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Altermundialismo à sombra dos baobás

O Fórum Social, em sua primeira parada no Senegal, quer construir um mundo mais justo para as gerações futuras nos países em desenvolvimento. Reuters

Terminado o encontro dos líderes mundiais em Davos, na Suíça, chegou a vez da reunião anual dos críticos da globalização, que se encontram a partir de domingo (06) em Dacar.

A oitava edição do Fórum Social Mundial deste ano deve reunir mais de 50 mil pessoas de 123 países na capital senegalesa. Um dos temas principais do encontro, que acontece entre os dias 6 e 11 de fevereiro, será a questão da migração.
















“Um outro mundo é possível”. Em 2001, durante o primeiro Fórum Social Mundial (FSM) em Porto Alegre, o movimento antiglobalização havia respondido à altura aos chamados da globalização desenfreada e triunfante da ideologia neoliberal.

Dez anos depois, após uma crise financeira e econômica que pôs a nu todos os lados obscuros do capitalismo globalizado, o lema é mais atual do que nunca. E a partir de domingo, a voz dos excluídos dos salões de Davos será proferida por dezenas de milhares de pessoas que estarão em Dacar para compartilhar experiências, encontrar pontos em comum, desenvolver novas ideias e principalmente trazer sangue novo à luta por um mundo mais justo.

“O FSM é um meio para adquirir novas experiências e compartilhá-las com outras pessoas que vivem na mesma situação que a nossa”, disse Mariam Sow, diretora de uma ONG no Senegal. “Para nós é extremamente importante ver que em todo o mundo há pessoas que lutam por um mundo melhor”.

Momentos altos e baixos

O anti-Davos, como tem sido frequentemente chamado o FSM, sofreu em edições recentes de pouca visibilidade, provavelmente pela falta de interesse da mídia e das dificuldades na Europa (o último Fórum Social Europeu em Julho de 2010, em Istambul, foi assistido por apenas 3 mil pessoas). Para alguns observadores o movimento antiglobalização está em declínio, se não estiver clinicamente morto.

No entanto, o Fórum Social Mundial – que este ano, devido a razões organizacionais, não será realizado ao mesmo tempo que o Fórum Econômico Mundial em Davos – nunca parou de crescer. 20 mil participantes na primeira edição, 130 mil dois anos atrás, em Belém. E as atividades organizadas passaram de 400 em 2001 para mais de 2 mil.

“A dinâmica do fórum não enfraqueceu, mas tomou formas diferentes”, diz o sociólogo Jean Rossiaud, um membro da delegação suíça em Dakar e especialista em movimentos sociais. “Dois anos atrás, participei do Fórum Climárico das Nações Unidas em Copenhague. Não era um fórum social, mas um pouco parecido, com as mesmas organizações. Falou-se do lado social, embora ligado ao clima”.

“Parte do que temos dito há dez anos contra o Fórum Econômico Mundial (WEF) de Davos foi retomado em temas do próprio WEF. A crise financeira provou – e líderes como Sarkozy e Obama concordaram- que o sistema não pode continuar no mesmo caminho de antes. Do ponto de vista ideológico, de certa forma, acabamos ganhando, pois nossos temas acabaram se impondo”, destaca Rossiaud. Entre eles, a luta contra os paraísos fiscais, que tem se tornado uma questão prioritária para muitos estados.

Integração de outras partes da sociedade

Além disso, para Rossiaud, o movimento altermundialista continua crescendo, porque cada FSM integra um aspecto diferente da sociedade. “Em Belém foi a população da Amazônia. Este ano será provavelmente a maioria dos migrantes. Cada ano, a “superfície” da sociedade civil envolvida aumenta e com ela a coordenação entre os diferentes movimentos”.

Na véspera do Fórum, será organizada uma assembleia mundial dos migrantes em um lugar altamente simbólico: a Ilha de Gorée, na Baía de Dacar, onde os escravos eram embarcados para as Américas.

“Os migrantes são um prenúncio de mudança. Para enfrentar os desafios do nosso planeta é necessário pessoas com experiências de diversas culturas. É o caso dos migrantes”, diz o sociólogo de Genebra.

Tunísia e Egito

A questão dos migrantes também será abordada pelo sindicato suíço UNIA, que vai organizar um workshop sobre os direitos da categoria. As outras organizações suíças presentes em Dacar, por sua vez, irão organizar reuniões sobre temas como a cooperação e o desenvolvimento na África, a Rodada de negociações de Doha sobre a liberalização do comércio internacional ou o comércio equitativo. Questões estas que serão acompanhadas de outros temas “clássicos” do FSM, como os efeitos da crise sobre os países subdesenvolvidos, a reorganização da economia mundial, a luta contra a fome, as mudanças climáticas e assim por diante.

Como aconteceu durante o WEF em Davos, o FSM deste ano certamente também será influenciado pelo o que está acontecendo no Egito.

“Depois do que aconteceu na Tunísia, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial não podem mais fechar os olhos para a ganância desses governantes só pelo fato de apoiarem o liberalismo”, disse Ibrahim Sene, número dois do principal partido de oposição do Senegal. “Prepare-se para presenciar outros movimentos como o da Tunísia, no oeste da África”.

O Fórum Social Mundial Dacar 2011 receberá participantes e organizações de 123 países, além da Palestina e Curdistão, durante os seis dias de evento que acontece na capital senegalesa de 6 a 11 de fevereiro.

A maioria vem dos vizinhos africanos (45), seguidos dos europeus (29), asiáticos (22), centro-americanos e caribenhos (12), sul-americanos (10), norte-americanos (3) e países da oceania (2), além da Palestina e do Curdistão.

A expectativa do Comitê Organizador é de receber 50 mil pessoas.

Uma importante delegação suíça estará presente em Dacar, a maior na história do Fórum Social Mundial, com mais de 50 pessoas.

Além de vários representantes de sindicatos e organizações não-governamentais, a delegação também conta com seis parlamentares dos partidos verde e socialista, incluindo o presidente do partido verde, Ueli Leuenberger.

O Fórum também conta com personalidades como o ex-presidente brasileiro, Luis Inácio Lula da Silva, a ex-candidata socialista à presidência da França Ségolène Royal e o atual presidente boliviano, Evo Morales.

Adaptação: Fernando Hirschy

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