Uma visita cercada de medidas de segurança
Os membros do Executivo suíço receberam Dmitri Medvedev e sua esposa com honras militares. Os principais pontos da visita oficial do presidente da Rússia eram questões econômicas e a visão de Medvedev de uma nova arquitetura de segurança europeia.
Os dois países também assinaram quatro acordos de cooperação.
O jornal Tagesanzeiger vai ao ponto ao descrever a chegada de Dmitri Medvedev e sua comitiva, a primeira visita de um chefe de Estado da Rússia à Suíça. “As pessoas que estavam na rota da visita do presidente russo perguntavam-se por que uma visita oficial transforma a Suíça em uma área de segurança máxima.”
Depois da chegada do avião na segunda-feira (21/09), às 11:30 de hora local no aeroporto de Zurique, Medvedev e sua esposa Swetlana foram levados em uma limusine à estação de trem de Bassersdorf, onde um trem especial estava à espera das delegações russa e suíça. Por medida de precaução, a polícia helvética havia fechado o local por trinta minutos. Nem mesmo o prefeito local havia sido informado. Nos trens, os passageiros eram levados a outras estações e tinham de pegar ônibus especiais para chegar aos seus destinos.
Para as autoridades suíças, nenhum esforço foi poupado para evitar situações embaraçosas, como a ocorrida durante a visita de Jiang Zemin, na época presidente da China, quando manifestantes exibiram cartazes pró-Tibet. As medidas surtiram efeito. Em Berna, apenas pequenos grupos protestavam pelos direitos humanos na Rússia.
Durante a tarde, o presidente russo teve uma reunião de trabalho com o presidente da Confederação Helvética, Hans-Rudolf Merz. As quatro horas de diálogo foram marcadas por temas como as relações bilaterais, os acontecimentos no Cáucaso, a situação econômica mundial, o debate relativo ao G-20, a segurança européeia e o desarmamento.
Contribuição helvética
Na coletiva de imprensa organizada logo após o encontro, o presidente russo insistiu na estabilidade do “importante parceiro econômico e investidor que é a Suíça”.
Segundo o jornal Le Temps, Medvedev insistiu em ressaltar a importância da neutralidade helvética ao discutir a questão da segurança na Europa. Evocando a nova arquitetura europeia de segurança que Moscou gostaria de construir, ele revelou que o fato de a Suíça não pertencer à Otan ou à União Europeia permite ao país contribuir ao estabelecimento de um diálogo”. O presidente russo agradeceu, ao mesmo tempo, pela contribuição dada pela Suíça ao exercer seu mandado de representante dos interesses russos na Geórgia.
A propósito da crise financeira, Medvedev declarou que os países do G-20 devem entrar em acordo sobre uma nova forma de organização. “De uma forma geral, ele assegurou que a presença da Suíça nas instâncias internacionais merece ser apoiada, sobretudo devido à importância do seu setor financeiro”, escreveu o jornal genebrino.
Interesses econômicos
A visita do chefe de Estado não ocorreu apenas por questões de cortesia. Apesar de ressaltar a boa qualidade do relacionamento econômico dos dois países e da crescente presença de investidores helvéticos no seu país, Medvedev ressaltou a dificuldade tida por investidores russos para entrar no mercado helvético. “Nessa área ainda há pequenos problemas a resolver”.
Segundo o jornal NZZ, o presidente russo foi direto ao ponto: Renova, a empresa do bilionário russo Viktor Vekselberg, contra a qual está em andamento na Justiça um processo administrativo relacionado ao investimento na multinacional suíça Sulzer. As suspeitas estão relacionadas a possíveis acordos ilegais e não cumprimento da declaração obrigatória.
Apesar dos poucos pontos de conflito, o empresariado suíço saudou a intenção anunciada pelos dois países de negociar um acordo de livre comércio. “Isso foi declarado por representantes da economia durante um encontro com o presidente Medvedev em Berna. O ambiente foi positivo, explicou Gerold Bührer, presidente da federação industrial Economiesuisse. Discutiu-se também sobre burocracia e corrupção e possibilidades para proteger melhor investimentos suíços na Rússia”, segundo o site da Rádio Suíça.
Berna e Moscou assinaram quatro acordos durante o encontro das duas delegações. Dentre eles, facilitações na área de vistos para visitas de russos à Suíça e vice-versa, aceitação e recepção de refugiados não aceitos na Suíça, ajuda humanitária em caso de catástrofe e na área de esporte.
Segunda parte da visita
Hoje, no segundo dia da visita oficial da delegação russa, Medvedev visita o monumento ao general russo Suworow, na Suíça central. Ele lembra a passagem das tropas russas em 1799 pelos Alpes quando expulsaram tropas francesas do norte da Itália.
A esposa do presidente russo, Swetlana, aproveita também a visita para presentear dois jovens ursos à cidade de Berna. Eles irão acompanhar outros animais da sua espécie no novo “Fosso de Ursos”, uma das atrações turísticas da capital helvética.
Alexander Thoele, swissinfo.ch e agências
As relações bilaterais remontam ao século 18, época em que artistas e cientistas russos visitavam a Suíça e cidadãos helvéticos emigravam à Rússia.
Vários monumentos e edifícios desenhados por arquitetos suíços recordam os passos desses imigrantes na Rússia.
No século 19, a Rússia é uma das grandes potências mundiais que garantiam a neutralidade suíça. No início do século 20, artistas, estudantes e dissidentes russos passam temporadas na Suíça, dentre eles Lênin.
Após a Revolução Russa em 1917, a Suíça suspende as relações diplomáticas com o país em 1923. Estas só foram reatadas em 1946.
Com o fim da Guerra Fria, intensificam-se as relações políticas, econômicas, científicas e culturais.
Hoje a Rússia é um importante parceiro comercial da Suíça. Esta é também um dos principais investidores externos na Federação Russa.
A Rússia é o único membro permanente do Conselho de Segurança da ONU com o qual a Suíça organiza visitas anuais a nível ministerial.
Há dez anos, a Suíça fornece ajuda econômica e técnica, assim como ajuda humanitária, sobretudo na região norte do Cáucaso.
Desde 2009, a Suíça representa os interesses diplomáticos de Moscou na Geórgia e dos georgianos na Rússia.
SPM: Sete membros da Sociedade para os Povos Ameaçados (SPM) manifestaram na segunda-feira (22/09) antes da chegada do presidente russo.
Chechênia: Vestidos de negro, eles denunciaram as violações dos direitos humanos na Chechênia.
Politkoskaïa.: Militantes lembraram do assassinato da militante dos direitos humanos Natalia Estemirova e da jornalista Anna Politkoskaïa.
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