UBS entrega 4.450 correntistas ao fisco americano
A Suíça e os Estados Unidos assinaram hoje (19.08) um acordo extrajudicial para terminar o litígio opondo o UBS ao fisco americano. Os dados de 4.450 contas deverão ser transmitidos no prazo de um ano.
Em troca, o maior banco suíço se livra de pagar uma multa bilionária.
Nada menos do que três ministros suíços – Hans-Rudolf Merz, presidente da Confederação Helvética e ministro das Finanças; Eveline Widmer-Schlumpf, ministra da Justiça, e Micheline Calmy-Rey, ministra das Relações Exteriores – fizeram declarações à imprensa.
O acordo assinado na quarta-feira e que entra em vigor imediatamente prevê que os Estados Unidos retirem a queixa, cujo principal objetivo é obter a identificação dos dados pessoais de 52 mil correntistas frente ao tribunal competente de Miami e no contexto do processo civil movido contra o UBS.
O banco suíço, acusado por Washington de ter ajudado contribuinte americanos a escapar das autoridades fiscais do país, não precisará pagar nenhuma multa. Em troca, o acordo prevê um processo de cooperação judicial entre os governos suíços e americanos para obter os dados de 4.450 contas de clientes americanos do banco.
Primeiramente, para evitar a prescrição da ação penal em questões fiscais, o processo civil nos EUA continuará aberto. Sua retirada completa e definitiva ocorrerá através de etapas e será concluído no mais tardar em 370 dias após a assinatura do acordo.
Governo satisfeito
A proteção jurídica das pessoas envolvidas continua sendo garantida. Inclusive a possibilidade de entrar com recurso também já está prevista. Os titulares das 4.450 contas serão advertidos pelo banco, que lhes enviará também uma carta para encorajá-los a participar de uma declaração voluntária ao fisco americano.
O governo suíço saudou o acordo julgado como sendo bom, pois evitou dilapidar o sigilo bancário suíço. As contas atingidas pelas medidas deverão ser classificadas em Berna como sendo casos de fraude, abrindo a via para a troca de informações. “Uma tarefa importante está agora regulamentada. Será o maior caso de cooperação administrativa já assumida pela Suíça”, comentou durante uma coletiva de imprensa o presidente da Confederação Helvética, Hans-Rudolf Merz.
O presidente do conselho administrativo do UBS, Kaspar Villiger, também se mostrou satisfeito com o acordo. “Ele ajuda a resolver um dos problemas mais urgentes do UBS”. O número dois na gestão mundial de fortunas “saúda o fato de que os objetivos de troca de informações definidas pelo acordo possam ser atingidos dentro do respeito das leis”, acrescentou.
Conflito de soberania
Os Estados Unidos e o UBS estavam em conflito há vários meses. O governo em Washington acusava o grande banco suíço de ter deliberadamente ajudado clientes americanos a fraudar o fisco, abrindo para eles contas bancários off-shore.
O fisco americano exigia a identidade de 52 mil clientes anônimos, cujas contas secretas estavam avaliadas em uma soma de até 14,8 bilhões de dólares. Na “queda-de-braço”, as partes chegaram em 12 de agosto a um acordo, do qual os termos ainda estão sob sigilo até o presente.
Sem a conclusão do acordo, o governo suíço “seria envolvido em um conflito jurídico, um conflito entre a soberania suíça e os Estados Unidos”, justificou-se a ministra da Justiça, Eveline Widmer-Schlumpf, que também se declarou “aliviada”.
Fisco americano satisfeito
A Associação Suíça de Banqueiros igualmente exprimiu sua satisfaço após a assinatura do acordo. “A solução encontrada está plenamente de acordo com a legislação suíça em vigor”, escreveu em um comunicado enviado à imprensa. Segundo a ASB, este elemento é particularmente importante para o setor financeiro helvético no sentido de que a clientela estrangeira daria “bastante valor à previsibilidade do sistema jurídico suíço”.
Para o IRS, as autoridades fiscais americanas, o acordo permitindo a Washington ter acesso aos dados de 4.450 clientes do UBS é “sem precedentes” e representa “um passo fundamental” na luta contra a evasão fiscal.
“Continuaremos a lutar de uma forma enérgica contra as instituições que ajudam os americanos a escapar ao fisco”, advertiu Doug Shulman, comissário do IRS.
swissinfo.ch com agências
Maio de 2008: os EUA conseguem “pescar” um grande peixe através das investigações feitas pelas autoridades fiscais contra o cidadão russo Igor Olenicoff. Elas levam ao nome do seu banqueiro privado: Bradley Birkenfeld.
Assim fica provado que o ex-diretor do setor de banco privado abriu de forma ilegal fundos de investimentos e empresas no exterior para sonegar do fisco aproximadamente 150 milhões de dólares de clientes ricos como Olenicoff.
Fevereiro de 2009: o UBS cede às pressões americanas. A Finma – órgão suíço de vigilância do sistema financeiro – obriga o banco a revelar dados de 250 clientes acusados de sonegação fiscal. Além disso, o UBS é obrigado a pagar uma multa de 841 milhões de francos.
Depois as autoridades americanas abrem um processo civil, no qual são exigidos dados de 52 mil contas no banco. Elas pertenceriam a clientes suspeitos de sonegar o fisco.
O UBS argumenta que a entrega dos dados atenta contra a legislação suíça (sigilo bancário) e recomenda que a queixa, por questão de respeito da soberania de um Estado terceiro, seja fechada.
O governo suíço apóia a posição, apesar de não estar envolvido como pessoa jurídica no processo.
Em 13 de julho os partidos envolvidos chegam a um acordo para postergar o início do processo para 3 de agosto. A medida facilitaria um acordo fora das instâncias jurídicas.
Em 31 de julho – a ministra das Relações Exteriores, Micheline Clamy-Rey, encontra em Washington sua colega de pasta, Hillary Clinton. Um dos temas tratados diz respeito à questão do UBS.
Em 7 de agosto, o juiz americano Alan Gold aprova mais uma postergação do início do processo contra o UBS.
Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!
Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.