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Imprensa suíça comenta a eleição no Brasil

A ex-presidente Dilma Rousseff fotografada em 26 de outubro de 2014, logo após a sua reeleição. Keystone

Vários jornais suíços comentam terça-feira (28) nas eleições presidenciais no Brasil. O tom é de crítica e dúvida sobre a disposição da presidente Dilma Rousseff a fazer as reformas necessárias e relançar a economia para manter os programas sociais. A seguir, um resumo dos principais jornais suíços.


Com a manchete em página 4 “Os desafios que esperam Dilma Rousseff”,  a correspondente em São Paulo do Le Temps, de Genebra, em quase uma página inteira, afirma que o Brasil saiu “profundamente dividido” da eleição e que a prioridade será relançar a economia. Diz que Dilma não terá mais direito ao erro.

A jornalista analisa “Porque a presidente ganhou, apesar de um balanço ridículo?” Segundo ela, “os brasileiros ainda não sentiram os efeitos do baixo crescimento econômico” e “que o desemprego nunca esteve tão baixo e os salários estão em alta”.

Entre as razões apontadas para a vitória de Dilma também são citados o “bolsa família”, a valorização do salário mínimo e que “40 milhões de pessoas acederam à camada inferior da classe média”.  Afirma ainda que o governo tem um dilema pela frente: “cortar despesas para restabelecer a confiança dos investidores” para que a economia “volte a crescer e manter os programas sociais”.  Quanto à reforma política citada pela presidente como objetivo em seu discurso após a eleição, “o Congresso nunca a aceitou até aqui.”

Por sua vez, o jornal de língua francesa La Liberté, de Friburgo, procurou saber do brasileiro Carlos Braga, se a reeleição de Dilma Rousseff foi mesmo uma boa coisa para o Brasil. Para o professor de economia política internacional do instituto IMD de Lausanne, a questão depende do ponto de vista: “a política social dela foi boa e é verdade que o desemprego diminuiu durante o seu mandato. Mas, para mim, esta é uma situação artificial, o desempenho econômico é fraco, o país está em recessão e o governo tem muita dificuldade em controlar a inflação”.

Braga acha que Dilma vai ter que mudar a política econômica do país. Sétima economia mundial, o Brasil também vai ter que lidar com a fraqueza de seus parceiros mais próximos, mas o professor brasileiro não acha que a recessão na Argentina, por exemplo – terceiro maior parceiro comercial do país – seja um desafio. “É claro que isso não ajuda. Mas não acho que isso seja um grande problema para o Brasil”, disse Carlos Braga.

Quanto ao combate à corrupção, prioridade desse novo mandato anunciada pela presidente na segunda-feira, o professor brasileiro prefere deixar a questão em aberto: “É uma coisa boa, porque a corrupção é um problema muito grande, mas eu me pergunto como é que ela vai fazer isso…”

Pessimismo

“Os anos fáceis se foram” titula o correspondente do jornal diário NZZ em seu comentário sobre as eleições. “Como sinal de paz, Rousseff traja o branco (depois da reeleição). Pouco depois ela apela à reconciliação, a diálogo, pois afinal todos só queriam o melhor para o Brasil. É a tentativa de acalmar os ânimos depois da tensão das últimas semanas. E isso não será fácil. Uma campanha cheia de mentiras e difamações tirou os brasileiros do sério e polarizou o país”, escreve Tjerk Brühwiller.

O NZZ elogia uma das principais promessas da reeleita presidenta, a reforma política. “Seria um marco para o Brasil, cujo sistema político está completamente atravancado. Vinte e oito partidos estão representados no Parlamento e negociam qualquer tema, incentivando o nepotismo. A campanha, financiadas por empresas privadas, é a segunda mais cara do mundo depois das dos EUA e uma fonte de corrupção.”

Porém o jornal vê de forma pessimista a perspectiva do segundo mandato de Dilma. “A economia do Brasil praticamente não cresceu nesse ano. Ao mesmo tempo, ela já indica uma inflação de sete por cento. O preço em queda das commodities continuará a pesar na balança comercial. Atualmente a indústria encontra-se em uma má situação, pois foi sempre protegida nos últimos anos. É apenas uma questão de tempo para que o desemprego volte a crescer. Para esses problemas, Rousseff não apresentou nenhuma receita durante toda a campanha. Ela também tem grandes dificuldades para reconhecer os problemas como tais.”

Reformas impopulares

O Tagesanzeiger reconhece que Dilma Rousseff foi eleita primeiramente por “gratidão”, “especialmente das camadas mais desfavorecidas da população em relação aos vários programas sociais, não apenas ampliados, mas também recém-criados”. Todavia, o popular jornal zuriquense considera que a presidenta não poderá evitar mudanças que poderão decepcionar seus correligionários. “Se ela quiser estimular a economia terá de realizar reformas impopulares e fazer cortes dolorosos (no orçamento). Será difícil manter as subvenções à eletricidade ou o tabelamento populista do preço da gasolina.”

Um dos principais riscos imediatos para o governo será a o escândalo na Petrobras. “Novas revelações, que poderão se voltar diretamente contra Rousseff ou o seu predecessor Lula ameaçam paralisar o país politicamente. Tudo parece indicar muita turbulência para o segundo mandato de Dilma Rousseff.“

O Handelszeitung ressalta que a maior dificuldade é a polarização em que se encontra atualmente o Brasil. “Depois da reeleição graças a uma maioria apertada, Dilma Rousseff promete diálogo e reformas. Porém para incentivar a economia, ela precisa da classe média e alta, mas elas estão do lado dos seus oponentes.”

“Não é provável que a presidenta encontre ouvidos abertos graças aos seus discursos. Muita roupa suja foi lavada durante a disputa eleitoral, assim como muito violentos foram os ataques mútuos dos dois candidatos. No entanto, a economia brasileira não precisa nada mais urgente do que um amplo consenso sobre as reformas de longo alcance. O país mergulhou na segunda metade do ano em uma recessão, a inflação está demasiadamente elevada e o déficit crescente coloca em risco o atual rating global. A Moody’s (n.r.: agência de classificação de risco) já ameaçou em setembro de classificar o país na categoria especulativa”, avalia o jornal econômico de Zurique.

Por outro lado, um analista do UBS teria visto aspectos positivos na reeleição da presidenta Dilma. “Pelo menos no caso de Rousseff já sabemos o quanto a situação pode ainda piorar”, declarou Drew Matus, economista-chefe do maior banco suíço nos Estados Unidos. Ele considera que um governo instável por parte de um presidente Neves seria para a economia, afinal, pior do que mais quatro anos da política esquerdista de redistribuição de renda.

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