Encontros com Kapodístrias
A cidade de Lausanne acaba de nomear uma rua em homenagem ao fundador da República grega, o conde Ioánnis Kapodístrias. Por quê? Porque o conde salvou a cidade do domínio de seus Estados vizinhos quando ele estava a serviço da Rússia. O ex-embaixador suíço Lorenzo Amberg fala sobre seus encontros com Kapodístrias.
Celebrado como o pai da independência grega por ocasião dos 200 anos do início da guerra de libertação do país balcânico, o conde Jean Antoine de Capo d’Istria (Ioánnis Kapodístrias, em seu nome atual) havia sido outrora um grande diplomata da Rússia durante o reinado de Alexandre I. Um cargo que o levou a se envolver profundamente na promoção da soberania suíça. A Confederação Suíça deve-lhe sua primeira constituição, assim como o reconhecimento internacional de sua neutralidade e de suas fronteiras, que permanecem inalteradas até hoje. Ainda assim, ele continua sendo amplamente desconhecido neste país.
É verdade que os cantões de Genebra e de Vaud fizeram de Kapodístrias seu cidadão honorário, e que a Lausanne acaba de inaugurar a rua Ioannis-Kapodistrias, no bairro de Ouchy. Mas dificilmente alguém que tenha nascido e crescido em Berna, como eu, irá ouvir falar de Capo d’Istria nas aulas de história: na época, a poderosa Berna queria restaurar a ordem pré-napoleônica. Em 1814, os bernenses votaram contra o tratado federal, e sobretudo contra a independência do cantão de Vaud, que havia sido subordinado à Berna sob o Antigo Regime. Foi o embaixador Capo d’Istria quem rejeitou os desejos dos bernenses em nome de Alexandre I, um czar que havia sido instruído sobre o assunto por seu antigo tutor, o republicano Frédéric-César de la Harpe, natural de Vaud.
Eu descobri essa personagem histórica no início de meus estudos em Genebra, durante uma caminhada na cidade velha, a poucos passos da Catedral de São Pedro, onde uma placa comemora sua estadia entre 1822 e 1828.
Lorenzo AmbergLink externo estudou filologia eslava e alemã em Genebra, Leningrado e Paris. Após uma missão de três anos como tradutor na Embaixada Suíça de Moscou e um doutorado na Universidade de Zurique, Amberg entrou para o Ministério das Relações Exteriores, onde trabalhou em Berna, Belgrado, Nova Deli e Moscou. Foi embaixador da Suíça na Geórgia, na Armênia e – de 2010 a 2015 – na Grécia.
O grego havia renunciado ao seu cargo na Rússia para dedicar-se exclusivamente à libertação de seu país da dominação otomana. De seu apartamento na rua do Hôtel-de-Ville, ele teceu uma poderosa rede de contatos por toda a Europa. Estabeleceu também uma amizade com o banqueiro de Genebra Jean-Gabriel Eynard, que apoiou financeiramente a luta pela liberdade grega. Graças a Kapodístrias, Genebra tornou-se um dos centros do filelenismo (no século XIX, foi o movimento de apoio à independência da Grécia) na Europa.
O filelenismo por muito tempo inspirou Genebra:
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O Mediterrâneo, imortalizado por Frédéric Boissonnas
Um busto no jardim do Palais Eynard, que hoje abriga a administração da cidade, comemora a amizade dos dois homens, e qualquer um que caminhe ao longo do rio Arve pode ver o cais que leva o nome desse nativo da ilha de Corfu.
Mais tarde, durante o semestre que passei em Leningrado entre 1975 e 1976, como filólogo, tive a oportunidade de visitar os prédios da Universidade Estatal, que um dia abrigou o Ministério das Relações Exteriores do império czarista. Em São Petersburgo, capital do Império Russo na época, Capo d’Istria foi por um tempo o superior do jovem Pushkin no Ministério das Relações Exteriores. Ao publicar sua Ode à Liberdade, Pushkin foi condenado ao exílio na Sibéria em 1820. Mas o embaixador nascido na Grécia conseguiu convencer o czar a banir o poeta para o clima mais ameno da atual Moldávia.
Ao longo dos anos, meu conhecimento sobre Kapodístrias aumentou. Na verdade, como diplomata, sempre me interessei pelas personalidades que desempenharam um papel de liderança na história das nossas relações com os países onde eu estava em missão.
Na Armênia, por exemplo, foi Jakob Künzler, que resgatou e abrigou milhares de sobreviventes de genocídio após 1915; e, na Sérvia, o criminologista da Lausanne, Rodolphe Reiss, que documentou os crimes de guerra cometidos nos Bálcãs pelas potências centrais durante a Primeira Guerra Mundial. No contexto das relações histórico-culturais entre a Suíça e a Rússia, deve-se mencionar os arquitetos e representantes da diáspora revolucionária russa, como Bakunin e Lenin.
No entanto, a contribuição mais significativa da Rússia para a história suíça é sem dúvida a do grego Kapodístrias. Após a derrota de Napoleão, o czar Alexandre I o enviou à Suíça como ministro plenipotenciário no final de 1813. Em 1814, Capo d’Istria foi reconhecido pela Dieta federal (assembleia dos deputados dos cantões), com sede em Zurique. Foi o marco do início das relações diplomáticas entre a Suíça e a Rússia.
