As pioneiras de Unterbäch
As primeiras muheres que exerceram o direito de voto na Suíça não foram as de Zurique nem as de Genebra, mas de Unterbäch, um vilarejo no estado do Valais (sudoeste).
Isso ocorreu dia 03 de março de 1957, por uma única ocasião, contra a opinião do estado (cantão), do governo federal e de muitos habitantes.
“Havia jornalistas e câmeras de televisão por todo lado, lembra-se uma mulher que hoje é idosa. Eu estava grávida e para mim toda essa agitação era demasiada e não fui votar”. As irmãs dessa habitante de Unterbäch não perderam o primeiro sufrágio acessível às mulheres em toda a Suíça.
O local de votação era uma pequena casa no meio do vilarejo, onde hoje está instalada a pequena queijaria “Milchhitte”. “Votamos no primeiro andar”, explica Rosa Weissen.
Rosa Weissen é a primeira prefeita da comuna de 440 habitantes que foi, 52 anos atrás, o centro das atenções internacionais. Até o New York Times abordou o voto histórico.
Esperar o pôr do sol
A votação era sobre um serviço civil obrigatório para as mulheres. Como elas ainda não tinham o direito de voto no plano federal, não podiam se pronunciar.
Em Unterbäch, essa situação chocava particularmente um homem. Paul Zenhäusern, prefeito, não hesitou muito tempo: com seus colegas do conselho municipal (Executivo), ele decidiu autorizar as mulheres a se exprimir sobre um assunto de seu interesse.
Tratava-se de um direito de voto pontual, válido apenas para esse escrutínio. Mesmo assim, o governo federal era contra.
Das 86 cidadãs da comuna, 33 compareceram para votar, à noite, depois do pôr do sol, para evitar injúrias de certos cidadãos mais conservadores. Esses votos nunca foram contados.
Desde então, Unterbäch é batizada “o Grütli da mulher suíça”, referindo-se à colina em que, segundo a lenda, a Suíça teria sido fundada. Diante da prefeitura do povoado, há uma escultura comemorativa do evento.
Gravado nas memórias
“Todas as crianças de Unterbäch sabem o significado desse acontecimento histórico”, explica Rosa Weissen, membro do Partido do Progresso de Unterbäch. Ainda hoje são conhecidos os nomes das mulheres que ousaram votar no dia 3 de março de 1957.
Todas eram filiadas ao Partido Cristão-Social. A mãe de Rosa Weissen era uma delas.
O nome da primeira votante também está em todas as memórias. Katharina Zenhäusern, esposa do prefeito da época, também parente de Rosa Weissen. Hoje com 90 anos, ela se lembra dos acontecimentos.
“Não são coisas que a gente esquece facilmente”, sorri. Mesmo sem ser política ou defensora dos direitos das mulheres, sou orgulhosa de que as mulheres tenham ido tão longe.”
Muito barulho
“Nunca pensei que suscitaríamos tanto interesse”, continua. “Era algo totalmente novo. Até lá, as mulheres só podiam estar na cozinha. Certos homens ficaram decepcionados e houve mulheres que se opunham ao voto feminino.”
Katharina Zenhäusern é particularmente orgulhosa de seu marido, já falecido, que era um fervoroso defensor do direito das mulheres, enquanto outros homens talvez tivessem medo de perder o poder.
Germaine Zenhäusern, filha mais velha do casal, tinha seis anos em 1957. “Eu sentia que algo de especial estava se passando e que mamãe fazia alguma coisa de particular. Mas eu tinha medo, porque havia muito barulho em volta.”
Mas “como sempre acontece no Valais, depois da explosão, tudo voltou à calma”, acrescenta Germaine Zenhäusern. Tão calmo que foi preciso esperar até 1971 para que a Suíça outorgasse o direito de voto às suas cidadãs.
Germaine Zenhäusern tinha então 20 anos. Sem entrar em política, ela continua a lutar elas questões femininas. “Como meu pai”, afirma orgulhosa a mãe.
Mulheres fortes
Zenhäusern está feliz pelo fato de o Valais ter eleito, enfim, uma mulher para o governo estadual. Orgulha-se também de sua prima distante, Rosa Weissen, prefeita de Unterbäch.
“Já tivemos uma mulher no conselho municipal 16 anos atrás. Era especial. Hoje parece evidente.” Mas o voto do 3 de março de 1957 deixou marcas. “O vilarejo sempre teve mulheres fortes, donas de restaurentes ou chefes do correio”, sublinha Rosa Weissen.
Gaby Ochsenbein, Unterbäch, swissinfo.ch
(Adaptação: Claudinê Gonçalves)
Situado no Alto Valais (parte do estado de língua alemã), Unterbäch fica a 1.200 m de altitude e tem atualmente 440 habitantes.
O conselho municipal (Executivo) é integrado por duas mulheres e três homens. A presidente (prefeita), Rosa Weissen, é a primeira mulher a ocupar essa função.
Em 1957, o vilarejo foi o pioneiro na Suíça a autorizar as mulheres a votar, contra a opinião do estado (cantão) e do governo federal. Foi uma autorização única para decidir sobre o serviço civil feminino; 33 mulheres votaram.
Elisabeth Kopp, primeira mulher eleita como ministra na Suíça, é cidadã de honra de Unterbäch.
1° de fevereiro de 1959 :
Os eleitores suíços rejeitam o direito de voto das mulheres por 67%. Nos pequenos estados da Suíça Central e Oriental, a proporção de “não” foi 80% em média e chegou a 95% em Appenzel Interior. Só três estados de língua francesa aceitaram: Vaud (51%), Genebra (60%) e Neuchâtel (52%).
7 de fevereiro de 1971: os homens suíços habilitados a votar aprovam o direito de voto e de elegibilidade das mulheres. 15 estados aceitam e 6 recusam. A Suíça é, então, um dos últimos países da Europa ocidental a adotar o sufrágio feminino, mas o primeiro a fazê-lo através de uma consulta popular.
Foi preciso esperar até 1990
para que todos os estados (cantões) adotem o novo direito, depois de um veredicto do Supremo Tribunal Federal contra Appenzell Interior.
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