Por que o sistema de governo suíço não está pronto para mudança (ainda)
A presidente do Partido Verde - o principal vencedor das eleições parlamentares de outubro - está tentando ganhar um assento no governo suíço. Será que a ambição de Regula Rytz conseguirá derrubar a tradicional composição político-partidária do executivo de sete membros?
As chances de Rytz de tirar um assento de um dos mandatários são pequenas, apesar de semanas de preparação para as eleições de hoje (quarta-feira) em ambas as câmaras do parlamento. A direita política e o centro argumentam que é demasiado cedo para os Verdes serem recompensados com um lugar em prejuízo do Partido Radical Liberal (PRL-FDP) de centro-direita.
Segundo um acordo celebrado há 60 anos entre os principais partidos políticos, o governo – também designado Conselho Federal – é composto por representantes dos quatro grupos mais fortes do Parlamento.
Em 1959, os quatro principais partidos políticos chegaram a um acordo sobre a divisão dos sete assentos do gabinete. Dois assentos cada para os radicais, os democratas-cristãos e os social-democratas. O Partido Popular (UDC/SVP) recebeu um assento.
Este sistema destinava-se a representar todos os principais partidos políticos de acordo com a sua parte de votos e obrigá-los a cooperar para o bem do país e do povo.
A “fórmula mágica” original permaneceu em vigor até 2003, quando o Partido Popular subiu ao topo. Como resultado das repetidas vitórias eleitorais, o partido de direita ganhou um segundo lugar à custa dos Democratas-Cristãos.
Especialistas discordam se o sistema político suíço chegou agora, em 2019, a outro momento decisivo, em que a fórmula precise de outra reforma. As propostas incluem a participação dos Verdes e/ou o aumento do número de ministros do governo.
Mas o cientista político Michael Hermann, do instituto de pesquisa SotomoLink externo, diz que é hora de adaptar a “fórmula mágica” informal que determina a composição do gabinete.
swissinfo.ch: Regula Rytz, presidente do Partido Verde, tem o direito de exigir um assento no governo multipartidário?
Michael Hermann: Absolutamente. Há razões perfeitamente boas para sua candidatura, seja o aumento da participação dos verdes na Câmara dos Deputados e no Senado. Até agora, os outros partidos dizem que os Verdes são apenas um grupo considerável na Câmara.
swissinfo.ch: Quem teria de abrir espaço para os Verdes no governo?
M.H.: A situação é muito embaraçosa para os dois partidos à direita do centro, ou seja, os Radicais e o Partido Popular Suíço. Eles estão muito aquém da maioria nas câmaras parlamentares, mas têm dois assentos cada um, ou seja, a maioria no gabinete de sete membros.
swissinfo.ch: Rytz tem como alvo um assento pertencente aos Radicais. Qual dos seus dois ministros está mais em risco?
M.H.: É claramente o Ministro das Relações Exteriores Ignazio Cassis. Sua colega de partido, Karin Keller-Sutter, é mais popular e parece ter uma posição forte no gabinete. No entanto, Cassis está, de alguma forma, protegido pelo seu estatuto de representante da minoria da região de língua italiana do país.
swissinfo.ch: Os Verdes têm direito a um assento no governo se valer o argumento de que a composição do gabinete deve refletir a vontade dos eleitores?
M.H.: Exato, se considerarmos apenas os resultados das eleições parlamentares de outubro. No entanto, a chamada “fórmula mágica” não é uma equação matemática rigorosa. Há outras coisas a se levar em conta.
swissinfo.ch: Como é que os jovens eleitores devem entender tal sistema? Afinal, eles apoiaram os Verdes e a sua política ambiental.
M.H.: Os Verdes e os partidos com preocupações ambientais terão uma posição forte no parlamento nos próximos quatro anos e estão com toda energia para fazer aprovar as suas exigências. Esta ambição colide com o pensamento tradicional de manter o poder.
A Suíça ainda tem um sistema político muito estável, mas que se tornou mais fluido. Muitos eleitores podem votar à direita neste momento por causa de uma questão específica, e apoiar a esquerda política ou os Verdes da próxima vez.
swissinfo.ch: Representantes dos partidos estabelecidos argumentam que a destituição de um ministro em exercício é contrária às tradições políticas suíças. Por que?
M.H.: Você deve ficar longe da política se tiver medo de ser destituído. Eu acho que uma posição do gabinete não deve ser definida pelos planos pessoais de carreira de alguém. Deve-se sempre considerar um fim abrupto e precoce.
Adapteado do original em alemão por Eduardo Simantob
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