A Suíça defenderia o Liechtenstein no caso de um ataque militar?
Tradicionalmente, a Suíça mantém relações estreitas com o Liechtenstein, seu minúsculo vizinho oriental. As relações são tão estreitas que muitos acreditam que a Confederação defenderia o principado no caso de um ataque militar.
Muitas pessoas na Suíça e em Liechtenstein acreditam que o minúsculo principado está sob a proteção militar da Confederação. Mas essa suposição é falsa. “A Suíça não defenderia Liechtenstein”, explica Christian Frommelt, do Instituto Liechtenstein, que resolveu essa questão num estudoLink externo encomendado pelo governo de Liechtenstein.
Ao contrário da opinião geral, a Suíça não é o poder protetor de Liechtenstein, nem oferece nenhuma garantia legal de segurança. Isso não seria compatível com sua neutralidade, uma vez que constituiria uma espécie de aliança militar.
“Legalmente, o exército suíço não é responsável pela proteção do Principado de Liechtenstein”, confirma o porta-voz do exército Lorenz Frischknecht. “Mas, se Liechtenstein se encontrasse numa situação de emergência, a Suíça estaria disposta a oferecer seu apoio como uma assistência entre vizinhos, se seu país vizinho solicitasse.”
Tanto na Suíça como em Liechtenstein, especula-se que um ataque militar nunca afetaria apenas o principado, mas também a Suíça e outros países europeus. Nesse cenário, a Suíça incluiria Liechtenstein em seu destacamento defensivo e confiaria na OTAN ou na UE para intervir a seu favor.
A Suíça não teria impedido a anexação de Liechtenstein por Hitler
O caso defensivo ocorreu concretamente durante a Segunda Guerra Mundial. De fato, a Suíça integrou Liechtenstein em sua estratégia de abastecimento econômico e militar, como se fosse um cantão, e assim assumiu, de certa forma, o papel de protetor econômico, conquistando a profunda simpatia do povo de Liechtenstein.
Mas, para o governo da Confederação, estava claro que o exército suíço só defenderia Liechtenstein no caso de um ataque simultâneo aos dois países. Se a Alemanha de Hitler tivesse decretado e implementado a “anexação” de Liechtenstein ao Terceiro Reich sem atacar a Suíça, o exército confederado teria ficado parado. No final, os dois países foram poupados de um ataque.
Como surgiu esse mal-entendido?
De acordo com Frommelt, a impressão geral em Liechtenstein de que a Suíça defenderia seu pequeno vizinho no caso de um ataque é reflexo da estreita cooperação e da abertura das fronteiras entre os dois países.
Mas, segundo Frommelt, a integração quase total de Liechtenstein no sistema de abastecimento econômico da Suíça – que ocorreu graças ao tratado de união aduaneira – não existiu apenas durante a Segunda Guerra Mundial. ‘Posteriormente, no campo da proteção civil, a Confederação também tratou Liechtenstein como se fosse mais um cantão.” Um exemplo que ilustra isso são os exercícios de proteção contra desastres realizados em Liechtenstein com a participação do exército suíço.
“Portanto, a percepção da Suíça como ‘poder protetor’ de Liechtenstein em caso de guerra deve-se principalmente à falta de diferenciação entre a dimensão civil de um conflito armado e seu alcance militar”, conclui Frommelt.
Adaptação: Clarice Dominguez (Edição: Fernando Hirschy)
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