Mídias públicas lutam para reconquistar público
Como os canais públicos de rádio e televisão podem sobreviver na era da Spotify ou Netflix? O desafio para os canais é atender as necessidades relevantes e verdadeiras dos cidadãos.
Para tentar responder essa e muitas outras questões, aproximadamente 200 profissionais da mídia encontraram-se na primeira grande conferência internacional das mídias públicasLink externo, realizada ontem (04.03) em Berna, capital da Suíça. O evento ocorreu um ano depois dos eleitores helvéticos terem rejeitados em um plebiscito a proposta de erradicar as taxas de rádio e televisão, que financiam os canais públicos no país.
“Os suíços reconhecem a importância desses canais públicos para a paisagem mediática”, declarouLink externo a ministra suíça das Comunicações, Simonetta Sommaruga, na abertura do evento.
Durante a conferência, diversos palestrantes ressaltaram a importância da criatividade. Um tema que combinava com o local escolhido para organizar o evento: o Centro Paul KleeLink externo, onde estão depositadas as obras do famoso artista suíço”. Em uma mensagem enviada por vídeo, Tony Hall, diretor-geral da BBCLink externo, lembrou um dos objetivos de sua empresa: “Surpreender e encantar o público para que compreenda o valor das taxas de rádio e televisão pagos por todos”, admitindo que a emissora pública de rádio e televisão do Reino Unido, fundada em 1922, já não tem a mesma influência que dispunha no passado.
“Precisamos saber como estamos gastando o dinheiro do contribuinte suíço – e fazer muita atenção a isso”, ressaltou Gilles Marchand, diretor-geral da Sociedade Suíça de Radiodifusão e Televisão (SRG SSRLink externo), da qual a swissinfo.ch faz parte. “Não selecionamos o público. Temos de atender a todos, uma diferença fundamental que temos com as mídias privadas.”
A conferência (IPMC, na sigla em inglês) foi organizada pela SRG SSR em cooperação com o Departamento Federal de ComunicaçãoLink externo, a Comissão Federal de MídiaLink externo e a Associação Suíça de Pesquisa na Área de Comunicação e MídiasLink externo.
Na mesa-redonda, Karola Wille, diretora do canal público alemão Mitteldeutsche RundfunkLink externo, afirmou ser crucial continuar sendo uma fonte confiável e confiável por meio de um diálogo próximo ao público. “Precisamos ser mais responsáveis, compartilhar nossas fontes e estar presentes em todos os segmentos da sociedade.”
Jean-Paul Philippot, diretor-geral do canal público francófono belga, RTBFLink externo, contou que sua empresa lançou uma plataforma gratuita de mídia “on-demand”, assim como um serviço pago com oferta adicional de conteúdo. “Mais de 50% da população da Bélgica se inscreveu nessa plataforma. Não competimos com a Netflix, mas queremos estar seguros de ser a plataforma local, onde o conteúdo oferecido foi produzido por nós mesmos. Além disso, também coletamos dados – para alguns um tabu – mas que é extremamente importante para saber quem está sintonizando nossos serviços”, acrescentou Philippot.
Mais colaboração
Cilla Benkö, diretora-geral da Rádio pública da SuéciaLink externo, citou a citou a disposição de ouvir e colaborar como uma oportunidade para a mídia pública. “Os principais atores do mercado não faziam ideia de quais eram os nossos desafios. Precisamos realmente unir as forças”, disse ela, lembrando que o público mais jovem no país já está acostumado a encontrar o que querem em serviço de streaming como o Spotify.
Em uma apresentação sobre o “valor único” do serviço público, Noel Curran, diretor-geral da União Europeia de Radiodifusão (EBULink externo) mostrou algumas formas de como as mídias públicas e privadas podem colaborar. Por exemplo, lembrou como algumas mídias financiadas pelos contribuintes ajudaram a produzir alguns dos mais bem-sucedidos filmes. Uma colaboração que funciona não apenas de forma pontual: segundo Curran, 73% dos filmes de ficção produzidos recentemente nos países da União Europeia tiveram participação dos canais públicos de rádio e TV.
Apesar da Suíça não fazer parte da UE, Gilles Marchand (SRG SSR) também vê o valor da ficção em termos de valorizar a cultura nacional. “Você não pode narrar um país somente através dos fatos. Você precisa de ficção também. Mas é difícil de fazê-lo com o orçamento para um idioma. Mas graças às nossas diversas plataformas, podemos fazer mais.”
Os jornalistas individualmente também precisam fazer mais para defender os valores, observou Otfried Jarren, presidente da Comissão Federal de MídiLink externoa da Suíça, que encerrou a conferência. Ele citou a necessidade para a mídia pública de se manter o mais independente possível das forças econômicas e políticas.
Adaptação do inglês: Alexander Thoele
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