“essas excelentes pessoas…”
Em 1814, a Confederação corria o risco de entrar em colapso devido aos interesses conflitantes de seus 19 cantões; ela estava à beira de uma guerra civil. Além disso, 130.000 soldados russos e austríacos estavam estacionados em seu território. Dos três embaixadores enviados à Suíça pela Rússia, Áustria e Inglaterra, o conde Jean Antoine de Capo d’Istria desempenhou o papel principal na consolidação e remodelação da Confederação após 15 anos de dominação francesa. A tarefa era complexa. Kapodístrias rapidamente compreende: “Nas repúblicas, fala-se muito, as decisões são tomadas com dificuldade e a ação é muito lenta”.
Ele negociou incansavelmente, visitou todos os cantões, chegando até mesmo a ameaçar interromper as negociações, e, finalmente, convenceu os suíços de que um acordo era de seu próprio interesse. Das potências vencedoras, somente a Rússia queria uma Suíça independente e neutra no centro da Europa. Nove meses após a chegada de Kapodístrias a Zurique, em setembro de 1814, cada cantão tinha sua própria lei orgânica e a Suíça tinha sua primeira constituição, o Tratado Federal.
Aliviado, Kapodístrias comunica ao seu pai em Corfu: “O fim de uma negociação tão complicada custou-me infinitos esforços, viagens, escritos, repetições, constituições e projetos. Mas isso não importa. Essas excelentes pessoas (seus interlocutores suíços) me encheram de amizade e cordialidade sinceras. A confiança com que eles me honraram me recompensou muitas vezes por todos os meus esforços. Se eles puderem ser felizes no futuro e desfrutar de sua independência, pensarei que não desperdicei meu tempo nem meus esforços”.
O diplomata resume sua experiência na Suíça da seguinte maneira: “O renascimento e a verdadeira independência de um povo só pode ser obra desse povo. Uma ajuda externa pode facilitá-la, mas não pode criá-la”. Kapodístrias aplicou os conhecimentos adquiridos na Suíça para a criação e o estabelecimento da República Helênica.
Com seu novo status no direito internacional, a Suíça pôde participar do Congresso de Viena. A figura central da delegação suíça era Charles Pictet de Rochemont, um estadista genebrino comissionado pela República de Genebra. Sua missão era moldar o território de Genebra de forma a conectá-lo ao cantão de Vaud por terra.
Kapodístrias foi aliado de Pictet. Graças à sua capacidade de negociação, a França finalmente concordou em ceder à Genebra uma faixa de seu território ao longo do Lago Léman. Pictet e Kapodístrias realizaram um total de 92 sessões de trabalho conjunto durante o congresso. Segundo Pictet, o grego foi “o melhor e mais fiel representante dos interesses de Genebra e da Suíça” no Congresso de Viena. Com admiração, o chamou de “fênix da diplomacia”. Além disso, a dupla Pictet-Kapodístrias também conseguiu que a neutralidade suíça fosse reconhecida pelas grandes potências do direito internacional.
Na época, a Suíça ainda era uma confederação de Estados. Mas, graças ao mandato do czar russo e à habilidade diplomática de Kapodístrias, as fundações do Estado Federal foram estabelecidas em 1815. E o status de neutralidade, apesar de ocasionais redefinições, relativizações e desafios, resistiu à prova do tempo como base da política externa suíça e tem garantido ao nosso país uma paz duradoura e uma posição respeitada internacionalmente desde 1815.
Foram necessários quase 200 anos para que os serviços prestados por Kapodístrias à Suíça fossem devidamente reconhecidos pela Confederação: em 2009, a então ministra das Relações Exteriores, Micheline Calmy-Rey, e seu equivalente russo, Sergei Lavrov, inauguraram um busto do grande diplomata, criado pelo escultor russo Vladimir Surovtsev, no cais d’Ouchy.
Eu conheci Kapodístrias de verdade durante meu tempo como embaixador da Suíça na Grécia de 2010 a 2015. Em Corfu, é possível conhecer seu local de nascimento e um museu dedicado a ele, assim como seu túmulo no monastério Platytera. Na venerável Sociedade de Leitura, sua mesa está cuidadosamente preservada. Em Egina, a primeira e efêmera capital da República Helênica, encontra-se o primeiro seminário de ensino do jovem Estado, financiado por Jean-Gabriel Eynard. Em Náupila, a segunda capital, fica a igreja de São Spiridon, na frente da qual Kapodístrias foi assassinado após a missa de 27 de setembro de 1831. Nesses locais históricos carregados de memória e em outros lugares, tive o privilégio de participar de palestras e dar aulas.
Também tive a sorte de conhecer personalidades como o eminente helenista de Genebra Bertrand Bouvier e sua esposa, a historiadora Michelle Bouvier-Bron, que passaram suas vidas estudando profundamente a vida e a obra de Kapodístrias. Percebi o quanto essa personagem havia ligado nossos dois países e o quanto sua memória está viva até hoje. Que as celebrações da diáspora grega em várias cidades suíças durante o ano jubilar de 2021 contribuam para uma melhor compreensão do trabalho verdadeiramente histórico do diplomata russo de origem grega, inclusive na Suíça, que tanto lhe deve.
Os filelenos suíços foram à Grécia para apoiar a revolta contra os otomanos na década de 1820:
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Quando os suíços combatiam no Mediterrâneo
Adaptação: Clarice Dominguez
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