Croácia é terra de belezas e de feridas
A Croácia entra na União Europeia dia 1° de julho. Com suas belezas naturais, suas riquezas culturais e suas feridas mal cicatrizadas, vinte anos depois da guerra. Relato de uma viagem de sete dias e 1.000 km de uma ponta a ponta do país, dos esplendores de Dubrovnik às fissuras de Vukovar.
Quem procura o paraíso na Terra deve vir a Dubrovnik, escreve em 1929 George Bernard Shaw. Entre os verdes e os turquesas da costa da Dalmácia, esse paraíso é, antes de tudo, de pedra. Extraída, moldada, reunida pelo homem durante séculos. Pedra talhada em toda sua sobriedade, em toda sua força, nas fachadas das igrejas e dos palácios e nas estátuas góticas e barrocas.
“Sem o turismo, aqui não somos nada”, afirma Pero, que aluga carros no aeroporto. “No inverno, temos três voos por dia, todos domésticos, enquanto no verão, pode chegar a 50, 60, de toda a Europa”. A todos os visitantes, Dubrovnik não tem apenas seus esplendores. A cidade não se esquece que sofreu durante a guerra de independência que opôs, de 1991 a 1995, a Croácia ao que restava então da grande Iugoslávia.
Desde a primeira parada do passeio dos baluartes, o áudio-guia lembra “a agressão bárbara servo-montenegrina”. A mensagem será repetida várias vezes. Em todas as entradas da cidade, um mapa detalhado mostra cada impacto de bomba, cada incêndio, cada teto destruído, sem esquecer os 114 mártires em uma galeria de retratos.
De Dubrovnik, ao extremo-sul do país, a costa de 1165 ilhas. Novo choque de beleza! Aqui a natureza ainda é quase virgem do concreto hoteleiro que os investidores russos castigaram no Montenegro vizinho. O turista se hospeda geralmente na casa dos moradores.
“Nós tivemos sorte de não ter dinheiro”, afirma ironicamente Zeljko Jembrih, engenheiro que trabalha para a cooperação suíça. Mais diplomaticamente, o embaixador da Suíça em Zagreb, Denis Knobel, observa que “a guerra atrasou o desenvolvimento do turismo”. Pero, por sua vez, espera que a entrada na UE vá atrair investidores, criar empregos e talvez até melhores salários. Atualmente ele ganha 700 euros por mês.
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Bombardeio e assédio de Dubrovnik
Cidades mártires
Knin fica ao pé das montanhas, na estrada que vai para a Bósnia. Antes da guerra, a maioria aqui era sérvia. Knin, antiga cidade real croata, foi capital da efêmera República de Krajina. Depois da reconquista dos sérvios, nem todos que tinham fugido retornaram, substituídos pelos croatas da Bósnia. A guerra expulsa as populações dos dois lados e quando as armas calam e que a fronteira se fixa, muitos evitam retornar perto dos inimigos de ontem. Nessas condições, não é fácil redistribuir as residências.
Na cidade, o ambiente é moroso. Marija, a jovem garçonete do bar na avenida da estação esburacada por trabalhos de encanamento, tem apenas uma palavra para dizer o que espera da UE: “Nada”. E os investimentos? “Sabemos em que bolso eles vão”. Será que ela sabe que perto do terraço do bar, uma casa nova no meio de outras quase caindo foi construída com fundos suíços?
A DDC, agência pública de cooperação ao desenvolvimento, gastou 24 milhões de francos nessa região depois da guerra. Reconstruiu casas, fez canais de irrigação, apoiou cooperativas agrícolas e comprou ambulâncias. Mas Zeljko, que agora tem um escritório de consultoria em Zagreb, se questiona se certas prioridades eram corretas. “Deveríamos ter reconstruído primeiro as fábricas. Apesar de tudo, as pessoas tinham moradia. Teria sido melhor criar empregos antes de dar um novo teto”. É que aqui parece que não há futuro.
Outra estrada. Da costa, ela atravessa modestas montanhas para chegar na vasta planície da Eslavônia. No final dessa estrada está Vukovar, porto sobre o Danúbio que marca a fronteira com a Sérvia. Vukovar que sofreu no verão de 1991, quatro anos antes de Srebrenica, os piores horrores cometidos em solo europeus desde 1939-1945.
Hoje, vê-se que o dinheiro da reconstrução jorrou. Os monumentos estão como novos, embora as fachadas coloridas não escondam as feridas. A balsa que liga as duas margens do Danúbio só funcionou uma vez, em novembro de 2010, para o presidente sérvio Boris Tadic, que veio pedir desculpas por seu país pelos crimes cometidos vinte anos mais cedo.
Superfície: 56.542 km2 (Suíça: 41.285)
População: 4,4 millions (Suíça: 8 millions), Croatas e católicos à 87%. Entre 1,5 et 2 milhões de Croatas vivem no estrangeiro, principalmente na Europa (450.000 na Alemanha, 40.000 na Suíça).
Política: Desde janeiro de 2010, o presidente croata é o social-democrata Ivo Josipovic. As eleições legislativas de dezembro de 2011 foram vencidas pela Aliança para a Mudança, coalisão de centro-esquerda (80 cadeiras em 151). O HDZ (nacionalista e deomocrata-cristão), que havia dominado o país praticamente sem interrupção desde a independência ficou, com sua coalisão, com 47 cadeiras.
PIB/habitante: (2010) 13.720 dólares (UE, 34.000, Suíça, 67.245). Estima-se que 20% da população vivem abaixo do nível de pobreza.
