Ativista brasileiro recebe “Prêmio Norte-Sul”
O ativista brasileiro Franklin Frederick recebeu o "Prêmio Norte-Sul contra o Esquecimento" por sua luta internacional contra a privatização da água.
O prêmio no valor de 20 mil francos foi entregue no domingo (21/6) pela Casa Romero e a Sociedade Missionária Bethlehem, em Lucerna, no centro da Suíça.
Frederick foi distinguido entre 30 candidatos por seu “trabalho de formação de um movimento internacional de proteção à água como bem público”, conforme a justificativa do júri.
“A vida precisa de água e a água precisa de gente corajosa como Franklin Frederick”, disse a bioquímica e especialista nesse assunto Joan S. Davis, em sua saudação ao premiado.
Frederick Franklin tornou-se conhecido na Suíça por liderar um movimento contra a privatização de fontes, por exemplo, na região de São Lourenço (Minas Gerais) contra projetos da multinacional Nestlé, que pretendia explorá-las para a produção da água “Pure Life”.
Apoio suíço
Esse movimento recebe apoio de várias organizações, como a Conferência dos Bispos Suíços (CBS), a Federação das Igrejas Protestantes da Suíça (FIPS) e a seção francesa da organização antiglobalização Attac, que enviaram mensagens de felicitações ao premiado. A Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB) foi representada pelo bispo Tomás Balduíno, fundador da Comissão Pastoral da Terra.
A CBS destacou em uma carta que, “com seu kwow-how e empenho, Frederick fomentou a conscientização na Suíça e no Brasil pelo direito humano à água”. Nesse sentido, ele teria tido participação decisiva na elaboração da “Declaração Ecumênica sobre a Água como Direito Humano e Bem Público”, assinada em 2005 pela CBS e a CNBB.
“O prêmio manifesta o apoio de vários setores da sociedade suíça e das igrejas a esse trabalho em defesa da água como direito humano e bem público”, disse Frederick à swissinfo.ch. Ele disse que é “preocupante” o fato de o governo brasileiro ter se posicionado contra esse direito humano no Fórum Mundial da Água em Istambul, em março passado.
“O governo alegou que declarar a água como direito humano permitiria a outros países exigir acesso à água no Brasil. Mas na verdade isso significa que estamos no caminho da privatização da água”, disse o ativista.
Desafio
Frederick lamentou durante a entrega do prêmio que não tenha conseguido até agora conversar com os responsáveis pelo setor de água da Nestlé. “A Nestlé quer impedir que a problemática da água seja internacionalizada”, disse.
Anne-Marie Holenstein, especialista em cooperação ao desenvolvimento e integrante do júri, disse que a premiação de Franklin Frederick significa também “um desafio para as pessoas na Suíça”.
“Nosso país é um castelo seguro de água, pelo qual nós somos responsáveis, mas também é sede de poderosos interesses econômicos, cujas posições em relação a esse bem público devemos discutir”, disse.
Geraldo Hoffmann, swissinfo.ch
O “Prêmio Norte-Sul” é concedido pela Casa Romero e a Sociedade Missionária Bethlehem (Belém) a cada dois anos desde 2002.
Já foram distinguidos anteriormente os projetos “Bicicletas para África”, da Suíça e de Burkina Faso, a ONG de defesa dos direitos humanos “Vida, Justiça e Paz” da Colômbia e a iniciativa “Mulheres de Krajiska” de assistência a idosos e formação de mulheres solteiras na Bósnia e Herzegowina.
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