Com estas medidas os países tentam conter o coronavírus
Desde seu surgimento na China, a doença infeciosa causada pelo coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2) se espalhou por todo o mundo. A ciência ainda desconhece todos os segredos do vírus e seu modo de propagação, mas sabemos que a pandemia vai requerer esforços durante muito tempo.
Enquanto vários países da Ásia, Europa e Américas tentam relançar a economia, em grande parte estagnada devido às medidas de contenção mais ou menos rigorosas, Tedros Adhanom Ghebreyesu, chefe da Organização Mundial de Saúde (OMS), advertiu em 20 abrilLink externo: “Queremos reiterar que a flexibilização das restrições não significa o fim da epidemia nenhum em país”.
Seria muito arriscado, nesta fase, elaborar um ranking dos países que tiveram maior êxito na prevenção da propagação do vírus. Como demonstrado no caso do Japão, mesmo nos países onde a epidemia já se estabeleceu, o número de infecções ainda pode aumentar. E outros países, por exemplo, na África, ainda não foram extensamente afetados pela doença.
Quatro meses após o primeiro anúncio de seu aparecimento na cidade chinesa de Wuhan, as respostas ao novo vírus variaram. O mesmo se pode dizer dos resultados inicialmente obtidos.
Antoine FlahaultLink externo, Diretor do Instituto de Saúde Mundial da Universidade de Genebra, salienta que até agora o vírus tem sido encontrado principalmente em países ricos em climas temperados do hemisfério norte. “Os países gravemente afetados pela pandemia estão tendo dificuldades em se defender. Mesmo tendo economias fortes e infraestruturas hospitalares de alta qualidade, como a Itália, Espanha, França e EUA, estes países têm tido dificuldades, mas até agora têm conseguido se manter”.
Os países que até agora têm sido capazes de melhor se defender são “os vizinhos da China no sudeste asiático, que foram os primeiros a serem afetados pela ameaça, bem como a Alemanha e, em menor medida, a Suíça”. Entre os países ocidentais, estes dois são talvez os que até agora têm sido mais capazes de evitar um afluxo maciço de casos em unidades de cuidados intensivos e de limitar a mortalidade”, diz Flahault.
Também na Ásia Oriental, países como a Coréia do Sul, Taiwan (considerada por Beijing como uma província da China) e a China conseguiram conter a pandemia. Isto, apesar de um atraso na tomada de medidas contra o vírus e de dados por vezes questionáveis que têm sido transmitidos à comunidade internacional. Na Europa, Portugal e a Grécia têm passado, até agora, relativamente incólumes pela crise.
Reação rápida como fator decisivo
Até o momento, a prosperidade e o desenvolvimento de um país não parecem constituir necessariamente uma garantia de sucesso contra a epidemia. O que é importante é a forma como a epidemia é tratada pelas autoridades responsáveis. As medidas tomadas e a rapidez com que são implementadas são fatores decisivos. Quando a Grécia se deu conta do caos causado pelo Covid-19 no norte de Itália, o país, consciente das vulnerabilidades do seu sistema de saúde, tomou rapidamente as primeiras providências.
Nos países primeiramente afetados pela pandemia, a rapidez de sua resposta foi o fator que permitiu evitar a saturação das estruturas hospitalares e limitar o número de doentes afetados pelo Covid-19.
A ilha de Taiwan, que é considerada por Beijing, pela OMS e pela maioria dos estados como uma província chinesa, foi o primeiro Estado a reagir. Em 1º de janeiro foi posto em operação um plano governamental que introduziu controles rigorosos de pessoas que entravam em Taiwan a partir de Wuhan, onde se originou a epidemia.
Ao impor controles rigorosos sobre tudo o que chegava à ilha, Taipé “se dotou dos meios para evitar a reintrodução do vírus”, diz Gilles PoumerolLink externo. Ele é perito em segurança sanitária no Centro de Política de Segurança de Genebra (GCSP). Esse controle é mais fácil para um país insular do que para outros.
A detecção muito precoce de um novo vírus e a resposta rápida ao seu surto ajudaram a conter sua propagação. Estas são as recomendações do Regulamento Sanitário InternacionalLink externo adoptado pela OMS em 2005. “Se a China tivesse tomado estas medidas uma semana após o aparecimento do novo vírus corona em Wuhan, o vírus provavelmente nunca teria saído da área afetada”, diz Poumerol.
