Brasileiros na Suíça divididos para escolher o futuro presidente
Os imigrantes brasileiros residentes na Suíça retornaram às urnas no domingo (28 de outubro) para votar no 2º turno das eleições brasileira. Seja na fila das seções eleitorais no Consulado do Brasil em Zurique, ou na imprensa: a divisão entre os brasileiros é o verdadeiro ganhador do pleito.
No dia do 2º turno das eleições no Brasil, os brasileiros estão mais separados do que nunca. O que não passou despercebido pela imprensa suíça. Em sua edição de sábado, o jornal “Der Bund” publicou um contraponto de dois imigrantes brasileirosLink externo: duas pessoas de idéias divergentes se encontram para discutir sobre as posições políticas.
Uma vota no Jair Bolsonaro (PSL) e o outro, em Fernando Haddad (PT). No final da discussão, traduzida para o alemão, os dois não chegaram a um consenso. “Ele irá combater a criminalidade e melhorar a segurança pública”, defende a representante comercial Karyna Miranda. “Não posso votar em alguém que defende a ditadura militar como o Bolsonaro o faz”, retruca o assistente social Clovis Inocêncio.
Na manhã de domingo (28 de outubro), a reportagem da swissinfo.ch foi questionar imigrantes brasileiros que haviam votado no segundo turno das eleições presidenciais em uma seção instalada em uma escola próxima a estação ferroviária em Zurique. Questionados sobre quem votaram e por quê, os eleitores dividem-se também em dois blocos. Apesar da chuva e temperatura de 3 graus positivos, típica do outono suíços, muitos dos brasileiros debatem de modo acirrado sobre suas preferências políticas.
Um grupo de brasileiras trajando roupas com as cores da bandeira se encontram na saída da escola para discutir. “O Brasil não aguenta mais tanta corrupção e tanto crime”, declarou em voz alta Alenice Riehen, originaria de Manaus e vivendo há 15 anos na Suíça. Logo foi aplaudida pelas amigas. “Eu votei no Bolsonaro, pois nós somos contra o indulto do Lula. O queremos na prisão”, completou Anelise Knecht, nascida em São Paulo, capital, e residente há 17 anos em Berna, capital helvética.
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Você votou em que candidato e por quê?
Edméia Stiger votou e já corre apressada para a estação ferroviária para pegar o trem de volta à Lucerna, onde vive há vinte e três anos. Ela revela que foi difícil a escolha, mas que não poderia votar em outro candidato que não fosse o Fernando Haddad. “Eu acredito que ele possa continuar a apoiar a democracia que temos hoje no Brasil. Não sei se estou certa ou o outro lado também, mas o meu coração me diz que ele vai ajudar mais.”
Outro brasileiro não escondeu que preferiu se abster. “Vivo há dezessete anos na Suíça e acompanho pouco as notícias do Brasil. Para não votar errado, preferi cancelar o meu voto. Eu estou viajando muito e não acompanho mais a situação no Brasil”, justificou Cleiton Gonçalves, que reside em Wallisellen, no cantão de Zurique.
Na banca de jornal na estação de Zurique, a matéria de capa da edição de fim de semana do NZZ, o jornal mais importante do país, abordava a situação no Brasil. Com o título “Flerte com o autoritarismoLink externo“, a editorialista Nicole Anliker analisava a tendência política no país. “A raiva e o medo estão tão aprofundados, que muitos brasileiros veem no candidato ultradireitista Jair Bolsonaro uma chance de mudanças”, e completa. “Porém eles não levam em consideração o perigo que essa candidatura representa para a jovem democracia.”
A revista conservadora “WeltwocheLink externo” publicou na edição, que chegou às bancas logo após o 1º turno, uma entrevista com o Rodrigo Constantino. Nela, o escritor brasileiro, e presidente do Instituto LiberalLink externo, defende a candidatura de Bolsonaro. “Ele é um aventureiro. Porém acredito que é também um patriota e compreende o que é preciso fazer no Brasil para colocá-lo entre as nações mais desenvolvidas. Como dizia Thomas Sowell antes das eleições nos Estados Unidos: ‘Temos a escolha entre uma variante que pode fracassar terrivelmente – Trump – mas com uma grande probabilidade de dar certo, e uma variante, que significa a ruína certa.”
500 mil eleitores no exterior
No Brasil, 147.306.275 eleitores estão aptos a voar em 2018, em 5.570 municípios.
No mundo: 500.727 eleitores brasileiros votam para presidente e vice-presidente no exterior.
O eleitorado no exterior cresceu 41,38% em 2018. Em 2014, o total de eleitores fora do Brasil era de 354.184
171 cidades no exterior têm eleitores brasileiros registrados.
Na Suíça vivem 20.701 brasileiros (31 dezembro de 2017), porém estima-se que o número total seja 80 mil. Muitos se naturalizaram como suíços, em grande parte graças ao casamento com cidadãos da Suíça, e, portanto, não entram mais na estatísticas da população estrangeira.
A maioria dos brasileiros vive nos cantões de Zurique (4.175), Genebra (4.065) e Vaud (3.437).
Fonte: Tribunal Superior Eleitoral do Brasil (TSELink externo) e Departamento Federal de Estatísticas da Suíça (BFSLink externo)
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