Um manifesto para defender os interesses da diáspora
Cerca de meio milhão de cidadãos, com direito de voto, que formam a Quinta Suíça, quer avançar seus piões na perspectiva das eleições federais de outubro.
Os suíços residentes no exterior apresentam sete reivindicações para a próxima legislatura e prometem condicionar seus votos às escolhas eleitorais.
Firmemente determinados a ganhar espaço na política federal, a diáspora se dirige diretamente aos partidos e aos candidatos no Parlamento Suíço. A eles endereçam seu “Manifesto Eleitoral 2011 de OSE” (Organização dos Suíços no Exterior), que contém um detalhado relato de suas reivindicações.
Exigem a criação de lei específica destinada aos suíços residentes no estrangeiro, facilitação do exercício dos direitos políticos no exterior, aprimoramento da mobilidade internacional dos suíços, serviço consultar adequado, desenvolvimento da comunicação com a Quinta Suíça, consolidação do Conselho dos Suíços no Estrangeiro (CSE) como organismo representativo da Quinta Suíça, reforço e desenvolvimento da presença e da participação internacional da Suíça.
Um denominador comum
Sete exigências compõem o denominador comum do eleitorado helvético do estrangeiro. Um eleitorado disseminado pelos quatro cantos do mundo, mas, “com o coração sempre na Suíça”, como explica Giuseppe Broggini, um urbanista do Ticino, aposentado, que vive há quarenta anos em Londres.
A participação dos suíços, residentes no exterior, na vida política helvética, é ditada por motivos afetivos, razão pela qual arregaçam as mangas para impor uma estratégia que atenda a seus objetivos.
“Os suíços residentes no exterior fazem um balanço da atual legislatura, que ainda deixa a desejar”, observa o diretor do OSE, Rufolf Wyder. Entre os exemplos que ele enumera, figura o progresso do voto eletrônico, que precisa, no entanto, popularizar-se. É por isso que a Quinta Suíça exige o apressamento desses procedimentos.
Uma lei específica
Para o diretor da OSE, um passo muito importante foi dado, com o reconhecimento governamental da necessidade em se conduzir uma política coerente, em relação aos suíços no estrangeiro. “Ela deverá se concretizar no correr da próxima legislatura”, insiste Rudolf Wyder. É precisamente dentro desses objetivos que a primeira das reivindicações do manifesto exige a criação de uma base legal destinada aos suíços residentes no exterior.
Realmente, o sentimento de abandono por parte da mãe-pátria se reflete na diáspora helvética. “Eles nos prometem muito e, no final, não realizam nada. Ao contrário, até fecham consulados”, lamenta Greta Latini, uma zuriquense que vive em Perugia, Itália, desde 1969.
Segundo Rudolf Wyder, a classe política helvética ainda não se deu conta, realmente, da importância da diáspora para a Suíça. Trata-se de uma rede de contatos internacionais – econômicos, políticos e culturais – “sem os quais nosso pais se empobrece. Essa rede é dirigida com muito cuidado.”
Conexões políticas
“Alguns parlamentares, conscientes do valor da Quinta Suíça e de suas preocupações, expressaram, entretanto, interesse pelos problemas enfrentados pela comunidade. Entraram em contato com a diáspora e fizeram campanha por ela”, observa Jean-Paul Aeschlimann, cônsul honorário no sul da França, que passou mais de 40 anos no exterior, não apenas na França, como também em vários outros países.
Os suíços da França – a maior comunidade helvética fora da Confederação, com 181.462 pessoas – optaram por esse caminho. Para sua conferência anual, realizada em abril, em Bordeaux, convidaram representantes dos cinco maiores partidos no Parlamento suíço, para exporem suas respectivas posições sobre diversos temas.
Encontros similares serão igualmente realizados em outros países. « Como na Grã-Bretanha, em setembro próximo, onde a Embaixada Suíça organizará um fórum, consagrado a debater as eleições federais », informa Giuseppe Broggini.
Em busca do candidato ideal
Suíços do exterior também figuram como candidatos às eleições federais em outubro. Mas os delegados com os quais swissinfo.ch se avistou admitem que esses candidatos têm poucas possibilidades de serem eleitos. Servem, entretanto, à causa da Quinta Suíça que, dessa forma, ganha maior visibilidade no país. Enquanto isso, suas candidaturas suscitam debates eleitorais no seio da diáspora e alimentam os interesses de cidadãos suíços no estrangeiro pelas eleições.
Os suíços do estrangeiro estão convencidos de que “é mais útil ter vários membros no Parlamento, de diferentes partidos políticos na Confederação que defendem os interesses da diáspora, ao invés de alguns suíços do exterior que se perdem no meio da massa “, diz Roberto Engeler, presidente da Escola Suíça de Milão.
É certo que os suíços do estrangeiro votam e também influenciam a política da Confederação. “Mas para exercer um mandato parlamentar, é preciso viver no país”, pondera o vice-presidente da OSE, Elisabeth Michel, que mora na Alemanha, há 35 anos.
Jean-Paul Aeschlimann também acha importante que a diáspora seja representada por parlamentares na Suíça, por conhecerem bem o terreno em que pisam. Para ele, o ideal será alcançado no dia em que for possível realizar “eleições para o parlamento, juntamente com as do Conselho dos Suíços do Estrangeiro. Porque se todos os suíços do exterior, detentores do direito de voto, elegessem o CSE, ele seria mais representativo e implicaria mais” os suíços em todo o mundo.
“Nós sonhamos com esse dia”, diz Jean-Paul Aeschlimann. Com o voto eletrônico e a plataforma da ‘Comunidade Suíça’, esse sonho poderá se tornar realidade.
No final de 2010, 695.101, homens e mulheres suíços do estrangeiro constavam dos registros de suas representações no exterior, isto é, 1,5% mais que no ano anterior. 538.243 deles são titulares de direitos de voto e de elegibilidade.
Para exercer seus direitos políticos devem estar registrados em uma representação suíça no país de residência e inscritos no registro eleitoral de um município da Confederação.
A participação política da Quinta Suíça aumenta constantemente. No final de 2010, havia 135.877 cidadãos suíços no estrangeiro, o que representa um crescimento de 4,5% em um ano.
A Organização dos Suíços no Estrangeiro (OSE) representa na Confederação os interesses dos suíços do exterior. As autoridades reconhecem a organização como o porta-voz da Quinta Suíça.
A diáspora suíça tem seu próprio Parlamento: o Conselho dos Suíços no Exterior (CSE), que se reúne na Suíça duas vezes por ano, no verão e outono, por ocasião do Congresso Anual dos Suíços no exterior.
Na reunião da Primavera, realizada em 8 de abril, em Brunnen, Cantão Schwyz, o CSE aprovou por unanimidade o “Manifesto Eleitoral 2011 da OSE“, dirigido a todos os partidos e candidatos nas eleições federais de 23 de Outubro de 2011. Trata-se de um catálogo de reivindicações concretas, da Quinta Suíça para a próxima legislatura.
Adaptação: J.Gabriel Barbosa
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