Correndo atrás dos números por trás do coronavírus na Suíça
Para aqueles que não estão na linha de frente, a luta para controlar a propagação do coronavírus resume-se muitas vezes a assistir a um jogo de números em constante evolução, por vezes bastante confuso.
E quando se trata de determinar a extensão da epidemia, diferentes abordagens de relatórios e testes ao redor do mundo significam que é difícil obter uma imagem completamente precisa – mesmo quando se trata de números de mortes.
Aqui apresentamos uma visão geral da situação, com dados de várias fontes regionais, nacionais e internacionais confiáveis, atualizadas em 26 de março de 2020.
De acordo com os números cantonais agregadosLink externo pelo pesquisador bernês Daniel Probst, o número total de casos positivos em 26 de março foi superior a 11.000: o cantão de Vaud é o que mais apresenta incidências, com mais de 2.000, enquanto o cantão de Appenzell Inner Rhodes (16.105 habitantes) apresentou o menor número, com menos de 10.
Por 10.000 habitantes, entretanto, o cantão do Ticino, na fronteira italiana – que foi precursor na crise do coronavírus suíço – ainda é o mais afetado, à frente de Genebra e Vaud.
Nota: os números em tempo real apresentados pela plataforma de código aberto corona-data.chLink externo de Probst são um pouco mais elevados do que os números divulgados pelo Departamento Federal de Saúde Pública (BAG), que divulga uma atualização diária com base nos dados que recebe dos cantões.
+ Leia mais sobre a discrepância entre os números aqui (em espanhol)
Mais de 200 pessoas morreram até agora na Suíça. Quando se trata de mortes por região, o sul novamente sofre as consequências. O Ticino registrou a maioria das mortes em geral, assim como, de longe, o maior número de mortes por 10’000 pessoas. Vaud e Genebra vêm logo em seguida. Vários cantões no centro da Suíça não registraram nenhuma fatalidade.
Os idosos, especialmente os homens, têm, até agora, mais probabilidades de apresentarem resultados positivos na Suíça; os idosos também têm mais probabilidades de morrer como resultado do Covid-19, sendo a idade média das vítimas no país até agora de 85 anos, de acordo com o BAG. Muitas das vítimas apresentavam condições médicas preexistentes.
Na Itália, em comparação, segundo dados divulgados em 20 de marçoLink externo, a idade média de uma amostra de 3.200 pessoas que morreram em conseqüência do vírus foi de 78,5 anos; quase 80% das vítimas eram do sexo masculino.
Dito isto, uma pesquisa realizada em 24 de março com 30.000 suíços pelo instituto Sotomo constatou que os mais jovens tendem a favorecer medidas mais rígidas por parte do governo, enquanto as gerações mais velhas estavam geralmente satisfeitas com as precauções tomadas até o momento.
Na mesma pesquisa, entretanto, as regiões francófonas do país também mostraram-se marginalmente mais propensas a apoiar medidas mais rigorosas – talvez refletindo o fato estatístico de que, até agora, elas foram mais fortemente afetadas pelo vírus do que as regiões de língua alemã, ao norte.
No gráfico acima, a Suíça está logo atrás da Itália no que diz respeito ao número de casos Covid-19 por milhão de pessoas. No entanto, outras fontes,Link externo utilizando os dados brutos fornecidos pelos cantões, consideram que a Suíça é, de fato, mais afetada do que qualquer outro país.
Tais comparações são difíceis, como muitos apontaram, uma vez que diferentes países não só têm atitudes diferentes em relação à comunicação de casos, mas também em relação aos testes. Mais testes significam mais casos relatados, mas isto não é necessariamente um quadro da situação geral.
Mundialmente, de acordo com a Universidade Johns HopkinsLink externo, bem mais de 400.000 casos de Covid-19 foram relatados até 25 de março. Quase 20.000 pessoas já morreram. Cerca de um terço da população mundial está, de fato, vivendo atualmente em condições de isolamento.
