A eleição do português António Guterres como Secretário-Geral da ONU foi saudada pela imprensa suíça da quinta-feira que considera a escolha um "acordo aceitável".
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Suíço-brasileiro formado em jornalismo e comunicação social pela Universidade de Friburgo, Suíça. Ex-colaborador da antiga Rádio Suíça Internacional (RSI), que deu origem à swissinfo.ch.
O diário Le Temps, editado em Lausanne, traz manchete em quatro colunas: “Conselho de Segurança escolhe António Guterres para suceder a Ban Ki-moon”. O jornal enfatiza que Guterres foi primeiro-ministro de Portugal, mas sobretudo que dirigiu durante 15 anos (1995-2015) o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, em Genebra.
O correspondente do Le Temps em Nova York relata que havia ainda nove outros candidatos e que Guterres é “um compromisso aceitável”. De fato, vários países queriam a eleição de alguém dos países do leste europeu, se possível mulher. A búlgara Irina Bokova, diretora-geral da Unesco era uma das favoritas, mas considerada pró-Rússia, diz o correspondente, explicando que dos 15 membros do Conselho de Segurança, 13 votaram em Guterres e houve dois votos brancos, inclusive de um dos membros com direito de voto, provavelmente a Rússia.
O Tribune de Genève traz uma manchete mais prudente: “Salvo Surpresa, Guterres será Secretário-Geral da ONU”. O jornal explica que os 15 membros do Conselho de Segurança confirmaram a tendência registrada na primeira rodada de votação em julho, quando Guterres já estava em primeiro lugar da lista de candidatos.
O Tribune lembra que quando da vinda a Genebra na semana passada, Ban Ki-moon disse que seu sucessor poderia ser designado rapidamente para ter o tempo necessário de transmitir o cargo e os dossiês até o final do ano ao novo Secretário-Geral.
O jornal afirma ainda que “até as regras foram alteradas”, explicando que geralmente o Secretário-Geral é uma “personalidade não carismática”, crítica que é feita a Ban Ki-mon. Desta vez, “mesmo se seu currículo é impressionante, o Conselho de Segurança escolheu um homem de forte personalidade”.
Por sua vez, o NZZ, de Zurique, diz que o procedimento adicional para determinar o sucessor de Ban Ki Moon oferece uma resolução formal do Conselho de Segurança da ONU e uma eleição pela Assembleia Geral da ONU.
O jornal de língua alemã lembra que Guterres começou na verdade como um outsider na corrida para suceder o sul-coreano Ban Ki Moon. De acordo com uma regra não vinculativa, agora seria realmente a vez de um candidato do leste europeu. No entanto, Guterres se destacou com uma atuação convincente nas primeiras audições realizadas antes da Assembleia Geral da ONU. Além de ter experiência de governo, o português de 67 anos conhece bem a ONU. Ele foi responsável pela agência de refugiados durante dez anos, até 2015.
Uma escolha que, segundo o Tages Anzeiger, veio a calhar. Como Comissário para os Refugiados, Guterres teve que lidar com crises difíceis.
Para o jornal da Suíça alemã, o mundo pode realmente esperar de Guterres um homem capaz no comando da ONU. Ele foi, por exemplo, o único primeiro-ministro português que sobreviveu a um mandato completo com um governo minoritário.
Guterres quer “fazer”, diz ainda o Tages Anzeiger, mas ele mantém os pés firmes no chão, não promete utopia. O jornal conclui com uma citação de 2002, onde Guterres diz: “Se a pessoa não sofre de megalomania, ela sabe que não pode salvar a humanidade. Eu não quero salvar a humanidade, mas quero fazer tudo ao meu alcance para conseguir melhorias.”
Leia abaixo a entrevista com Guterres quando chefiava o Alto Comissariado para os Refugiados, em Genebra:
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