A importância de testes em larga escala
O Governo de Taiwan assegurou que houvesse transparência, realizou campanhas de prevenção e testes em grande escala, isolou casos individuais suspeitos e aplicou pesadas multas em caso de descumprimento de diretrizes. Estas medidas foram igualmente aplicadas por países como Singapura, a Coréia do Sul e Vietnam. Além disso, foram usadas máscaras. Estas já eram práticas comuns anteriormente, devido às recentes epidemias e aos elevados níveis de poluição nas cidades.
“Os países mais resistentes à pandemia são aqueles que conseguiram combinar mais ou menos as medidas de contenção propostas pelos chineses, que remontam à experiência da gripe de 1918, com medidas mais modernas”, diz Flahault.
O professor de saúde pública menciona a inteligência artificial, as tecnologias da informação e a biotecnologia. Elas permitem a realização de testes em massa, a rastreabilidade total da população que entrou em contato com pessoas que apresentaram resultados positivos, e o isolamento adequado das pessoas que apresentaram resultados positivos em relação a pessoas saudáveis.
“Sempre que estes métodos eram combinados, eram mais eficazes contra a pandemia do que se fossem utilizados isoladamente para a contenção”, diz Flahaut. Isto, apesar de todos os riscos e limitações que estas tecnologias de vigilância demonstraram criar para os cidadãos e as suas liberdades.
Com estas medidas rápidas, estes países asiáticos evitaram até então a impor o isolamento e a economia continua funcionando. Resta saber até que ponto estes países serão afetados pela recessão global que se avizinha.
Além disso, apesar das medidas tomadas, novos casos de infecção em Singapura voltaram a ser identificados. Os 300 mil trabalhadores migrantes, principalmente de Bangladesh, da China e da Índia, foram particularmente afetados. Na semana passada, a cidade-estado decidiu, portanto, fechar todos os alojamentos onde estes trabalhadores estrangeiros de baixos salários se encontravam alojados.
O ponto de interrogação: a África
Apesar dos seus muitos pontos fracos, a situação da África Subsaariana se mostra promissora. A pandemia do Covid-19 ainda não atingiu o continente com toda a força.
“Na África Ocidental, os casos não são tão elevados como no Norte de África. O tráfego internacional é ali muito inferior ao de outros continentes. Neste momento, são sobretudo aqueles que têm acesso privilegiado a viagens internacionais que estão doentes”, observa Chibuzo Okonta. O médico é presidente da organização Médicos Sem FronteirasLink externo na África Ocidental e Central.
Mas em algumas grandes cidades, porém, o número de casos está aumentando. Nesta linha, não parece que o clima quente e húmido que prevalece em grande parte do continente seja um fator de abrandamento da propagação do vírus, como diz Okonta.
A juventude de sua população pode ser um fator de influência, já que até agora o Sars-CoV-2 tem afetado sobretudo pessoas mais velhas. A idade média nestes países é de 19,7 anos, contra 42,2 anos na Europa ou na Coréia do Sul, 37,1 anos na China e 34,3 anos em Singapura.
Outro motivo de esperança é que estes países têm ainda mais experiência de epidemias do que os países da Ásia. “Apesar de tudo o que se pode dizer sobre os sistemas de saúde na região, eles são os únicos que já sofreram choques como o da atual pandemia”, diz Okonta.
“Durante as epidemias de Ébola, mas também de cólera, meningite e outras epidemias, eles já tiveram que pensar em como aumentar o número de leitos e a capacidade de admissão de doentes, e em como ampliar os hospitais”.
Medidas mais práticas
O médico está preocupado com medidas como a quarentena obrigatória, que fazem pouco sentido quando se vive com dez pessoas em um único espaço. “Trabalhadores manuais bem como outros trabalhadores têm de deixar suas casas para trabalhar e ganhar a vida”, diz ele. Isto se aplica a todas as atividades profissionais em que a grande maioria da população está envolvida. As autoridades teriam de definir com antecedência o início e o fim da quarentena obrigatória “para que as pessoas possam se organizar”.
Okonta enfatiza: – “temos fazer com que os mercados estejam seguros e garantir que as pessoas possam lavar as mãos”. Estas medidas funcionaram no passado, por exemplo, na Libéria, durante a epidemia de Ébola.
Adaptação: DvSperling
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