Criação intensiva continua permitida na Suíça
Os cidadãos suíços rejeitaram no domingo a iniciativa contra a criação intensiva, que procurava consagrar a proteção da dignidade animal na constituição suíça. A maioria dos cidadãos considerou que a legislação atual já era suficientemente rigorosa.
Os resultados da votação deste domingo confirmaram a tendência das pesquisas recentes: os suíços rejeitaram a iniciativa de proibir a criação intensiva de animais em quase 65%. A maioria dos cantões também a rejeitou. É necessária uma dupla maioria do povo e dos cantões, por isso a iniciativa foi rejeitada.
Em contraste com os outros itens da votação, este não causou o tradicional Röstigraben (a clivagem entre a Suíça de língua alemã e a de língua francesa): a grande maioria das regiões votou não, seja na parte de língua francesa da Suíça, na parte de língua alemã ou no Ticino, a Suíça italiana. Só o cantão da Basileia-Cidade aceitou a iniciativa contra a criação intensiva com 55,2%. A divisão urbano-rural, que é habitual em projetos de política agrícola, foi sentida, mas em menor grau do que em votações anteriores, de acordo com as pesquisas realizadas antes da votação.
A porposta, apoiada por organizações de direitos animais e antiespecistas, queria consagrar na Constituição suíça a proteção da dignidade dos animais e uma proibição da criação intensiva. Pretendia-se também que dentro de 25 anos os requisitos de bem-estar dos animais de corte deveriam, no mínimo, atingir os padrões de 2018 do selo Bio Suisse. Esses critérios também se aplicariam às importações de animais e produtos de origem animal.
Uma das leis mais rigorosas
O principal argumento que tocou o público foi a severidade da Lei Federal de Proteção aos Animais, uma das mais rígidas do mundo.
A lei estipula que qualquer pessoa que cuide de animais deve levar em conta suas necessidades, garantir seu bem-estar e não prejudicar sua dignidade. Estabelece dimensões mínimas para o espaço de vida dos animais e também regula o treinamento dos criadores, as condições de alimentação e transporte.
Daniel Würgler é um avicultor na região da Broye. Ele militou pelo “não” na Suíça francófona durante a campanha, e ficou aliviado por o público ter confiança no trabalho dos agricultores e criadores. “O bem-estar animal é uma questão emocional. Todas as pessoas que votaram “sim” hoje podem comprar nossos produtos orgânicos ou de livre produção para que possamos continuar a desenvolver nossa produção, mesmo que ela já seja particularmente respeitosa”, disse ele à televisão pública RTS.
Medo do aumento dos custos
Durante a campanha, os adversários do projeto advertiram que os custos subiriam e seriam repassados aos consumidores. Eles temiam que isto encorajasse ainda mais o turismo de compras e a importação de carne e ovos do exterior.
Nos últimos meses, a maioria dos agricultores e criadores, apoiados pelo Sindicato dos Agricultores Suíços, lutaram contra o que vêem como um ataque injusto contra eles em nome da realização de um objetivo social mais amplo de redução do consumo de carne.
Para o sindicato, os criadores de animais de corte estão simplesmente respondendo à demanda pública por carne, que na Suíça é relativamente estável em torno de 50 kg por pessoa por ano.
Um debate ambiental subjacente
Embora a ética e o bem-estar animal fossem o objetivo declarado da iniciativa, o meio ambiente nunca esteve longe do debate. Após um verão de seca, os defensores viram a reforma como uma forma de adaptar a agricultura suíça à luta global contra a mudança climática, o que exige uma redução no consumo de carne e a realocação de terras para produzir mais vegetais e menos ração animal.
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A presidente da Fundação Franz Weber, Vera Weber, apoiadora da iniciativa, já considera uma vitória que “toda a Suíça tenha discutido o problema da criação intensiva e do nosso consumo de carne”.
Para o Deputado Federal Samuel Bendahan (PS), o resultado da iniciativa é um sinal de que “as pessoas estão divididas. Elas estão preocupadas com o bem-estar animal. Ao mesmo tempo, também temos uma grande simpatia por este mundo agrícola”.
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Adaptação: Fernando Hirschy
Adaptação: Fernando Hirschy
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