Mídia suíça considera novas medidas anti-Covid-19 ‘último alerta’
Os jornais reagiram cautelosos às últimas medidas para conter a propagação da Covid-19 na Suíça, que é agora um dos países mais duramente atingidos da Europa.
O diário zuriquenho Tages-Anzeiger escreve que as “medidas drásticas” anunciadas na quarta-feira pelo Ministro do Interior (também responsável pela Saúde) Alain Berset são muito menos drásticas em comparação com o que se passa nos países vizinhos, e mesmo em alguns cantões suíços.
A Alemanha anunciou planos para fechar todos os restaurantes, bares e teatros durante todo o mês de novembro, relata o jornal, apesar de ter uma taxa de infecção inferior à da Suíça. O cantão do Valais, no sul da Suíça, fechou a maior parte das instalações de entretenimento e desporto.
Em comparação com tais medidas (a França também anunciou ontem um fechamento a nível nacional), o governo suíço escolheu uma estratégia “arriscada” que o jornal diz ter sido ditada por preocupações econômicas e pela complexidade da estrutura federal da Suíça.
O seu editorial diz que é necessário um recuo a uma situação “extraordinária”, e que o governo deveria assumir o comando e guiar o país durante este “Inverno de crise” com um plano bem pensado – tendo outro confinamento (lockdown) como solução “de emergência”.
A emissora pública SRF também destaca esse excepcionalismo suíço: “apesar dos números quase recorde de casos na Europa, as nossas medidas permanecem claramente mais moderadas em comparação com outros países”.
No entanto, o comentário não esclarece por que razão é este o caso. Afirma simplesmente que as medidas constituem uma “última oportunidade” para o país evitar seguir os seus vizinhos para outro confinamento. Ambos os repórteres dizem que a responsabilidade individual é a forma de atingir este objetivo.
Toque de despertar
O jornal Neue Zürcher Zeitung segue a mesma linha, afirmando na quinta-feira que as novas medidas “não são tanto instruções precisas como mais um alarme para despertar”.
Criticando atitudes frouxas em relação às regras básicas de higiene e distanciamento social ao longo das últimas semanas – e aludindo a relatos recentes de casamentos “super-spreader” e eventos de yodelling lotados – o jornal diz que o tempo das providências “sob medida” acabou.
“Responsabilidade pessoal”, “auto-disciplina”, e “auto-contenção” são agora necessárias, escreve o jornal. Não vale a pena continuar a esperar passivamente por ordens de Berna; o lema é sim: “basta fazê-lo!”
O jornal francês Le Monde questiona se essa auto-responsabilidade é possível num artigo publicado no início desta semana. O seu correspondente observou que os suíços não são, como se imagina, “mais cívicos ou disciplinados do que os cidadãos de qualquer outro lugar” – uma ideia em que o governo parece ter confiado durante tempo demais.
Numa tentativa de explicar como a Suíça deixou de ser uma das nações europeias mais bem sucedidas no tratamento da Covid-19 na primavera para se tornar um dos “maus alunos”, o jornal também levantou o tema recorrente do federalismo.
“Até agora, por causa do federalismo, foram os próprios cantões que tomaram medidas – levando a uma desordem generalizada”, escreveu o jornal. “Ouvem-se agora vozes que exigem uma ação menos lenta do que o habitual”.
A ação, tomada na quarta-feira, pode contudo ser apenas o “último adiamento antes do confinamento”, escreve o diário francófono Le Temps. O jornal de Genebra receia que as medidas – “menos rigorosas do que nos países vizinhos” – possam ser dificultadas, especialmente pelo fato de o povo suíço continuar a circular muito, em comparação com as grandes diminuições nas viagens observadas na primavera.
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Boletim: Coronavírus na Suíça
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