Qual é a essência da liderança moderna?
Enquanto a Suíça se prepara para revelar seus dois mais novos conselheiros federais, perguntamos a leitores, especialistas e políticos que tipo de habilidades são necessárias para conduzir uma democracia moderna.
O que faz um líder? É uma questão de qualificação, conexão, temperamento ou simplesmente um feliz acaso político?
A Suíça vem ponderando a questão há alguns meses, enquanto se prepara para saber na quarta-feira os nomes dos dois conselheiros federais que substituirão Johann Schneider-Ammann e Doris Leuthard. Ambos declararam sua saída do corpo executivo em setembro.
Na nação alpina orientada pelo consenso, pelo menos alguns requisitos são mais prosaicos do que outros. Em primeiro lugar, para preservar a chamada “fórmula mágica” que garante o equilíbrio no Conselho Federal de sete membros, os dois novos ministros serão escolhidos dos mesmos grupos políticos de seus predecessores – os radicais liberais de centro-direita e os democratas-cristãos.
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Uma equação política baseada numa fórmula mágica
Depois, há a questão da origem. As diversas regiões linguísticas e culturais da Suíça tendem a se apegar aos ministros quando elegem um deles. Leuthard e Schneider-Ammann são ambos germanófonos, o que simplifica ainda mais as coisas. Assim como o processo de seleção, onde o parlamento decide com base nas recomendações partidárias.
Some-se a isso os crescentes apelos – tanto do público quanto da classe política – por mais representação feminina, bem como a ânsia por sangue jovem em um gabinete antigo, e o grupo de candidatos encolhe quase ao ponto da inevitabilidade.
A palavra é sua
E as qualificações e os atributos pessoais dos candidatos? Será que o país precisa de advogados no comando (segundo o modelo tradicional dos Estados Unidos) ou de líderes mais técnicos (como na China)? Mais cientistas ou magos da tecnologia para a era digital? Uma ajuda saudável da ética? Multilíngues (incluindo inglês)?
Quando colocamos essa questão para os seguidores de swissinfo.ch nas mídias sociais, as respostas variaram muito. Alguns leitores, fartos de um domínio perceptível de advogados e tipos políticos, pediram mais cientistas: “eles estão mais próximos da realidade”; “seria bom ter uma pessoa que entenda de problemas energéticos e ambientais, e que pudesse fornecer algumas soluções”.
Empresários, às vezes vistos como exemplo de solucionadores de problemas pragmáticos do “mundo real”, carentes no governo, foram alternadamente elogiados – “alguém que trabalhou pelo menos 10 anos no setor privado” – e depreciados – “definitivamente não seria um homem de negócios; não está funcionando tão bem nos Estados Unidos”.
A questão da idade (“pelo menos 45”), expertise em tecnologia (vivemos em um “ambiente totalmente novo”), e a competência para compreender e gerenciar dossiês complexos sem se atolar em detalhes também mereceu destaque. Um leitor sugeriu que Roger Federer se tornasse mais do que apenas um rei figurativo.
O caráter conta
Além do debate sobre qualificações, históricos e currículos, o simples atributo de possuir “senso comum” foi de longe a recomendação mais prevalente dos leitores. Uma pessoa chegou a contrastar isso diretamente com o status aparentemente indesejável de ter “muitos diplomas”.
O cientista político Claude Longchamp, do instituto de pesquisa gfs.bernLink externo, concorda com esse sentimento, embora chegue a uma conclusão ligeiramente diferente. Para o veterano analista, que viu a transformação do típico político suíço de “homem do povo” local para o líder mais multifacetado de hoje, as qualificações e a expertise vêm em segundo lugar frente à ética.
“Um conselheiro federal deveria representar a Suíça com grandeza”, argumenta. Ele ou ela, diz Longchamp, precisaria ser capaz de ir além da “mera” habilidade de administrar um dossiê para demonstrar a estatura e o carisma de um estadista, ou de uma mulher. O atual conselheiro federal Alain Berset tem essas qualidades; Karin Keller-Sutter, amplamente cotada para suceder a Schneider-Ammann, também tem.
Vinda de um cientista político – uma profissão que, muitas vezes, distingue as minúcias da vida pública em divisões racionalizadas e precisas –, essa análise pode parecer vaga. Afinal, não é possível quantificar o carisma. Mas esse é o ponto. A verdade intangível da liderança envolve partes iguais de persuasão, conhecimento, humildade e confiança, além do que é mensurável.
Isto também reflete particularidades suíças. Os conselheiros federais não são como ministros em outros países europeus, enfatiza Longchamp. Em outros lugares – como na França, por exemplo –, os ministros podem ser especialistas encarregados de dossiês específicos. Aqui, os departamentos federais são amplos amálgamas de assuntos adequados a generalistas de grande alcance.
Precisa-se de generalistas
Longchamp também observa como ponto importante a capacidade de superar afiliações específicas dos partidos para servir o bem comum (nacional), uma coisa na qual o atual presidente Alain Berset é novamente um exemplo positivo. Algo que é mais difícil para os políticos vindo de posições extremas no espectro político do que para os centristas tradicionais.
Lisa Mazzone, política de 30 anos afiliada ao Partido Verde de Genebra, era até recentemente o membro mais jovem da Câmara dos Representantes (no ano passado, foi destronada por Fabian Molina, de 28 anos).
Mazzone não está concorrendo ao Conselho Federal e particularmente diz que não gostaria de estar. No entanto, que “tipo” de político ela gostaria de ver sentado no corpo executivo?
A política de Genebra, que estudou literatura francesa e latina, evita colocar muita ênfase na qualificação técnica ou no histórico: “É mais importante ser um generalista”, diz ela. As principais habilidades, acredita, são a capacidade de entender um dossiê de forma rápida e eficaz, explicando-o a um público saturado de mídia sem simplificar demais os problemas.
Ela também faz eco a Longchamp e os nossos leitores, observando que o temperamento supera quase tudo. Mazzone cita “habilidades pessoais”, um verdadeiro “fundamento nos valores suíços” e o compromisso de “transcender as divisões partidárias” para agir no interesse da nação como as qualidades mais importantes de um líder.
Houve um aumento recente dos chamados “políticos profissionais” que atuam na política em tempo integral sem ter previamente estabelecido uma carreira em outro campo. Mazzone, que se encaixa tecnicamente nessa descrição, reluta em dizer se tais políticos são melhores ou menos adequados para a liderança, embora alguns críticos afirmem que eles estão divorciados da vida real dos cidadãos.
Ela admite que alguns de seus colegas talvez estejam mais interessados em “ser” políticos do que em “fazer” política, mas seus objetivos e motivações são claros.
“Entrei na política porque queria mudar a sociedade”, afirma.
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As seis regras de ouro que todo Conselheiro Federal deve saber
Adaptação: Renata Bitar
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