O grande dilema: máscara ou não máscara?
"Não", dizem o Governo suíço e a Organização Mundial de Saúde (OMS); "sim", dizem alguns governos europeus e alguns políticos suíços; "sim e não", dizem vários leitores da swissinfo.ch.
Desde 1 de abril, os clientes que entram nos supermercados da vizinha Áustria recebem uma máscara facial que devem usar obrigatoriamente; o plano é estender a medida a todas as lojas de alimentos e farmácias a partir de 6 de abril. Na República Checa e na Eslováquia é obrigatório o uso de máscara em público e, em muitas partes da Ásia Oriental, quase todos os habitantes usam uma máscara como padrão.
Embora a Suíça tenha um dos maiores números de casos de coronavírus por milhão de habitantes na Europa, as autoridades suíças não pensam muito sobre isso.
“Não está provado que a distribuição de máscaras ao público proteja as pessoas”, afirmou Daniel Koch, chefe do Departamento Federal de Saúde Pública (OFSP, nas iniciais em francês), numa conferência de imprensa realizada no dia 17 de Março.
Koch manifestou repetidamente a sua oposição ao uso generalizado de máscaras de proteção por parte da população. Numa entrevista à televisão pública suíça SRFLink externo em 27 de Março, afirmou que o uso de uma máscara poderia até dar às pessoas uma falsa sensação de segurança.
“É evidente que, usando uma máscara, você se sente mais protegido”. E isso provavelmente faz com que algumas pessoas prestem menos atenção a outras medidas de precaução – lavem menos as mãos, toquem mais na máscara e no rosto, não mantenham distância”, disse ele.
‘Desperdício de máscaras’
Nem todos estão satisfeitos com essa atitude. No dia 22 de Março, o sindicato Unia liderou um protesto Link externoem frente a uma filial de Genebra do Migros, uma das maiores cadeias de supermercados da Suíça, destacando o mal-estar de muitos funcionários que afirmaram ter sido impedidos pela empresa de usar máscaras ou luvas.
“Essas são as medidas recomendadas pelo Departamento Federal de Saúde Pública”, disse o porta-voz do Migros, Tristan Cerf, à televisão pública suíça de língua francesa RTSLink externo. “Pode parecer surpreendente não termos máscaras ou luvas, mas essas medidas não são eficazes”.
Os comentários de Koch refletem de fato a posição oficial suíçaLink externo: máscaras cirúrgicas ou respiratórias devem ser usadas apenas por pessoas que examinam ou cuidam de pessoas que deram positivo no teste Covid-19, assimk como aquelas que apresentam sintomas ou que estão em um grupo de risco.
A OFSP diz explicitamenteLink externo que “pessoas saudáveis não devem usar máscaras de higiene (máscaras cirúrgicas) em público”. Se você estiver de boa saúde, elas não o protegem eficazmente de infecções com vírus respiratórios”.
Tal posição está em sintonia com a da OMSLink externo (Organização Mundial de Saúde), que sublinha que “se você não está doente ou a cuidar de alguém que está doente, estará na verdade desperdiçando uma máscara”. A OMS também oferece mais conselhos sobre quando e como utilizar as máscarasLink externo.
‘Mentira inofensiva’
No entanto, vários políticos suíços de todo o espectro político acham que o governo está errado.
“Se houvesse máscaras suficientes, faria sentido tornar temporariamente obrigatório o uso de uma máscara – por exemplo, quando se vai às compras ou se utiliza transportes públicos”, disse Bastien Girod, do Partido Verde de esquerda.
Girod acusa o OFSP de não ser suficientemente transparente na sua comunicação. “Como as máscaras são escassas, o Gabinete de Saúde está informando as pessoas estrategicamente. Se as máscaras não servissem, o pessoal hospitalar não as utilizaria”.
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Suíços divididos sobre a resposta do governo ao coronavírus
Verena Herzog, do Partido Popular Suíço de direita, disse que era “incompreensível” que o Departamento de Saúde questionasse repetidamente a eficácia das máscaras de higiene.
“É uma típica ‘mentira branca’ (white lie, expressão em inglês, expressão que designa uma mentira supostamente inofensiva), porque as reservas obrigatórias não estão supridas”, disse ela. “As máscaras de higiene retêm os vírus e são logicamente uma grande ajuda, mesmo que não haja uma proteção a 100%”, afirmou.
O próprio OFSP explicaLink externo que um dos meios de transmissão do novo coronavírus é a infecção por gotículas. “Se uma pessoa espirrar ou tossir, o vírus pode ser transportado diretamente para as mucosas do nariz, boca ou olhos de outras pessoas”.
Koch admitiu que o governo não tem máscaras suficientes para impor o seu uso obrigatório ao estilo da Eslováquia, mas insiste que a Suíça tem o suficiente para os profissionais de saúde. “O Governo tem cerca de 17 milhões e mais estão sempre a ser adquiridas”, disse ele à SRF. “Mas precisamos atualmente de cerca de dois milhões por dia”.
Andreas Glarner, do Partido Popular, disse estar ciente de que usar uma máscara não era uma proteção confiável contra o Covid-19, “mas se todas as pessoas possivelmente infectadas tivessem que usar uma máscara desde o início, certamente poderíamos ter evitado algumas infecções”. O deputado disse que se houvesse máscaras suficientes, esta teria sido a estratégia do governo.
Reações mistas
Muitos – mas certamente não todos – os leitores swissinfo.ch concordam com Glarner. “Simplesmente tolice e má gestão para não impor o uso de máscaras nestes tempos de alto risco, isso abrandaria muito a taxa de infecção”, disse o leitor RR.
Usar uma máscara “não é mais do que uma tentativa de demonstrar virtude. Se você já está infectado e está usando-a para proteger os outros, então você deve estar isolado. As máscaras são concebidas para proteger os outros dos seus germes e não o contrário”, disse a leitora Suze.
“Considerando a escassez de máscaras, vamos ser claros. Isto deve-se à falta de antecipação e de prevenção das autoridades governamentais. As pessoas que as usam são apenas razoáveis e socialmente responsáveis”, disse Suze.
“É bastante egoísta que pessoas saudáveis as tirem de pessoas que realmente precisam delas”, contra-argumentou Sam.
“Koch sabe que [usar uma máscara] funciona, mas não o admite enquanto não tivermos máscaras suficientes para andar por aí e, por isso, estamos a ser enganados quanto aos motivos pelos quais não ajudam”, concluiu Huttuman.
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