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“A justiça internacional precisa de mais visibilidade”

Muitas vezes apresentado como o mentor do genocídio, Théoneste Bagosora (à direita) foi condenado em 2008 à prisão perpétua. AFP

Durante 15 anos, a Fundação Hirondelle (Andorinha) relatou o trabalho diário do Tribunal Internacional para Ruanda. Uma experiência única, que servirá de trampolim para lançar um portal dedicado exclusivamente ao monitoramento da justiça internacional.

Implementado depois do genocídio pelo Conselho de Segurança da ONU, o Tribunal Penal Internacional para Ruanda (TPIR) terminou todos seus julgamentos de primeira instância. Ele ainda deve julgar 15 recursos antes de fechar no final de 2014.

Os jornalistas da agência Hirondelle News acompanharam desde 1997, dia após dia, todos os julgamentos realizados em Arusha, no norte da Tanzânia. Um trabalho de longo prazo que tem dado frutos, como explica Jean-Marie Etter, diretor geral da Fundação Hirondelle, entrevistado por ocasião do 19º aniversário do genocídio.

O TPIR foi criado em novembro de 1994, logo após o genocídio em Ruanda, quando pelo menos 800 mil tutsis e hutus moderados foram mortos por extremistas hutus entre abril e julho. As mortes começaram depois do atentado que matou o então presidente Juvenal Habyarimana, da etnia hutu, quando o avião no qual estava foi derrubado por mísseis sobre a capital do país, Kigali.

(Fonte: ONU Brasil)

swissinfo.ch: Qual é a sua avaliação dos 15 anos de cobertura do TPIR pela agência de notícias Hirondelle News?

Jean-Marie Etter: Nosso objetivo era tornar o trabalho da justiça internacional acessível e compreensível para o povo de Ruanda, que às vezes custava a admitir que os perpetradores do genocídio fossem julgados no estrangeiro, por estrangeiros. Um desafio ainda mais difícil por causa do grande controle do governo de Ruanda com todas as informações sobre o genocídio.

Dadas as circunstâncias, os resultados são notáveis. As rádios, os jornais ruandeses e a mídia dos países vizinhos publicaram e retransmitiram amplamente as notícias que a agência Hirondelle publicava diariamente há15 anos.

Radio Okapi

swissinfo.ch: Foi fácil se livrar da disputa entre vencedores e perdedores, entre hutus e tutsis, que ainda divide Ruanda, quase 20 anos após o genocídio?

JM.E.: Nós pudemos contar com uma equipe de jornalistas altamente qualificados composta tanto por tutsis como hutus. Sabendo que qualquer ponto podia ter consequências enormes, eles procuraram tratar o trabalho do TPIR de forma extremamente rigorosa e factual, às vezes quase obsessiva. Isto permitiu que a agência transcendesse essa divisão e fosse reconhecida de forma unânime pela comunidade diplomática e científica internacional, em si parcialmente dividida em dois campos.

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swissinfo.ch: Seus jornalistas sofreram alguma pressão ou censura por parte das autoridades ruandesas?

JM.E.: As autoridades ruandesas às vezes exigiam algumas correções, que aceitávamos quando eram justificadas, mas muitas vezes acabamos recusando. Mas, novamente, sabendo que estavam sendo observados de perto, nossos jornalistas foram vigilantes em todos os momentos.

Além da cobertura do TPIR em Arusha, a agência Hirondelle foi a único no mundo a conseguir acompanhar de forma precisa e completa os Gacacas [tribunais populares criados em Ruanda para julgar quase dois milhões de hutus acusados de envolvimento no genocídio]. Para isso recebemos ajuda das autoridades, o que consideramos como um reconhecimento da qualidade do trabalho realizado.

swissinfo.ch: Os 15 anos de trabalho vão cair agora no esquecimento?

JM.E:. Claro que não! Milhares de notícias publicadas, inclusive em Kinyarwanda, a língua nacional de Ruanda, são arquivos únicos. Vamos cuidar para que possam beneficiar as gerações que não sofreram do genocídio, mas também para a comunidade científica.

Além disso, já foi planejado desde o início apoiar o projeto de formação específico sobre o funcionamento da justiça internacional. Jornalistas da região dos Grandes Lagos, no Quênia, Sudão e República Centro-Africana são capazes agora de abordar estas questões complexas.

Com competência e o apoio da comunidade internacional, esperamos lançar até o final do ano um portal na internet que servirá de referência para o monitoramento da justiça internacional. Este site, em vários idiomas, irá ajudar os cidadãos dos países em causa, mas também os profissionais, a encontrar rapidamente todas as informações sobre o Tribunal Penal Internacional (TPI) e os tribunais especiais, pois o trabalho da justiça internacional precisa de mais visibilidade para existir.

Adaptação: Fernando Hirschy

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