Desemprego: 15,8% (2012, taxa oficial, mas a imprensa fala em mais de 20%)
Conjuntura: Há cinco anos que a Croácia está em recessão(-6% en 2009). O crescimento foi nulo em 2010 e novamente negativo em 2012 (-0,5%). A previsão para 2013 é de um modesto +1%. No entanto, o país é segundo o mais avançado economicamente dos Bálcãs, depois de Eslovênia.
Euroceticismo: 66% dos croatas votaram pela UE em 22 de janeiro de 2012. Nas primeiras eleições de 12 deputados croatas para o Parlamento Europeu, apenas 20% dos eleitores votaram. No final de março, uma sondagem indicava que os croatas otimistas com a adesão eram apenas 45%.
Economia em ruínas
Em torno de Vukovar, as cicatrizes são ainda mais visíveis. Sítios e fábricas em ruínas, pastos abandonados e vilarejos com raros habitantes. A Eslavônia, que foi o celeiro agrícola da Iugoslávia, vive hoje abaixo do nível médio de vida da Croácia. “Um desperdício”, suspira Zeljko Jembrih. “A Eslavônia está quase morta, os agricultores envelhecem, os jovens partem, quando se poderia produzir para alimentar cinco vezes o país. O problema é que há poderosos lobbys de importação-exportação, que compram produtos locais e vendem mais caro na UE.”
E com a adesão? “Vamos perder ainda mais”, responde o engenheiro, que votou contra a adesão em 2012. “A UE nos chantageia. Veja os húngaros, eles se tornaram escravos. E a Bulgária produzia excelentes frutas e agora deve importá-las.”
Menos pessimista, o embaixador Knobel reconhece que a economia croata, que perdeu com a independência o mercado interno iugoslavo, “resta vulnerável aos choques externos. O país fez reformas estruturais e deve rapidamente aumentar sua competitividade. O governo espera uma retomada do crescimento em 2014 graças aos recursos de ajuda à coesão da UE (dos quais a Suíça deve participar).”
“Se os lucros dos investimentos vão para o estrangeiro, para que servem?, questiona Zeljko. Ele também prevê que a abertura das fronteiras provocará a partida dos croatas mais qualificados. Ele não é candidato nem seu colega Igor Sustic. “Não somos otimistas, mas temos trabalho”, afirmam ambos.
Mais gente pensa do mesmo jeito. Que se chamem Nevenka, Zdravko, Ana, Roman, Bojka ou Branko, eu não encontrei em sete dias uma garçonete, estudante, vendedor ou recepcionista que sonha com um eldorado europeu ou helvético. Os jovens, que são eurocéticos ou francamente hostis à UE, são primeiro croatas. E os croatas amam seu país.
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Veja onde fica a Croácia
Relações econômicas: O volume de trocas, modesto e em baixa, é de quase 300 milhões de francos em 2011. A Suíça exporta principalmente produtos farmacêuticos e máquinas e importa máquinas e produtos à base de madeira.
Ajuda à coesão : O governo suíço vai propor ao Parlamento uma contribuição de 45 milhões de francos, montante proporcional ao atribuído aos doze novos membros que entraram na UE desde 2004.
Imigração: Cerca de 40.000 croatas vivem na Suíça, onde geralmente estão bem integrados. Mais de 1.300 suíços vivem na Croácia. Muitos são homens que têm esposas croatas.
Sem invasão em vista: Segundo o embaixador Denis Knobel, “a maioria dos especialistas não esperam grandes vagas de emigração croata depois da adesão”, mesmo se existe “uma disponibilidade latente na população, sobretudo entre os jovens” e que “a diáspora croata poderia tem um certo papel nesse sentido, mesmo que, recentemente, tem mais croatas que deixam a Suíça do que novos imigrantes.”
Prudência: A livre circulação com a Suíça, não membro da UE, não é automática. Ela é parte dos acordos bilaterais, que devem ser adaptados a cada nova adesão. Com relação à Croácia, o SVP (Partido do Povo Suíço) e os meios nacionalistas, que haviam lançado um referendo contra a extensão à Romênia e Bulgária (finalmente aceita por quase 60% dos votantes) já ameaçaram fazer o mesmo com a Croácia.
“A Croácia teve as negociações mais duras impostas até aqui a um país candidato. Mais de 6 anos, lembra o embaixador da Suíça em Zagreb.
A Comissão Europeia (CE) acrescentou capítulos como justiça, Estado de direito e luta contra a corrupção. Foi nessas áreas que o país mais progrediu. Uma geração de políticos e toda uma série de dirigentes econômicos estão presos. Isso é apenas a ponta do iceberg e restam problemas básicos da economia, mas o processo, segundo a CE, é “irreversível”.
A CE nota em seu Relatório Final de Controle sobre a Croácia (outubro de 2012), que o contexto jurídico foi adotado e que “os órgãos encarregados de aplicar a lei restam proativos, especialmente nos casos de alto nível”.
O homem comum espera uma aplicação mais estrita das leis do país, já amplamente baseadas do direito europeu. “Temos excelentes leis, mas elas não são aplicadas”, é o que se houve frequentemente quando o assunto é abordado.
No Índice de percepção da corrupção 2012 estabelecido pela Transparência Internacional, a Croácia é o 62° país menos corrupto (sobre 174), com um índice de 46 (a escala vai de 0 a 100 para os melhores). É pior que a vizinha Eslovênia (37°, índice 61), mas melhor do que outros países da ex-Iugoslávia e melhor do outro vizinho, a Itália, principal parceiro comercial da Croácia (72°, índice 42).
Adaptação: Claudinê Gonçalves
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