Assassinato de diplomata desafiou a neutralidade suíça
Há exatos 40 anos, Hugo Wey foi morto a tiros a caminho do trabalho em El Salvador. A morte do encarregado de negócios suíço num contexto de crescente tensão na nação centro-americana mostrou que a neutralidade suíça não era suficiente para proteger os diplomatas das consequências dos conflitos locais.
Na manhã de 30 de maio de 1979, Hugo Wey deixou sua casa como de costume para ir de carro à embaixada em San Salvador. Em um ponto de sua jornada, outro carro cortou na frente dele, bloqueando seu caminho. O diplomata rapidamente deu ré para fugir, mas os atacantes abriram fogo. Wey foi atingido por uma única bala e morreu.
As razões por trás do ataque nunca foram esclarecidas. Testemunhas interrogadas pela polícia tinham chegado ao local após o tiroteio, e suas declarações eram contraditórias. Os investigadores concluíram que tinha sido uma tentativa frustrada de sequestro.
Nenhuma organização jamais reivindicou a responsabilidade pelo ataque, mas ele acabou sendo atribuído a guerrilheiros marxistas.
“Quem quer que tenha assassinado Hugo Wey, o ataque contra ele foi uma indicação clara de que a neutralidade não preservaria a Suíça de ser apanhada no meio de situações de conflito”, diz Sacha Zala, chefe dos Documentos Diplomáticos da Suíça, DodisLink externo.
Uma comunidade suíça cada vez mais ansiosa
No final da década de 1970, a América Central estava pontilhada de conflitos violentos, alimentados pelas flagrantes desigualdades socioeconômicas que caracterizavam a região.
Em El Salvador, a ascensão ao poder do general Carlos Humberto Romero em 1977 trouxe uma onda de repressão brutal contra os sindicatos e outras organizações de esquerda, que se somou às tensões já existentesLink externo havia algum tempo. Estudantes, trabalhadores e camponeses saíram às ruas para protestar contra o regime, com o apoio de círculos da Igreja Católica.
O conflito não parou fora dos escritórios da missão suíça. Em abril de 1978, a embaixada foi temporariamente ocupada Link externopor militantes do Bloque popular revolucionario, a organização de massas do movimento guerrilheiro marxista. Ações semelhantes tiveram lugar nas embaixadas da Venezuela, Panamá e Costa Rica, além da catedral de San Salvador.
Falso sentimento de segurança
Após os acontecimentos de abril de 1978, mais os sequestros de vários empresários estrangeiros, a preocupação estava aumentando na comunidade suíça em El Salvador. As famílias de quatro cidadãos suíços que trabalhavam para uma filial da empresa Eternit deixaram temporariamente o país para a Guatemala depois de receberem ameaças. Outro casal se mudou temporariamente para a Califórnia.
Um memorandoLink externo escrito pelo Ministério das Relações Exteriores da Suíça em maio de 1980 descreveu a gravidade da situação na capital no momento da morte de Hugo Wey:
“Com base em relatos do homem assassinado nos dias imediatamente anteriores à sua morte, é evidente que, naquela época, San Salvador estava perto da guerra civil […]. Ocupações de embaixadas, sequestros por motivos políticos, manifestações que terminaram em violência, ameaças feitas a diplomatas e industriais eram típicas da situação do país e, no tempo que antecedeu o assassinato, sua intensidade e perigo tinham aumentado.”
Wey, que havia chegado ao país em maio de 1978, observou que, em geral, os cidadãos da “Suíça democrática, neutra e humanitária” em El Salvador tendem a se sentir mais seguros do que outros estrangeiros que vivem lá. Mas ele acrescentou, um pouco profeticamente: “Acredito que estamos nos entregando a uma falsa sensação de segurança.
swissinfo.ch/ets
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