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Appenzell completa 500 anos

Conhecidos em toda a Suíça: os três camponeses que atuam como "garotos-propaganda" dos queijos do Appenzell. Keystone

“Não revelaremos nosso segredo”. Três senhores convictos elogiam as qualidades do queijo Appenzeller em uma série popular de comerciais que exploram alguns valores associados ao cantão de Appenzell: tradição, amor à patria e obstinação.

No dia 17 de dezembro, faz exatamente 500 anos que o cantão de Appenzell aderiu à Confederação Suíça. Esta data vem sendo celebrada ao longo de todo o ano e culminou com um grande evento, no qual o atual presidente da Suíça, Ueli Maurer, esteve presente. “O orgulho que vocês têm da pátria e das tradições é um exemplo maravilhoso da diversidade do nosso país,” disse o presidente.

Mas, ao mesmo tempo que os suíços apreciam a própria diversidade, muitos dos que não são do pequeno cantão no extremo nordeste do país – na verdade composto por dois semicantões: Appenzell Exterior e Appenzell Interior – consideram o lugar um pouco diferente demais. 

Clichês

“Existem muitos clichês a respeito do cantão de Appenzell, por exemplo, de que eles sejam muito fechados, mas acho que isso é coisa do passado,” afirmou à swissinfo.ch Daniel Fässler, o landammann – ou governador do cantão de Appenzell Interior. “Nós gostamos de viver com um pé na história – as tradições são muito importantes para nós -, mas também gostamos de viver num mundo moderno. É uma corda bamba, mas acho que conseguimos nos equilibrar muito bem.”

Em seu discurso durante as comemorações, ele advertiu os presentes dos perigos dos clichês. “Geralmente as pessoas usam clichês para simplesmente não precisarem se preocupar com os fatos. A realidade é quase sempre diferente.”

Seja como for, uma pesquisa divulgada pela empresa de consultoria de imagem Campaignfit no início de 2013 mostrou que muitos suíços ainda consideram o cantão de Appenzell – especialmente o Interior – fechado e antiquado.

Talvez os dois semicantões ainda não tenham conseguido se livrar do estigma deixado pelo fato de que ambos resistiram em conceder o direito de voto às mulheres a nível cantonal, mesmo muito tempo depois de as mulheres já terem direito de voto a nível federal. Appenzell Interior manteve a proibição até 1991, quando foi forçado por uma lei do Tribunal Federal a mudar. Appenzell Exterior concedeu o direito de voto às mulheres em 1990.
 
Mas quantas pessoas sabem que apenas quatro anos depois o Appenzell Exterior já tinha alcançado o cantão de Berna, com a maior proporção de mulheres em seu governo? Ou quem se lembra que, em 1999, a terceira mulher a ser eleita para o governo suíço, Ruth Metzler, era justamente do Appenzell Interior?
 
O Appenzell Exterior tem no momento uma mulher à sua frente, a governadora Marianne Koller-Bohl. “Talvez tenha sido como um despertar da primavera, quando finalmente pudemos participar da política e sermos representadas nos órgãos cantonais. Infelizmente o que constato atualmente é que as mulheres não estão mais interessadas em política. Isso me incomoda muito,” afirmou a governadora à swissinfo.ch.


Ela atribui a longa demora destes cantões em conceder o direito politico às mulheres à força da tradição local, especialmente a da instituição Landsgemeinde, o parlamento cantonal que se reunia uma vez por ano em praça pública e no qual só os homens podiam decidir sobre as questões do cantão. “As pessoas tinham medo de perder esta tradição se as mulheres também participassem”, esclareceu.

De fato, o Appenzell Exterior aboliu a Landsgemeinde em 1997, porém esta instituição ainda persiste no Appenzell Interior, agora com eleitores de ambos os sexos.

O historiador Josef Küng, do cantão dos Grisões, mas que viveu mais de 40 anos no Appenzell Interior, tem outra explicação para o fato de os homens terem rejeitado por três vezes a proposta que daria o direito de voto às mulheres nos dois semicantões. “Em uma época de mudanças sociais muito rápidas, talvez eles estivessem se prendendo desesperadamente a um dos últimos bastiões da supremacia masculina”, esclarece.

