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Mathias Reynard, a juventude no Congresso suíço

Keystone

Aos 24 anos, o professor de escola do Valais (sudoeste) é o mais jovem eleito à Câmara dos Deputados da Suíça. Militante por uma mudança radical da sociedade, o jovem político de esquerda diz preferir o debate e a formação de consenso.

Do terraço do café, basta olhar para cima para ficar cara a cara com o imponente Palácio do Parlamento e sua cúpula verde. Só alguns galhos das árvores atrapalham a vista. “Sinto sempre uma certa emoção quando venho aqui, apesar de já ter quase seis meses em Berna”.

Eleito, para a surpresa geral, nas últimas eleições de 2011 pelo Partido Socialista (PS), junto com seu mentor Stephane Rossini, Mathias Reynard mergulhou fundo na política federal. Como caçula dos 246 membros do novo Parlamento, coube a ele a honra de pronunciar o discurso de abertura da sessão de inverno. “Geralmente não se ouve muito bem durante o plenário. Eu tive a oportunidade de falar perante uma assembleia muito concentrada”, ri o jovem deputado federal.

Em março, em sua segunda sessão (O Parlamento suíço tem apenas quatro sessões por ano), ele foi nomeado relator da Comissão sobre a questão das taxas de exame para estudantes de medicina. “O acesso à educação para todos e a defesa dos trabalhadores são as minhas duas principais preocupações”, disse.

Liberdade de expressão

Engajado no sindicato UNIA, onde começou a militar com 15 anos, Mathias Reynard faz claramente parte da ala esquerda de seu partido. “Eu quero falar aos trabalhadores e aos assalariados. O PS não deve representar a classe média alta, defendendo algumas mudançazinhas sociais e econômicas”. O jovem eleito está bem consciente de que “esta visão não é compartilhada por todos os socialistas em Berna”.

Sua ação contra a iniciativa do ambientalista Franz Weber para limitar a construção de residências secundárias já lhe rendeu alguns desafetos dentro de seu próprio campo. “Houve um pouco de tensão, mas a minha posição, apoiada por sindicatos do Valais, foi finalmente respeitada”.

O deputado diz que quer se expressar livremente, independentemente dos slogans de seu partido ou das pressões dos grupos de interesse, onipresentes na capital suíça – “especialmente os lobbies de seguro de saúde”- Mathias Reynard também enfatiza seu compromisso com a discussão e o debate de ideias. “Me sinto à vontade nas comissões, não tenho nada contra o consenso. Meu único problema é que eu ainda não entendo suficiente o alemão”.

Raízes e asas

Além de suas obrigações profissionais e políticas, o deputado faz questão de manter toda uma gama de atividades sociais e associativas. Em seu site, Mathias Reynard se desdobra alternadamente com camisas da torcida do FC Sion, da equipe de hóquei HC Nendaz, como trompetista da fanfarra de Savièse ou romeiro na procissão de Corpus Christi de Granois.

“Estou muito ligado ao Valais e as suas tradições. Gosto de participar de festas populares, mas nunca na parte VIP”, diz.

Ardente defensor do patoá de Savièse, o jovem revolucionário logo admite um lado conservador quando se trata da defesa de sua terra natal. “É conhecendo suas raízes e sua cultura que se consegue se abrir aos outros. