Antecipando a ciência para o bem da humanidade
Uma fundação com sede em Genebra lança uma proposta de lei, cujo objetivo é mapear futuros avanços científicos. Se aprovada em plebiscito, será possível antecipar efeitos e melhorar sua implementação.
Uma ferramenta digital que fornece uma visão geral de 216 avanços científicos esperados ao longo dos próximos 25 anos. Cerca de 550 cientistas de todo o mundo contribuíram para o projeto. O Radar de Inovação CientíficaLink externo foi revelado no primeiro congresso da fundação Antecipador da Ciência e Diplomacia em Genebra (GESDA), ocorrida no início de outubro.
De acordo com o “radar”, dentro de 25 anos, computadores quânticos de alta performance serão capazes de resolver problemas atualmente insolúveis. Por exemplo: eles poderiam realizar simulações químicas complexas para acelerar a descoberta de novos produtos farmacêuticos.
Em 10 anos, empresas privadas poderão ser capazes de extrair da Lua metais e minerais que estão faltando na Terra. Dentro de cinco anos, os avanços na inteligência artificial (IA) poderão permitir uma análise mais sofisticada dos dados do cérebro e, assim, uma melhor compreensão da consciência humana.
A GESDA espera que o radar sirva ao multilateralismo, incentivando a inclusão da ciência nas discussões e negociações em organizações internacionais em Genebra e em outros lugares. O radar será atualizado regularmente para refletir a evolução da ciência. “É raro que os pesquisadores tentem prever em que rumo irá a ciência, para que os políticos possam se preparar e evitar o uso nocivo da ciência”, disse o vice-presidente da GESDA, Patrick Aebischer à swissinfo.ch (em francês).
Uma ferramenta para antecipar o progresso científico atende às necessidades dos líderes políticos, disse Joseph D’Cruz, assessor especial do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. “As escolhas que fazemos hoje devem realmente ser uma resposta a eventos que acontecerão dentro de três, cinco ou dez anos. Mas não temos uma boa compreensão do que acontecerá então”, disse Joseph D’Cruz.
GESDA 2021
Mais de 100 palestrantes e 900 participantes se reuniram pessoalmente e on-line no primeiro congresso da GESDA, realizada em Genebra de 7 a 9 de outubro. As discussões se concentraram em avanços científicos futuros, seu impacto potencial na sociedade e as políticas necessárias para garantir que seus benefícios sejam compartilhados e seus riscos minimizados.
A conferência de três dias foi uma oportunidade para a GESDA se apresentar ao público, dois anos após sua criação em 2019 pelo governo suíço e o governo cantonal de Genebra. Sua missão é construir pontes entre os tomadores de decisão da comunidade internacional e os pesquisadores que trabalham na vanguarda da ciência, levando em conta as preocupações da sociedade civil e do setor privado.
Durante o congresso, a pandemia de Covid-19 frequentemente serviu para ilustrar não apenas a dificuldade de antecipar, mas também de assegurar o acesso e a confiança nos avanços científicos.
Com muita frequência, os resultados da pesquisa com financiamento público são publicados em periódicos científicos pagos. Este conhecimento permanece inacessível a muitos pesquisadores, formuladores de políticas e ao público, disse Kamila Markram, co-fundadora e CEO da Frontiers. A quebra dessas barreiras permitiu o rápido desenvolvimento das vacinas Covid-19. “Se queremos ter debates na sociedade sobre questões científicas importantes, seja sobre a emergência climática, sobre Covid-19, ou edição do genoma, precisamos ter acesso aos resultados científicos primeiro”, explicou Kamila Markram.
Naledi Pandor, Ministra de Cooperação e Relações Internacionais da África do Sul, sublinhou a dificuldade de alguns países africanos em criar confiança na ciência quando “você é o último na fila para obter uma vacina”.
Qual o futuro da GESDA?
A GESDA está construindo parcerias para trabalhar em soluções para os problemas identificados em seu radar. A fundação fez uma parceria com a XPRIZE, uma organizadora de competições, para lançar uma competição visando incentivar o desenvolvimento da computação quântica. As duas organizações planejam trabalhar em conjunto para lançar mais competições desse tipo.
O “Radar de Inovação Científica” também servirá de estrutura para uma série de programas de educação de diplomacia científica a serem lançados por 12 instituições suíças e globais, incluindo a Universidade de Genebra e a Escola Politécnica Federal de Zurique (ETH). “Não podemos fornecer uma solução credível para todos os problemas mencionados. Temos que ser muito claros de que, ao limitar nossas ambições, seremos mais confiáveis e eficazes”, disse Peter Brabeck-Letmathe.
O próximo congresso da GESDA acontecerá em agosto de 2022. Uma versão atualizada do radar será apresentada junto com “duas, no máximo três” soluções, disse seu presidente, Peter Brabeck-Letmathe, na sessão de encerramento. Apesar do discurso de inclusão, a sociedade civil e os atores privados permaneceram sub-representados na cúpula da GESDA.
Patrick Aebischer reconheceu isto durante uma sessão na qual ele disse que a GESDA esperava envolver mais empresas privadas no próximo ano. Isto é particularmente importante no debate sobre pesquisa de inteligência artificial, onde as empresas privadas, não os estados, estão na liderança. Enquanto isso, o radar oferece uma oportunidade para que qualquer pessoa apresente ideias que irão alimentar o trabalho da GESDA no futuro.
A GESDA logo terá que se dirigir do governo suíço para convencê-lo a continuar apoiando seu trabalho quando a fase piloto da fundação terminar em 2022.
Adaptação: DvSperling
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