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“Appenzell é um exemplo de realização civilizatória”

Este conteúdo foi publicado em Na estação de trem de Appenzell, a funcionária é questionada sobre um pequeno vilarejo nas imediações. Ao ver a foto em um recorte de jornal misturado com os papéis do jornalista, ela não titubeia: “O senhor quer encontrar Arnold Koller? Ele esteve conosco pela manhã. Aqui está o bilhete.” Quando o repórter de swissinfo.ch salta…

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Mentalidades diversas

Os dois semicantões comportaram-se de forma semelhante no que se referia aos direitos das mulheres, mas as diferenças entre os dois remontam ao ano de 1597. 

Eles se separaram por questões religiosas: o Appenzell Interior é constituído pelos municípios que permaneceram católicos, e os municípios que adotaram a Reforma Protestante formaram o Appenzell Exterior. A separação foi pacífica e democrática, ao contrário de muitos outros lugares na Europa. Cada paróquia pôde decidir que confissão queria seguir. Os fieis que não estavam de acordo podiam simplesmente se mudar.
 
Peter Witschi, o arquivista cantonal de Appenzell Exterior, disse à swissinfo.ch que, embora os dois cantões sejam superficialmente semelhantes, há grandes diferenças na mentalidade, e que estas diferenças estão mais relacionadas com a religião do que com a natureza dos cantões.
 
Küng concorda. “O espírito da Reforma estimulou o desenvolvimento da indústria e do comércio no Appenzell Exterior. O cantão ficou mais cosmopolita, embora também houvesse correntes conservadoras.”

A indústria têxtil do Appenzell Exterior data do século XVI. As exportações eram feitas inicialmente para outros países da Europa, mais tarde porém, a partir da metade do século XIX, passaram a ser feitas para todo o mundo.

O Appenzell Interior, por outro lado, era basicamente agrícola e, embora exportasse alguns laticínios, seus compradores eram basicamente vizinhos da região do Lago de Constança.

Segundo Witschi, estas diferenças tiveram um efeito dominó.
“Há duzentos anos, havia muitas pessoas no Appenzell Exterior que tinham estado no exterior a trabalho, seja como comerciantes ou em outros empregos. Como consequência, eles foram mais rápidos do que o Appenzell Interior em aperfeiçoar o sistema educacional, pois, com uma educação melhor, se tem mais acesso a línguas estrangeiras e pode-se ter acesso a outros mercados.”

Um coisa que une os dois semicantões é o fato de ambos serem ligados à tradição. Mas neste ano de comemorações, mesmo o apego às tradições foi modernizado e ficou mais cosmopolita.

Reunificação – ou não?

Apesar das diferenças, durante as comemorações muito oradores mencionaram o fato de que os dois semicantões trabalharam juntos de uma forma sem precedentes durante todo o ano.

Ruth Corminboeuf, membro do parlamento cantonal do Appenzell Interior contou à swissinfo.ch que os dois semicantões vêm se aproximando nos últimos 20 a 30 anos. “Estamos mais abertos e percebemos que trabalhar juntos é bom e necessário, pois somos muito pequenos.”


Isso significa que em breve haverá um só Appenzell novamente? O último artigo do documento de separação, redigido em 1597, afirma: “Esta divisão deverá durar apenas o tempo que ambas as partes desejarem. A partes estão livres para se reunificarem a qualquer momento.”

Hanspeter Knöpfel, chefe do conselho distrital de Rüte, no Appenzell Interior, é a personificação da unidade cantonal: ele próprio cresceu no Appenzell Exterior, numa época em que a outra metade do cantão era muito longe e “não tinha nada a ver conosco”, mas mudou-se para o Appenzell Interior depois de casado.

Porém, se perguntado sobre a unidade política, ele tem suas dúvidas.
“Não creio que precisemos nos reunificar. Talvez devamos explorar certas sinergias, o que aliás já estamos fazendo. A única vantagem é que seríamos mais fortes como um cantão único nas nossas demandas diante da Suíça como um todo. Por outro lado, não precisamos disso. Vivemos muito bem como vizinhos.”

Appenzell Interior

 

A agricultura continua sendo importante e emprega cerca de 16% da população.

Menos de 1/3 dos empregos estão na indústria.

Mais da metade dos empregos estão no setor de serviços.

 

Appenzell Exterior

A agricultura é responsável por 8% dos empregos.

Mais de 1/3 dos empregos estão na indústria, setor de energia e construção.

O setor de serviços é responsável por 58% dos empregos.

O Appenzell é o único cantão a ser totalmente rodeado por outro (St. Gallen).


A posição dos dois semicantões é tal, que o ponto definido pelo escritório de pesquisa territorial como centro geográfico do Appenzell Exterior fica localizado no Appenzell Interior.

É o único cantão que não é servido pela rede ferroviária federal.

O serviço ferroviário local é feito pela companhia ferroviária do Appenzell, que utiliza a bitola estreita na maior parte da sua extensão.


O Appenzell Interior é um dos únicos dois cantões – o outro é Glarus – a manter o Landsgemeinde, um parlamento em praça pública, que se reúne uma vez por ano, no qual todos os cidadãos votam questões referentes ao cantão.


Os habitantes do Appenzell são conhecidos pela sua baixa estatura: com uma média de 1,761 m de altura, os homens são 2,8 cm mais baixos que os homens da Basileia, que são os mais altos do país, segundo o Instituto de Anatomia da Universidade de Zurique.

Como é um cantão protestante, o Appenzell Exterior manteve o antigo calendário juliano até 1798 e rejeitou o calendário gregoriano, que é mais preciso, apenas porque este tinha sido introduzido por um papa, em 1582.

A festa Silvesterklaus, celebrada no município de Urnäsch para marcar a entrada do novo ano ainda é realizada no dia 13 de janeiro, que é a data do ano novo no calendário juliano.


O Appenzell tem orgulho de suas tradições e folclore únicos, que incluem vários tipos de música e trajes típicos surpreendentes para homens e mulheres.

Os habitantes do Appenzell também têm a fama ser inteligentes e ter senso de humor.

O Appenzell celebra 500 anos de adesão à Confederação Suíça no dia 17 de dezembro de 2013.


O cantão foi o último dos 13 membros originais da Confederação, que permaneceu inalterada de 1513 até a invasão francesa de 1798.


Por questões religiosas, o cantão foi dividido em dois semicantões em 1597 – Appenzell Interior (AI) e Appenzell Exterior (AR). O Appenzell Interior foi formado pelas áreas que preferiram permanecer católicas, enquanto as áreas que aderiram à Reforma protestante formaram o Appenzell Exterior.


A divisão foi supervisionada pelos outros membros da Confederação Suíça e ocorreu pacificamente.


Appenzell Interior e Appenzell Exterior são dois dos seis semicantões existentes na Suíça. Os outros são Obwalden e Nidwalden, e Basileia-Cidade e Basileia-Campo. Os semicantões enviam apenas um representante para o senado suíço. Os cantões inteiros são representados por dois senadores por cantão.


A capital do Appenzell Interior é o município de Appenzell, e a do Appenzell Exterior é Herisau.


O Appenzell Interior tem a menor população cantonal registrada na Suíça: apenas 15.500 habitantes. O Appenzell Exterior é maior e registrou uma população de 53.660 habitantes em dezembro de 2012. O Appenzell Interior é o segundo menor semicantão em área, perdendo apenas para Basileia-Cidade. O Appenzell Exterior é o quarto menor. O Appenzell Interior tem enclaves totalmente rodeados pelo Appenzell Exterior.

A paisagem é basicamente montanhosa. Mas o Appenzell Exterior tem áreas alpinas cujo pico mais alto é o Säntis, com 2.592 metros.

Adaptação: Fabiana Macchi

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