Eleitores decidem se Suíça compra caças Gripen
O desvio recente de um avião civil para Genebra evidenciou as carências da aviação militar suíça em sua missão quase única de polícia aérea. Foi um episódio pouco glorioso em plena campanha para a compra do caça Saab Gripen sueco, Mas que não encerrou o debate sobre a necessidade dessa aquisição controvertida.
Na noite do 16 de fevereiro, um voo de da companhia etíope de aviação com destino a Roma é desviado em pleno voo e toma a direção da Suíça. O avião foi escoltado por Eurofighter italianos e depois por Mirage 2000 francês que o acompanhar até pouso na pista do aeroporto de Genebra. Quanto às forças aéreas suíças, elas brilharam pela ausência. A justificativa é que os caças suíços não voam fora dos horário comercial.
Esse incidente – que felizmente terminou sem drama – provocou sarcasmos e bem além das fronteiras nacionais. Porém, o episódio não fez rir todo mundo, especialmente Denis Froidevaux, presidente da Sociedade Suíças de Oficiais (SSO). “Essa situação de Genebra poderia ter dado muito errado e ouso esperar que ela faça abrir os olhos dos responsáveis políticos” declarou ele à rádio suíça.
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E os F/A-18?
Diante da imprensa, o ministro da Defesa Ueli Maurer atribuiu essa incapacidade de intervir 24 horas por dia à falta de recursos. Mas o tiro deveria ser corrigido. Maurer lembrou a decisão tomada em 2010 –depois de uma intervenção parlamentar – de reforçar as forças aéreas para que possam ser operacionais o tempo todo. A proteção aérea deveria tornar-se permanente até 2020, prazo para recrutar e formar novos pilotos.
Mas o aumento de pessoal e de meios financeiros não seria suficiente. O ministro da Defesa aproveitou a ocasião para insistir que a compra de 22 novos aviões de combate Saab Gripen é indispensável para “melhorar duradouramente a capacidade de intervenção das Forças Aéreas”, também como polícia aérea, ainda mais que os 54 Tiger F-5 da força aérea estão em fim de carreira com desativação prevista para 2016. No final de março, na base aérea de Payerne, o ministro persistiu. “Sem novos aviões de combate, podem ocorrer abusos a partir de 2030 no espaço aéreo suíço”, afirmou.
Resta, no entanto, que a Suíça tem ainda uma frota de 32 F/A 18 em perfeito estado de funcionamento. Por isso, os que se opõem à compra de um novo avião consideram esse número amplamente suficiente para a missão de polícia aérea, a única missão, inclusive no futuro, da aeronáutica suíça, dado que os riscos de uma intervenção no estrangeiro ou de um ataque inimigo são extremamente fracos.
“Com esses F/A-18, para a tarefa de polícia aérea, temos um número bem superior de aviões comparado aos países vizinhos de tamanho comparável. Ainda recentemente, eles foram modernizados com as tecnologias mais recentes por várias centenas de milhões de francos. Não há necessidade de aviões de combate adicionais para um espaço aéreo que já é bem protegido”, indica, por exemplo, o site dos adversários de esquerda à compra do Gripen. Á direita, o deputado federal democrata-cristão Jacques Neirynck declarou no lançamento da campanha: “a polícia do céu é um objetivo vago, pretexto para justificar despesas injustificáveis.”
Então o Gripen é indispensável ou supérfluo? Para Alexandre Vautravers, redator-chefe da Revista Militar Suíça e professor na Webster Universidade de Genebra, é preciso relativizar o número de
de F/A-18.
“É claro que temos recursos que parecem importantes no papel”, declara ao swissinfo.ch. “Mas, para a força aérea, o problema essencial é o longo prazo. Tendo uma capacidade elevada, quer dizer aviões prontos para decolar, usa-se o capital em aviões, a manutenção sendo à altura da tecnicidade desses aparelhos. Os cálculos foram feitos e refeitos e percebemos que ao cabo de um certo número de dias, esse capital de 32 aviões funde como neve ao sol. Não podemos garantir missões de 24 horas para além de três semanas.”
