EUA e Irã encontravam-se secretamente em Genebra
Acadêmicos e especialistas do Irã, Estados Unidos e Europa estavam encontrando-se regularmente na cidade suíça de Genebra. Objetivo: discussões em alto nível, mas informais, começaram há seis anos.
A ministra suíça das Relações Exteriores, Micheline Calmy-Rey, confirma que estava a par dos contatos realizados nos últimos anos, mas que não teve um papel ativo.
“As conversações ocorrem em um nível puramente informal e o Ministério das Relações Exteriores não está envolvido”, declarou Calmy-Rey na terça-feira (7/03).
Os encontros – um processo conhecido pelo código “Track II” – envolvendo acadêmicos do Irã, EUA, de países da União Européia, Suíça, países árabes e Israel, foram realizados em Genebra de acordo com um artigo publicado ontem no jornal Le Temps, de Genebra.
O jornal revelou que aproximadamente 30 participantes estavam presentes nos encontros realizados, sobretudo, na cidade de Calvino, mas também em outras cidades européias. A última reunião ocorreu teria ocorrido entre 6 e 8 de março de 2009.
No total, mais de 400 pessoas participaram das conversas secretas, mas dizem querer manter o anonimato por receio de represálias por parte do governo iraniano.
Washington e Teerã cortaram as relações diplomáticas há trinta anos, logo depois da Revolução Islâmica no Irã. Desde 1980, a Suíça representa os interesses dos Estados Unidos em Teerã.
Compreensão mútua
O Le Temps também cita um professor que declara ter participado das conversas secretas, ressaltando que o diálogo pode contribuir para uma maior compreensão mútua.
O acadêmico revela também que os participantes podem falar livremente e são pouco tentados a assumir posições políticas nas reuniões realizadas a portas fechadas. Estes encontros ocorreram com a aprovação de Teerã e Washington, afirma o Le Temps em sua reportagem.
O jornal conta que uma pessoa muito próxima do governo iraniano e um embaixador de outro país estiveram presentes em uma reunião no início de março.
Nuclear
Os participantes, entre os quais se incluem também especialistas em questões nucleares, estratégicas e em relações internacionais, teriam discutido sobre o desenvolvimento de tecnologia nuclear pelo Irã.
O Irã, como país signitário do tratado de não proliferação nuclear e é sobmetido à inspeção da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA), nega que esteja procurando obter um arsenal nuclear. O governo iraniano afirma que o enriquecimento de urânio conduzido pelos seus cientistas é para o fornecimento de energia e, portanto, para fins pacíficos.
Na última semana, a IAEA saudou as tentativas de aproximação coordenadas pelos EUA e a Rússia para prosseguir a estratégia diplomática em relação ao Irã, ao invés de uma política focada no isolamento e ameaças à república islâmica.
O governo norte-americano havia descrito o Irã em 2002 como parte do “Eixo do Mal” e não tem relações diretas com o país há mais de três décadas. As relações podem melhorar sob a administração do presidente Barack Obama.
Abertura diplomática
Observadores salientam que ainda é muito cedo para dizer se as conversas informais trarão resultados na forma de um acordo, mas acrescentam que as discussões alargaram a esfera de contatos entre os dois países.
No último mês Barack Obama conclamou o Irã a retomar o diálogo. Durante sua visita à Turquia, na segunda-feira, o presidente americano declarou que os EUA “não está e nunca estará em guerra com o Islã”.
O líder reformista e candidato às eleições presidenciais de junho no Irã, Hossein Mousavi, afirmou ter intenções de negociar com os EUA, mas que seu país não abandonará o programa nuclear.
O Le Temps acrescentou que o local dos encontros informais foi transferido de Genebra, aparentemente devido ao crescente interesse público nas conversas. É possível que estes retornem à cidade de Calvino algum dia.
“Isso pode se tornar mais provável se a movimentação diplomática conduzida pela administração Obama começar a dar frutos”, escreveu o jornal.
swissinfo, Urs Geiser
Genebra sedia 22 organizações internacionais como a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Organização Mundial do Comércio (OMC), a Organização Mundial do Trabalho (OIT) e o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).
A cidade também é a sede européia das Nações Unidas.
No total, 40 mil diplomatas e servidores estrangeiros estão baseados em Genebra. Também ONGs ocupam 2.400 pessoas.
O papel internacional da Suíça não é novo. Logo depois da I Guerra Mundial, a cidade recebeu a Liga das Nações e a Organização Internacional do Trabalho.
A Suíça é representada por Livia Leu Agosto em Teerã, a primeira embaixadora a ser enviada a esse país.
A ministra das Relações Exteriores, Micheline Calmy-Rey, teve uma controversa visita em Teerã para assistir a assinatura de um contrato de fornecimento de gás entre o governo iraniano e uma empresa suíça de energia.
No ano passado, um funcionário de alto escalão do governo americano participou de conversações entre o Irã e outros países em Genebra.
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