Quando se trata de mortes por milhão de pessoas, a Itália é, de longe, o país mais atingido. As opiniões dividem-se quanto ao porquê, e as mídias já levantaram vários fatores, incluindo a idade da população e a qualidade do serviço de saúde. Devido ao seu estatuto de primeiro país europeu a sofrer um surto em massa da doença, a Itália está também cerca de uma a duas semanas à frente de muitas outras nações.
Em 24 de março, falando em Genebra, o Ministro da Saúde Alain Berset afirmou que a Suíça era agora o líder mundial no que diz respeito ao número de testes que estão sendo realizados. Isso se deve ao fato de muitos cantões terem aumentado a capacidade de testes, inclusive com os chamados sistemas drive-thru, onde os pacientes podem ser testados dentro de seus carros.
No entanto, devido às diferenças cantonais e às dificuldades na coleta de dados hospitalares, as estatísticas exatas são novamente difíceis de se obter. Algumas fontes consideram que a Suíça aumentou as suas capacidadesLink externo para um pouco abaixo do nível da Noruega. O gráfico acima, utilizando dados recolhidos pela Universidade de Cambridge, apresenta a imagem a partir de 20 de março.
Desde que passou a marca dos 10 mortos, as fatalidades na Suíça estão em uma trajetória semelhante à da Itália, dobrando a cada três ou quatro dias. Resta saber se a ligeira flexibilização da curva nos últimos dias vai continuar. As autoridades ainda esperam que as medidas de distanciamento social introduzidas em 16 de março surtam efeito.
Num momento em que a vida em muitos países foi virada do avesso, vários outros gráficos e dados podem ser encontrados para ilustrar os efeitos da pandemia: as bolsas de valores despencaram, o uso da internet disparou e, como mostram as estatísticas acima, as viagens internacionais diminuíram. A capacidade operada do aeroporto de Zurique é apenas 10% do que era há dois meses.
– 25 de fevereiro: a Suíça relata seu primeiro caso de coronavírus – um homem de 70 anos de idade dá positivo no cantão Ticino, no sul do país limítrofe com a Itália. O Ticino proíbe todos os eventos públicos, incluindo os desfiles de carnaval.
– 27 de fevereiro: “Distanciamento social” é uma das precauções exigidas como parte de uma campanha de informação do Departamento Federal de Saúde Pública. A Maratona de Esqui da Engadina – marcada para 8 de março – é cancelada. O cenário desportivo suíço começa a fechar.
– 28 de fevereiro: O governo eleva o nível de alerta para “situação especial” – proibição de eventos com mais de 1.000 pessoas, incluindo campeonatos de futebol e hóquei no gelo, carnavais em Basel e Lucerna, o Salão Automotivo de Genebra e a feira de relógios Baselworld.
– 5 de Março: Morre uma mulher de 74 anos em Lausanne. Ela é a primeira vítima confirmada de coronavírus na Suíça.
– 13 de março: O Ticino é o primeiro cantão a fechar todas as escolas como parte de suas “medidas de emergência”. O governo federal lança um pacote de ajuda de emergência no valor de CHF10 bilhões (10,3 bilhões de dólares) e proíbe concentrações públicas de mais de 100 pessoas.
– 16 de março: O governo suíço declara uma “situação extraordinária”, instituindo a proibição de todos os eventos privados e públicos, e fechando restaurantes, bares, instalações de lazer e lojas, além de mercearias e farmácias.
– 19 de março: O cantão de Uri ordena que as pessoas com 65 anos ou mais fiquem dentro de suas casas. O governo federal diz ao cantão que não pode fazer isso.
– 20 de março: O governo anuncia a proibição em todo o país de reuniões com mais de cinco pessoas em espaços públicos. O governo pede ao público que fique em casa, exceto para comprar comida ou ir ao médico. Alguns parques da cidade são fechados e a polícia começa a impor a proibição de grupos de mais de cinco pessoas.
– 21 de março: O Ministério das Relações Exteriores anuncia vôos fretados especiais para centenas de cidadãos suíços presos na América do Sul e na África.
– 22 de março: O cantão do Ticino ordena o fechamento de fábricas, embora os cantões tenham sido avisados para não excederem unilateralmente as recomendações das autoridades federais.
swissinfo.ch/ets
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