Um 4X4 é preferível a um Ferrari
Além do número de aviões necessário, o tipo de avião também é motivo de debate. Mesmo entre os que defendem a compra de um novo avião de combate, a escolha do Saab Gripen não é vista com unanimidade. Bom número deles teria preferido comprar o Rafale francês ou o Eurofignhter europeu, considerados melhores.
A maioria do Parlamento suíço, porém, aceitou a escolha do governo pelo Gripen, especialmente em razão de seu custo menos elevado. Durante os debates, o grupo liberal-radical havia destacado que a Suíça comprava um avião correspondente às suas necessidades, “não um Ferrari, mas um 4X4 rápido.”
Esse ponto de vista é o mesmo dos especialistas em defesa. “O Gripen convém muito bem para a polícia aérea, porque é uma missão muito simples tecnicamente. A única coisa indispensável é a velocidade. Ora, tanto o Gripen como o Rafale ou o Eurofighter são bastante rápidos”, explica o francês Jean-Dominique Merchet, jornalista especializado em assuntos militares.
“Com o Gripen, vamos além das necessidades específicas da polícia aérea”, confirma Alexandre Vautravers. “O avião sueco permite também de antecipar as necessidades para os próximos 30 ou 40 anos. O que é importante atualmente é a precisão dos armamentos e a qualidade de contramedidas eletrônicas. Podemos portanto dizer que mesmo um avião mais modesto como o Gripen pode ser mantido ao nível tecnológico.”
A missão de polícia aérea compreende dois tipos de intervenção.
As “live missions” são missões de rotina. Trata-se simplesmente de controla aviões de Estados estrangeiros que atravessam a Suíça com um plano de voo diplomático. Os aviões de linha não são controlados, menos em caso de problema particular.
As “hot missions” são intervenções de urgência. Trata-se de controlar aviões com os quais o controle aéreo em solo não consegue estabelecer um contato rádio ou aparelhos que voam em espaço proibido ou a uma má altitude.
As Forças Aéreas Suíças fizeram 10 “hot missions” e 207 “live missions” em 2012, contra respectivamente 14 e 350 no ano anterior.
Obrigação de defender seu território
O desvio de Genebra mostrou que a colaboração internacional na proteção aérea funciona bem. A Suíça concluiu acordos com seus vizinhos que preveem um “direito de seguir” permitindo às suas forças aéreas de continuar um engajamento no espaço aéreo helvético. É com base nesses acordos que a aeronáutica francesa pode escoltar o Boeing etíope até seu pouso em Genebra.
A colaboração também é uma realidade na proteção de eventos internacional ou do Fórum Econômico Mundial de Davos. Mas a intervenção de aviões estrangeiros limita-se ao acompanhamento; está fora de questão que eles abatam um avião em território suíço em caso de problema.
Dada essa experiência, porque não ir mais longe e simplesmente confiar a missão de polícia aérea aos países vizinhos? “De fato, a Suíça poderia muito bem fazê-lo. Ela deveria pagar por isso, mas tecnicamente, mas tecnicamente a realizável. Aliás, existem casos na Europa. Por exemplo, a Itália executa essa missão para a Eslovênia e a OTAN para os países bálticos”, lembra Jean-Dominique Merchet.
“Tem seis países da UE que não fazer eles próprios sua segurança aérea; eles podem fazê-lo porque negociaram com seus parceiros”, prossegue Alexandre Vautravers. Mas a Suíça não é membro da UE nem da OTAN e tem, no plano internacional, a obrigação de defender seu território. Além disso, contratando os serviços de um país vizinho, não teríamos realmente meios de controlar esse serviço ou a maneira em ele será utilizado. Eu duvido que essa possibilidade possa obter apoio político interno na Suíça.
Adaptação: Claudinê Gonçalves
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