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Enviado de Dalai Lama decepcionado com governo suíço

O Dalai Lama visita a suíça pela 22ª vez a Suíça. Keystone

O líder espiritual tibetano e Prêmio Nobel da Paz Tenzin Gyatzo, o 14° Dalai Lama, está visitando a Suíça pela 22ª vez esta semana para realizar palestras sobre o budismo e a paz mundial.

Em entrevista à swissinfo.ch, seu enviado para a Europa, Kelsang Gyaltsen, residente em Genebra, critica o governo suíço por não receber oficialmente o Dalai Lama.

Nas 21 vezes anteriores que o Dalai Lama visitou a Suíça, ele teve cinco encontros informais com membros do governo federal, o que não se repetirá desta vez. Em entrevista à swissinfo.ch, o representante do líder tibetano para a Europa, Kelsang Gyaltsen, critica essa decisão de Berna.

Nesta quarta-feira (5/8), o Dalai Lama será recebido informalmente por representantes do governo estadual de Vaud (oeste do país), onde realizou palestras em Lausanne. Na quinta-feira (6/8), a presidente da Câmara dos Deputados, Chiara Simoneschi-Cortes, lhe dará as boas-vindas em nome do governo suíço.

swissinfo.ch: Qual é a sua reação ao fato de que não haverá nenhuma reunião oficial com um ministro suíço?

Kelsang Gyaltsen: Sua santidade não pretende causar qualquer inconveniente para qualquer governo anfitrião. Não há problema se certos governos não se encontram com ele.

Mas, como suíço-tibetano, estou decepcionado com esta decisão do governo suíço. Isto não é útil; ele não envia o sinal certo aos dirigentes chineses que precisam de repensar a sua política sobre o Tibete e as minorias na China.

Tenho a firme convicção de que os membros da comunidade internacional devem deixar claro à liderança chinesa de que ela deve resolver a questão do Tibete através do diálogo e da negociação, e não da pressão e da ameaça.

Como suíço-tibetano também acredito que esta decisão não é do interesse na Suíça. A Suíça tem uma reputação como um país comprometido com os valores e as tradições humanitárias e com ideais de liberdade e democracia. A decisão do Conselho Federal [Executivo] de não se encontrar com o Dalai Lama, de alguma forma, prejudica a credibilidade desses valores que a Suíça defende aos olhos da comunidade internacional.

Quais são as perspectivas para uma aproximação entre os tibetanos no exílio, liderados pelo Dalai Lama, e o governo chinês?

A posição do Dalai Lama e do governo tibetano mantém-se inalterada. Não estamos buscando separação ou independência para o Tibete. Estamos lutando por uma verdadeira autonomia para o povo tibetano dentro da República Popular da China.

O governo chinês sabe que estamos prontos para continuar o processo de diálogo, assim que haja um sinal claro de Pequim de que o governo chinês queira discutir seriamente a situação real enfrentada pelos tibetanos no Tibete. No momento estamos à espera de um sinal positivo de Pequim.

O que o senhor ouve sobre a situação atual no Tibete?

A situação no Tibete continua sendo muito desalentadora. O clima predominante é de intimidação e medo.

O acesso à maioria das áreas ainda é restrito, por isso turistas estrangeiros ou estranhos não podem entrar. Temos ouvido falar de detenções e duras penas impostas diariamente aos tibetanos. Parece ainda haver um forte esquema de segurança e presença militar em muitas áreas. E, de acordo com informações recentes, os chineses instalaram câmaras para monitorar os movimentos da população, mesmo em lugares remotos.

As restrições de circulação são muito graves e, em algumas cidades, precisa-se obter permissão para se deslocar de lado para o outro.

A sucessão do Dalai Lama é um tema sensível devido à sua idade. Qual é a sua preocupação sobre o futuro, quando ele já não estiver mais presente?

Claro que a ausência do Dalai Lama vai ser um grande revés para o povo tibetano, não há dúvida sobre isso.

Mas sua santidade e o governo tibetano no exílio estão se preparando para esse momento, fazendo vigorosos esforços para democratizar as nossas instituições e a sociedade. O futuro não depende apenas de uma pessoa; a responsabilidade pela liberdade dos tibetanos é de cada tibetano individualmente.

Desde 2001, temos uma liderança política eleita. Todos os tibetanos no exílio votam para primeiro-ministro do governo tibetano no exílio. Então, já temos instituições democráticas e as estruturas democráticas muito boas.

Acreditamos que o Dalai Lama vai viver por muitos anos. Ele está com excelente saúde, de forma que temos razões sólidas para acreditar que sua vida será mais longa do que a do Partido Comunista Chinês.

O senhor obteve refúgio na Suíça em 1963, aos 11 anos de idade, juntamente com outros órfãos tibetanos, e vive aqui há mais de 40 anos. Qual é a sua relação com a Suíça e com o Tibete?

Eu sou um suíço-tibetano. Sou muito grato à Suíça por me dar um segundo lar. Penso que os valores e a tradição humanitária da Suíça e a história da liberdade e democracia são valores muito importantes que influenciaram a minha visão de mundo e os meus próprios valores.

Ao mesmo tempo, embora vivendo na Suíça, eu cresci entre tibetanos e tive um monge tibetano como professor, que me ensinou o budismo tibetano, a língua e história do Tibete. Portanto, acho que conceitos e valores budistas são uma parte essencial do meu ser.

Penso que há um forte vínculo emocional e psicológico entre os suíços e os tibetanos. Ambas os povos têm um forte senso de identidade como povos das montanhas. Ambos os países são pequenos, prensados entre grandes vizinhos e, como resultado, são muito orgulhosos de suas identidades distintas.

Eu me sinto muito à vontade e em casa na Suíça. Meus filhos nasceram aqui e freqüentam a escola aqui. A Suíça tornou-se a minha segunda casa, no verdadeiro sentido da palavra.

Simon Bradley, swissinfo.ch

Estima-se que na Suíça vivam aproximadamente 3.500 tibetanos. Eles afirmam que formam a maior comunidade tibetana na Europa e a terceira maior do mundo.

A imigração para a Suíça começou em 1960, com a chegada de dez meninos e dez meninas à vila Pestalozzi de Trogen e do lançamento do programa “1000 lares para refugiados tibetanos na Suíça”, aprovado pelo governo e apoiado pela Cruz Vermelha suíça.

Entre 1961 e 1964, 158 órfãos tibetanos foram adotados por famílias suíças e a comunidade lançou em 1967 a construção do primeiro mosteiro tibetano no Ocidente, em Rikon, perto de Zurique.

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