores (11%).
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