Os suíços estão tomando as ruas mais do que nunca, com a capital Berna chegando a ver 300 manifestações pela primeira vez este ano. Mas os suíços não se deixam impressionar, e os comerciantes se preocupam mais é com a sua própria existência.
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Nascido em Londres, Thomas trabalhou para o jornal inglês The Independent antes de se mudar para Berna em 2005. Domina três idiomas suíços oficiais e gosta de viajar pelo país e praticá-los, sobretudo nos seus pubs, restaurantes e sorveterias.
O Black Friday costuma ser um dos dias mais lucrativos do ano para as lojas. No entanto, na sexta-feira, a polícia de Zurique começou cedo a advertir as pessoas de evitar o centro antigo e a área perto do lago. Os bondes também foram desviados. A razão? Uma demonstração pelo clima.
Pouco tempo depois do protesto ter terminado, outro começa: uma procissão de bicicletas sem uma rota fixa que resultou, como os organizadores queriam, em engarrafamentos no trânsito.
No dia seguinte, ainda em Zurique, tibetanos protestam contra a detenção de monges na sua terra natal, sem falar de mais duas manifestações “espontâneas”, uma vez que nem todos os manifestantes solicitam uma autorização oficial para marchar pelas ruas.
Segundo uma reportagem do jornal suíço SonntagsZeitungLink externo, apesar de Zurique ser uma das cidades alvo dos manifestantes, Berna é a cidade mais afetada. Com a manchete “As cidades gemem embaixo de uma enchente de manifestações”, o jornal diz que, em média, as estreitas ruas da capital suíça acolhem seis protestos por semana. Em alguns fins de semana, quatro manifestações acontecem ao mesmo tempo.
Incômodo demais
O jornal diz que o número crescente de protestos – no ano passado houve 299 em Berna, este ano já havia 280 até o final de outubro – não só são irritantes para os moradores, trabalhadores e turistas, mas também ameaçam a existência de numerosas lojas da cidade.
Em Zurique, por exemplo, a boutique de roupas femininas Escada disse na semana passada que estava fechando depois de 30 anos por causa da queda do movimento nos sábados, o dia mais movimentado da semana, já que os clientes estavam evitando passar na rua da loja por causa das manifestações.
A associação dos lojistas do centro da cidade está alarmada. O presidente da associação, Milan Prenosil, gerente da Confiserie Sprüngli, disse ao jornal que algumas manifestações causaram perdas de várias centenas de milhares de francos.
“Ir às compras na cidade torna-se um incômodo para muitas pessoas se as estradas forem constantemente bloqueadas e os bondes forem desviados”, disse. “Às vezes também há o medo de que as coisas se tornem violentas”.
O SonntagsZeitung disse que todos os varejistas com quem falou disseram não ter nada contra os ativistas pelo clima, direitos dos gays, direitos dos animais, mulheres ou qualquer outro grupo que tome as ruas. Também ninguém estava questionando o direito à manifestação – uma pedra angular da democracia.
“O problema é puramente a quantidade e a concentração no centro das cidades”, disse.
O que fazer?
“Não está certo que ruas inteiras sejam isoladas simplesmente porque 250 pessoas querem manifestar contra a seita Falun Gong”, escreveu o SonntagsZeitung em seu editorial.
“A nova lei do aborto na Polônia pode muito bem ser ruim, mas será que 70 manifestantes precisam interromper o tráfego aqui na Suíça por causa disso? O que adianta, se volta e meia, um punhado de 100 curdos, sob presença policial considerável e dispendiosa, gritarem “Liberdade para Öcalan” ou 150 pessoas expressarem solidariedade com a Catalunha ou o Tibete?”
“Sejamos honestos”, prosseguiu o jornal. “A maioria dos protestos não causa nenhum efeito – a grande maioria das questões já são bem conhecidas ou podem ser tratadas igualmente bem por outros meios. Na verdade, o efeito não é pouco contraproducente, se pequenas minorias tentarem ganhar fama à custa da grande maioria.”
O editorialista considerou que já era hora das autoridades “reforçarem a sua prática de conceder autorizações, proibirem os protestos no centro das cidades e impedirem ou multarem as marchas não autorizadas”.
Isto, disse ele, para proteger as comunidades urbanas e as empresas “e não menos importante os próprios manifestantes, que estão cada vez mais prestando um mau serviço às suas causas”.
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