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Conselho da Europa aprova relatório sobre tráfico de órgãos

Fotos em Pristina retratam pessoas desaparecidas desde o conflito de 1998-1999 no Kosovo Keystone

Os membros do Conselho da Europa aprovaram o relatório sobre tráfico de órgãos realizado no Kosovo, apresentado pelo senador suíço Dick Marty.

Além de aprovar o relatório do senador suíço, na terça-feira em Estrasburgo, o Conselho aprovou uma resolução que apela as autoridades da Albânia e do Kosovo a investigar as acusações de tráfico de órgãos na região.














Revelado em dezembro, o relatório de Dick Marty acusa membros do alto escalão do Exército de Liberação do Kosovo (ELK) do assassinato de prisioneiros sérvios e albaneses do Kosovo e da venda de seus órgãos. O premiê do país, Hashim Thaci está entre os principais acusados.

Os membros do Conselho elogiaram Marty por sua coragem, bem como pelo “excelente e difícil” trabalho. Eles pediram uma ação imediata para determinar se as alegações são de fato verdadeiras – independentemente de opiniões políticas – e exigiram uma investigação séria.

Segundo a resolução do Conselho, tanto a missão da União Europeia no Kosovo (Eulex), bem como as autoridades do Kosovo devem ser envolvidas nas investigações. 

Longo debate

No decorrer de um debate que durou várias horas na terça-feira, alguns membros do Conselho questionaram o fato do relatório ter sido revelado mais de uma década depois que os crimes haviam sido supostamente cometidos.

Outros expressaram dúvidas sobre a possibilidade da coleta de órgãos em condições obscuras e portanto difíceis. No entanto, a maioria dos membros apoiaram Marty e a resolução para investigar as acusações do relatório.

Como enfatizado por muitos, o relatório não foi dirigido contra o povo do Kosovo e não tem nada a ver com a independência do país. Na verdade, os membros do Conselho argumentaram que a descoberta da verdade era essencial para uma paz duradoura na região.

“Nós não estamos falando de guerra – não estamos falando sobre os danos colaterais. Nós não podemos defender os direitos humanos se não defendermos a política de direitos humanos. Vamos apoiar Marty porque ele foi corajoso o suficiente – mesmo que ele tivesse levado dez ou vinte anos – vamos apoiá-lo porque a verdade vai prevalecer”, declarou Liana Kanelli, representante da Grécia no Conselho, recebendo aplausos.

Mães e testemunhas

Dick Marty agradeceu o apoio e a confiança nele depositada e destacou o fato de que seu relatório havia sido levado muito a sério nos Estados Unidos.

Apesar de muito ter sido dito sobre o tráfico de órgãos, Marty assinalou que isso é apenas um aspecto das atividades criminosas realizadas pelos acusados.

Antes da votação, Marty falou sobre as testemunhas que arriscaram suas vidas para prestar informações, acrescentando que a ameaça às testemunhas é a pior forma de terrorismo contra a justiça.

“A justiça não pode mais ficar parada. Uma de suas mais importantes tarefas é a proteção das testemunhas”, declarou Marty a repórteres em uma coletiva de imprensa, após a sessão do Conselho. Ele disse ter conversado com várias testemunhas no Kosovo, prometendo-lhes total discrição.

“Essas pessoas correm um grande risco de vida, sem proteção eficiente das testemunhas”, disse, acrescentando que havia se recusado a revelar seus nomes para a Eulex.

Ele também falou sobre as mães que se reuniram em Belgrado e Pristina.

“Pediram-me para encontrar sinais de seus filhos. Não há distinção entre a mãe de um sérvio e a mãe de um kosovar – e é por causa da dor delas que nós devemos fazer algo”, disse Marty, ” 1800 a 1900 pessoas ainda estão desaparecidas”. 

 

Novas acusações

Também na terça-feira, o jornal britânico Guardian publicou novas denúncias contra Hashim Thaci, informando que o premiê do Kosovo havia sido identificado como um dos principais “peixes grandes” do crime organizado no Kosovo.

As declarações foram baseadas em documentos da Otan em mãos do jornal. Classificados de secretos, os documentos indicam que os EUA e outras potências ocidentais estavam cientes das atividades criminosas relacionadas ao governo do Kosovo.

Um porta-voz do governo no Kosovo rejeitou as acusações como sendo manipulações da agência de notícias sérvia.

O primeiro-ministro do Kosovo, Hashim Thaci, acusado por Dick Marty de liderar uma “organização mafiosa”, viveu na Suíça entre 1994 e 1998, e recebeu asilo político.

Estudou política e história da Europa do sudeste na Universidade de Zurique, e é considerado como o criador do Exército de Liberação do Kosovo, durante esse tempo.

Uma reportagem do jornal suíço SonntagsZeitung de 23 de janeiro disse que dois políticos do Kosovo, Azem Syla e Kadri Veseli, acusados de envolvimento no tráfico de órgãos, possuem autorizações de residência permanente na Suíça.

Syla, atualmente membro do parlamento do Kosovo, foi anteriormente ministro da Defesa do Kosovo.

Veseli foi chefe dos serviços secretos.

A Secretaria Federal de Migrações da Suíça abriu um inquérito para determinar se os dois kosovares correspondem aos critérios que lhes dão direito a essas autorizações.

(Com a colaboração de Andreas Keiser em Estrasburgo)

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