“Um país só existe ao projetar-se no exterior”
Pascal Couchepin será o presidente da Suíça em 2008. É a segunda vez que o ministro do Interior ocupa essa função.
Em entrevista a swissinfo, ele traça as grandes linhas do que será seu ano presidencial, principalmente com uma intensificação dos contatos internacionais.
swissinfo: O sr. já foi presidente em 2003. Essa segunda presidência será diferente?
Pascal Couchepin: Com certeza. Depois de ter vivido uma presidência, acumulamos experiência. Vou me esforçar para evitar certos erros e melhorar algumas coisas. Falo da direção do colégio governamental e das relações com o Parlamento ou da presença dos suíços no estrangeiro.
swissinfo: O que o sr. tenciona melhorar?
P.C. : Na direção das sessões do governo, as reuniões devem continuar a ser ordenadas e estritas. Mas talvez com um pouco mais de leveza. Na minha primeira presidência eu fui extremamente preciso, talvez até demais …
swissinfo: A Suíça acaba de viver um choque político com a não-reeleição do ministro da Justiça da UDC (direita nacionalista) Christoph Blocher. Isso vai mudar alguma algo para o presidente?
P.C.: A eleição de Christoph Blocher, quatro anos atrás, causou mudanças no colégio governamental. Sua saída também provocará mudanças.
Como eu disse em outras ocasiões, quando vivemos várias legislaturas é como na geologia: uma camada superpõe outra mas não a suprime. A experiência de Cristoph Blocher no governo deixará marcas nos próximos anos, marcas positivas.
swissinfo: Quais são suas três prioridades nesta presidência?
P.C.: O colégio governamental deverá primeiro decidir se quer continuar ou abandonar a reforma do governo. O Parlamento insiste na necessidade de reformas profundas. Será preciso decidir.
Se decidirmos pelas reformas, devemos concluí-las. Se renunciarmos, temos de dizer claramente e, provavelmente, expor-nos à críticas severas do Parlamento. Acho que é preferível correr esse risco do que continuar as reformas sem realmente terminá-las.
O segundo ítem é prosseguir a consolidação das finanças públicas. Não somente as finanças do Estado mas também das diferentes instituições sociais.
O terceiro ponto importante é o aprofundamento de nossas relações com a União Européia, especialmente pela extensão da livre circulação das pessoas com os novos países membros da UE. Há também uma série de acordos que queremos discutir com a UE, de interesse para ambas as partes.
swissinfo: Antigamente, o presidente raramente viajava. Agora é quase o contrário. Qual a importância das viagens presidenciais?
P.C.: O confinamento do presidnte nas fronteiras suíças era a expressão de uma época. A comunidade internacional visava essencialmente manter suas conquistas e defender seus interesses.
Depois da Segunda Guerra Mundial, sentiu-se a necessidade de ultrapassar essa visão muito conservadora e de criar comunidades politicas ou econômicas. Com o tempo, percebeu-se que um país ou uma pessoa só podiam existir projetando-se no exterior.
Claro que há limites. Não podemos passar todo o tempo fora da Suíça mas creio que é importante manter relações como seus colegas estrangeiros. É assim que um país existe. A Suíça, que não é membro de um bloco de Estados como a UE, deve se esforçar ainda mais para estar presente no cenário internacional.
swissinfo: Que imagem da Suíça o sr. quer veicular no estrangeiro?
P.C.: Uma imagem realista, nem muito boa nem muito ruim. A visão realista de um país que dá certo graças a circunstâncias excepcionais, à sabedoria de seus habitantes e a algumas decisões políticas acertadas. Graças ainda à capacidade de desenvolver atividades econômicas baseadas na ciência e no saber.
swissinfo: Como o sr. vai mostrar aos 600 mil suíços do estrangeiro que o sr. é o presidente?
P.C.: Faremos como já fazemos através de uma série de medidas. Mas as coisas devem ocorrer nos dois sentidos.
A maioria do suíços do estrangeiro têm dupla nacionalidade. Somos felizes de tê-los como compatriotas mas, de uma certa maneira lhes dizemos: vocês também devem demonstrar que querem ser suíços. Isso através de uma certa imagem da Suíça, participando das atividades de nossas embaixadas e consulados, dando seu ponto de vista.
Vocês não são apenas uma comunidade passiva que deve receber algo mas também devem dar alguma coisa à Suíça. É uma troca.
swissinfo: O que o alegra particularmente neste ano presidencial?
P.C.: Muitas coisas: o Euro de futebol na Suíça e na Áustria, a abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim ou a Exposição Universal de Saragossa. São ocasiões de encontros enriquecedores porque trata-se da comunidade internacional realmente vivida.
Interview swissinfo, Olivier Pauchard
Nasceu em 5 de abril de 1942. Formado em direito pela Universidade de Lausanne, ele é advogado de profissão.
Entrou muito cedo no Partido Radical Democrático (PRD, de direita) e foi eleito em 1968 para o Executivo da cidade de Martigny, no cantão do Valais. Ele foi prefeito da cidade de 1994 a 1998.
Na política federal, Pascal Couchepin foi eleito deputado em 1979. Presidiu o grupo parlamentar radical de 1989 a 1996.
Foi eleito pelo Parlamento para o governo federal dia 11 de março de 1998. Foi ministro da Economia e, desde 1° de janeiro de 2003 assumiu o ministério do Interior (que engloba a seguridade social, a saúde, a educação e a cultura).
O presidente da Confederação Helvética é eleito pelo Parlamento e tem um ano de mandato (de 1° de janeiro a 31 de dezembro).
A função é assumida, em sistema de rodízio, pelos sete ministros que compõem o Conselho Federal, governo federal suíço.
O presidente dirige as reuniões do governo (geralmente às quartas-feiras) e representa oficialmente o país.
É sobretudo um cargo honorífico. A função presidencial não confere qualquer poder adicional. Em relação aos outros seis ministros que compõem o governo, o presidente é apenas um “primus inter pares” (o primeiro entre seus iguais).
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