Nestlé acusada de abuso de condições de trabalho na Indonésia
Crianças indonésias de apenas oito anos estão trabalhando em condições perigosas nas plantações de óleo de palma para abastecer multinacionais como a Nestlé, afirma a Anistia Internacional em um novo relatório. A gigante suíça dos alimentos disse que vai investigar as alegações.
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Nascido em Londres, Simon é jornalista multimídia que trabalha para a swissinfo.ch desde 2006. Fala francês, alemão e espanhol e cobre questões de ciência, tecnologia e inovação.
De acordo com o relatório da Anistia “O grande escândalo do óleo de palma: abusos trabalhistas por trás das grandes marcas”, divulgado na quarta-feira, as plantações de óleo de palma da Indonésia, em mãos do maior produtor de óleo de palma do mundo, Wilmar, recorre a práticas de trabalho forçado.
Os investigadores da ONG falaram com 120 trabalhadores de duas filiais da Wilmar e três fornecedores da Wilmar em Kalimantan e Sumatra, na Indonésia. Eles encontraram crianças com idades entre 8 e14 anos realizando trabalho físico perigoso, duro e que deixavam de ir à escola para ajudar seus pais nas plantações.
A Anistia Internacional disse que as crianças trabalham sem equipamentos de segurança nas plantações onde pesticidas tóxicos são usados, e carregam sacos pesados de dendê de até 25kg.
A ONG constatou que as mulheres também eram forçadas a trabalhar longas horas ou correr o risco de terem um corte salarial, pagas abaixo do salário mínimo e mantidas em situação de insegurança sem pensões ou seguro de saúde. A Anestia afirmou que os trabalhadores também sofreram ferimentos devido ao tratamento com paraquat, um herbicida tóxico ainda utilizado nas plantações, apesar de ter sido banido na União Europeia e pela própria Wilmar.
Usando dados de exportação e informações publicadas pela Wilmar, a Anistia localizou o óleo de palma produzido nas plantações indonésias averiguadas em nove empresas multinacionais: AFAMSA, ADM, Colgate-Palmolive, Elevance, Kellogg’s, Nestlé, Procter & Gamble, Reckitt Benckiser e Unilever.
A ONG disse que nenhuma das empresas contatadas negou os abusos, nem forneceu exemplos de ações tomadas contra os abusos dos direitos trabalhistas nas plantações da Wilmar.
Melhorar a rastreabilidade
A porta-voz da Nestlé, Cornelia Tschantré, disse que as práticas identificadas no relatório da Anistia não tinham “lugar” na cadeia de suprimentos da Nestlé.
Ela disse para swissinfo.ch que a empresa havia se engajado “amplamente” com a Anistia durante a elaboração e agora investigaria as alegações relacionadas com a compra de óleo de palma e fornecedores da Nestlé.
A Wilmar fornece cerca de 10% de todo o óleo de palma utilizado nos produtos Nestlé.
“Estamos trabalhando em estreita colaboração com a empresa para melhorar a rastreabilidade. Agora, 83% do volume que compramos pode ser rastreado até o moinho de origem e 11% até a plantação. Esta rastreabilidade ainda não se estende às plantações no centro das alegações do relatório da Anistia Internacional”, disse Tschantré.
Adaptação: Fernando Hirschy
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