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Veganismo, ecstasy e aids dispensam do exército

Médico militar avalia a saúde de um jovem no centro de recrutamento de Rueti. Keystone

Pressionado a cortar despesas e adaptar-se aos novos tempos, o Exército suíço introduz novas regras de alistamento.

Elas prevêem que veganismo, aids e até o consumo esporádico de drogas sintéticas, como o ecstasy, justificam a dispensa do serviço militar.

Como revelou o jornal SonntagsZeitung no último domingo (11/01), o Ministério da Defesa da Suíça (VBS, na sigla em alemão) acaba de revisar as diretrizes de saúde do alistamento militar. As mudanças “polêmicas” atingem, pela primeira vez, vegetarianos e veganos.

Vegetarianos podem ser engajados. Já para os veganos – ou seja, adeptos de uma corrente radical do vegetarianismo que não consomem qualquer produto de origem animal, alimentar ou não, e que, por isso, não trajam nem botinas militares – o comando do Exército recomenda considerá-los não aptos ao serviço militar ou mesmo ao serviço alternativo da proteção civil.

A justificativa não é uma suposta fraqueza dos veganos, mas sim uma questão de logística. “Eles não podem ser alimentados pela cozinha militar sem um grande e ilógico esforço”, explica o médico militar Gianpiero Lupi.

Assim só basta dizer que se é vegano para fugir da caserna? “Não”, continua Lupi, “nesses casos, iremos questionar o médico familiar e também os parentes”. Ele ainda acrescenta que os médicos aplicarão testes psicológicos para detectar tentativas de dar informações falsas.

Dispensa por aids

As novas regras já estão em vigor há cinco meses, revelou o jornal, acrescentando também que são “raras” suas revisões pelo Exército suíço. A última ocorreu em 1999. O curioso é que o VBS não tornou pública as mudanças, com exceção de um artigo publicado em uma revista médica especializada.

Na área de narcóticos também há novidades: o candidato que consome drogas sintéticas, como o ecstasy, mesmo que apenas esporadicamente, agora está automaticamente dispensado. As regras se tornaram também mais rigorosas para os usuários de cocaína e heroína: se antes o uso “esporádico” das drogas levava apenas a uma “recomendação” de dispensa, agora esta é “obrigatória”. “Não toleramos mais o uso de drogas no Exército suíço”, reforça Lupi.

Outras novidades estão relacionadas a portadores de aids: pessoas com o índice de massa corporal abaixo de 18 (cerca de 52 quilos para um tamanho do corpo de 170 centímetros) não podem mais servir. Se no passado já era recomendada a dispensa de jovens alistados que estavam em meio a uma terapia medicamentosa de combate à aids, agora o VBS amplia o tratamento para os soldados que estão fazendo os chamados cursos de repetição (n.r.: na Suíça o serviço militar é dividido entre o curso básico e vários cursos de repetição anuais). Explicação: – “Os especialistas disseram que essa é a melhor decisão, pois o tratamento é complexo e difícil de garantir no cotidiano militar”, acrescenta o médico Lupi.

Além das novidades, as novas regras avaliam doenças de uma forma diferente do que no passado. Pacientes com diabete do tipo II são considerados inaptos ao serviço militar. Pessoas com doenças coronárias do coração estão agora “obrigatoriamente” dispensadas. Já outros problemas passaram a ser aceitos: rupturas dos ligamentos, problemas de vista (miopia e outros) que foram operados ou os chamados distúrbios de déficit de atenção.

Críticas

O jornal Tages-Anzeiger questiona se um ministro com cinco pontes de safena e recém-recuperado de uma operação no coração é considerado apto a voltar ao serviço (Hans-Rudolf Merz, ministro das Finanças, retornou ao Executivo em 3 de novembro) enquanto jovens veganos ou consumidores de ecstasy seriam inúteis para o serviço “patriótico”.

“Eu espero que alguns desses jovens adaptem seu regime alimentar ao serviço”, declarou ao jornal Mario Fehr, deputado federal do Partido Socialista. “Se essas novas regras valessem nos anos 70, acho que metade dos jovens teria se tornado também vegano”, brincou Josef Lang, deputado do Partido Verde.

Outros parlamentares são mais críticos. “Esse é mais um passo para acabar com o serviço militar obrigatório na Suíça”, lamentou-se Edi Engelberger, do Partido Liberal-Radical.

Em um relatório sobre o tema, o governo federal publicou que, graças às novas diretrizes, espera-se um “aumento moderado do número de jovens aptos a servir o Exército”. Para Gianpiero Lupi, esse objetivo pode ser alcançado apesar das diversas exceções. “Sobretudo afrouxando as outras”, diz. Já para o SonntagsZeitung, a estratégia é clara: “o Exército se alegra com cada caso de dispensa, pois assim os custos se reduzem”.

swissinfo, Alexander Thoele (com agências)

O último projeto de reforma das Forças Armadas suíças (intitulado Armee XXI) entrou em vigor em 2004. Desde então, o Exército tem duas prioridades: defender a infra-estrutura do país e apoiar os órgãos de defesa civil.

Com 120 mil soldados ativos e mais 100 mil reservistas, o Exército suíço é considerado um dos maiores da Europa.

O princípio do serviço militar obrigatório para homens integrado em um exército de milícia foi mantido.

Em 1989, cerca de 36% dos eleitores votaram pelo abolição do Exército. A iniciativa havia sido lançada por um grupo pacifista.

Suíça

Soldados: aproximadamente 220.000
Gastos militares (2007)*: 3,7 bilhões de francos suíços
Gastos comparados ao PIB: 0,95% do PIB
Gastos per capita: 490 francos suíços
Soldados no exterior: 274

Áustria

Soldados: aproximadamente 106.000
Gastos militares (2007)*: 2,8 bilhões de francos suíços
Gastos comparados ao PIB: 0,8% do PIB
Gastos per capita: 347 francos suíços
Soldados no exterior: 1.236

Irlanda

Soldados: aproximadamente 23.500
Gastos militares (2007)*: 1,2 bilhões de francos
Gastos comparados ao PIB: 0,45% do PIB
Gastos per capita: 295 francos suíços
Soldados no exterior: 798

* Sem incluir a remuneração paga aos soldados ativos (833 milhões de francos)

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