Freio à imigração põe suíços em impasse
A imprensa suíça se mostra cética em relação à implementação da iniciativa "Contra a imigração em massa", reconhecendo que a decisão do governo seria a única escolha. Mas muitos comentaristas acreditam que uma nova votação parece inevitável.
“A reação dos partidos, grupos empresariais e trabalhistas é indiscutível: não poderia ser pior!”, diz o “Aargauer Zeitung”, diário da região centro-norte do país. “Este é um ano de eleições, quem não começar a protestar e ficar nervoso já perdeu. É por isso que todo mundo grita em voz alta e alguns se queixam de que tudo que é decidido em Berna é ruim”, observa.
Um ano após a “colisão frontal, as tentativas de encontrar uma solução não satisfazem ninguém, pois a incerteza permanece no grande mercado europeu”, observa o “La Liberté”. O jornal de Friburgo se mostra alarmado pelo que considera uma “regressão”: “apesar das medidas de limitação previstas preservarem os beneficiários da livre circulação de pessoas, não se vê nenhuma vontade por lado da UE em renegociar com a Suíça o acordo bilateral. O próprio Conselho Federal não exclui o impasse total”.
“Pisar no acelerador”
O “Neue Zürcher Zeitung”, de Zurique, lamenta que “as relações da Suíça com o resto da Europa estejam em uma posição perigosa que ameaça a prosperidade do país. O país todo, de fato, espera que algo aconteça”. Clamando para que o governo “pise no acelerador”, o jornal anuncia que “2015 deve ser o ano de negociações com a UE e 2016 o da ponderação de interesses entre a importância das relações bilaterais e o nível de aplicação da iniciativa”, concluindo, como outros meios de comunicação suíços, que “aumentam as chances para um novo plebiscito”.
Um projeto que divide a Suíça
Em 9 de fevereiro de 2014, 50,3% dos cidadãos suíços disseram “sim” à iniciativa “contra a imigração em massa”.
A iniciativa ganhou especialmente na Suíça alemã e italiana, sendo rejeitada pela maioria da região de língua francesa.
O texto da iniciativa exige a limitação da imigração com cotas para trabalhadores estrangeiros. Mas, com isso, a Suíça entra em contradição com o acordo bilateral sobre a livre circulação de pessoas com a UE.
Este também é o prognóstico de outro jornal de Zurique, o “Tages Anzeiger”, “seja na forma da iniciativa Rasa, lançada em dezembro para remover o artigo constitucional sobre a imigração, ou na de um voto de fundo sobre uma escolha clara entre os acordos bilaterais ou os contingentes de trabalhadores”. O jornal do centro econômico do país conclui assim que “o Parlamento tem que se pronunciar rapidamente sobre o projeto, sem esperar a campanha eleitoral para as eleições de outubro. A questão europeia é importante demais para ser objeto de cálculos eleitorais”.
Da mesma forma, o “Le Temps”, de Genebra, acha que o governo suíço encontrou uma “astúcia” para salvar os acordos bilaterais. Com a introdução de um sistema binário, os cidadãos da UE e da EFTA ainda beneficiam do acordo sobre a livre circulação de pessoas, enquanto outros estão sujeitos a cotas. Mas essa “estratégia de acrobacia política” visa, segundo o jornal de língua francesa, a preparar o terreno para um novo plebiscito inevitável.
“Nenhuma outra escolha”
Para o “L’Express”, o “L’Impartial” e o “Le Nouvelliste”, o governo preferiu o “confronto com o SVP”, o partido autor da iniciativa, ao invés do “confronto com a UE”. A prioridade é clara: a admissão de cidadãos da União deve continuar sendo regida pelo acordo sobre a livre circulação de pessoas.
Os três jornais da região de língua francesa, no entanto, argumentam que este “truque” não será suficiente. O governo do país deve tomar medidas de política interna para controlar a imigração e os incentivos para o recrutamento de mão de obra nativa são um primeiro passo. Mas cuidado, alertam o “24 Heures” e o “La Tribune de Genève”, essas medidas seriam “um enorme embuste se o governo considerar isso suficiente para convencer a maioria, seria o mesmo que chamar os cidadãos de idiotas”.
Para o “Corriere del Ticino”, da Suíça italiana, o governo escolheu “o caminho mais correto”. A escolha em aplicar ao pé da letra a iniciativa e tentar negociar simultaneamente em Bruxelas “pode não agradar, mas é a menos ruim”.
O “La Regione”, também da região de língua italiana, partilha da opinião de que não havia “nenhuma escolha”. “A Suíça deve retomar o controle dos fluxos migratórios, mesmo em relação aos cidadãos europeus”.
O “Der Bund”, da capital do país, lembra que “muitos suíços têm dificuldade em aceitar a forte imigração, com a situação econômica do país estando boa ou não. O governo deve tentar encontrar pelo menos algumas alavancas para a gestão da imigração com a UE, talvez até mesmo uma espécie de cláusula de salvaguarda”, propõe o jornal de Berna.
Por sua vez, o “Le Matin” observa que o governo suíço ainda não disse em quanto ele pretende limitar a mão de obra estrangeira. Já não é sem tempo de pôr fim à incerteza para as empresas, universidades ou para os próprios estrangeiros, se preocupa o diário de língua francesa. Pois, apesar das medidas anunciadas, “a Suíça permanece na escuridão total.”
Caos político
O “Neue Luzerner Zeitung” considera que o governo “não deu nenhum passo à frente” e enfraquece sua posição nas negociações. “A UE sabe que a Suíça não vai escolher o caminho da confrontação. É louvável que Berna espere manter as relações estáveis com seu principal parceiro comercial, mas as brigas políticas internas são iminentes: a economia e os principais partidos rosnam, enquanto o SVP ameaça lançar uma iniciativa para a aplicação”.
Nas colunas do “Le Temps”, Pascal Couchepin, ex-presidente do país, lança um ataque contra seu ex-colega de governo e líder do SVP, Christoph Blocher: “Tudo isso mostra que as promessas de 9 de fevereiro eram apenas mentiras. Christoph Blocher pretendia alcançar o resultado oposto para continuar pressionando o governo. Os ataques de Christoph Blocher são argumentos desesperados e desonestos”. Para o ex-presidente suíço, “o país caminha para um caos político que não terá uma saída simples. E seria só para daqui a dois anos, se a iniciativa for revotada”.
O “La Liberté” também observa que faltam dois anos “para tentar limpar o horizonte”. As duas maiores preocupações do país, a paridade do franco ao euro e a incerteza em torno das relações futuras com o grande mercado europeu, “a Suíça deve a sua escolha por um caminho solitário. Esse seria um importante tópico de discussão para as eleições de outubro, mas ninguém se atreve a enfrentar a questão, com a UE tendo sido declarada, uma vez por todas, o bode expiatório para as eleições”.
Adptação: Fernando Hirschy
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