Os suíços querem que o Estado intervenha mais na vida privada do cidadão, mas são contra um aumento das pensões da previdência pública e medidas para reduzir o desperdício.
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Suíço-brasileiro formado em jornalismo e comunicação social pela Universidade de Friburgo, Suíça. Ex-colaborador da antiga Rádio Suíça Internacional (RSI), que deu origem à swissinfo.ch.
A iniciativa popular “AVSplus: por um AVS forte” (AVS é a sigla em francês para Seguro para Velhice e Sobrevivência), que pretendia aumentar a pensão dos aposentados em 10%, acabou sendo reprovada por quase 60% dos eleitores suíços.
Se aprovada, um aposentado que mora sozinho receberia entre 1400 a 2800 francos suíços a mais por ano e um casal de aposentados, no máximo, 4200 francos.
O aumento geraria um custo total estimado a 4,1 bilhões de francos. Para financiar esse aumento, sindicatos e partidos de esquerda – os autores da iniciativa – pretendiam aumentar em 0,4% a contribuição de empregados e empregadores à previdência pública.
O objetivo da medida era reforçar o seguro básico dos aposentados. Para os iniciadores da proposta, essa seria a única maneira de compensar as perdas dos fundos de pensão da previdência profissional, o chamado “segundo pilar”, que tem como objetivo completar as pensões dos seguros sociais estatais (velhice e invalidez), cujos valores cobrem apenas os custos mínimos de sobrevivência do pensionista.
Para o governo e os partidos de direita da Suíça, essa solução acabaria custando caro demais. Ambos pretendem aprovar uma reforma mais radical da previdência pública, tratada atualmente pelo Parlamento.
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Vigilância em massa
Por outro lado, os suíços se mostraram bem mais favoráveis à intrusão do Estado na vida privada, principalmente após o aumento da ameaça terrorista na Europa. A nova lei de inteligência levada a referendo neste domingo recebeu mais de 60% de apoio dos cidadãos.
Sob certas condições, como uma simples suspeita, os agentes federais poderão agora conduzir operações intrusivas na vida do cidadão, como acompanhar conversas pela internet, se infiltrar em computadores, realizar escutas ou colocar câmeras em locais privados.
Durante a campanha pela aprovação da lei, o governo suíço destacou que existem vários sistemas de autorizações e controles para evitar abusos.
Mesmo assim, para os adversários, a nova lei é uma porta aberta para a vigilância em massa. Já para o governo, trata-se mais de um equilíbrio justo com relação à proteção das liberdades individuais.
Economia verde
Se por um lado, os suíços querem que a geração passada continue apertando os cintos com o que ganha, por outro, eles não querem economizar para as gerações futuras.
A iniciativa popular apresentada pelo partido verde, “Por uma gestão sustentável e eficiente baseada em uma economia de recursos”, também foi recusada pela maioria dos suíços (63,6%).
A proposta exigia que a Suíça reduzisse sua pegada ecológica até 2050 para preservar o planeta para as gerações futuras.
Segundo os defensores da iniciativa, é preciso pensar nas gerações futuras e reduzir o desperdício. O governo suíço, embora compartilhe das mesmas preocupações, considerou que os iniciadores da proposta estavam indo longe, e rápido, demais.
Os eleitores suíços acabaram dando ouvidos aos partidos de direita e alguns círculos econômicos que falaram de um “retorno ao banho de água fria” para ilustrar a perda do conforto que a iniciativa poderia causar.
De maneira geral, as empresas suíças já procuram reduzir sua pegada ecológica. Para elas, a medida só prejudicaria a competitividade, o crescimento e o emprego.
De qualquer forma, segundo os adversários da iniciativa, só uma abordagem coordenada com outros países seria eficaz para salvar o planeta.
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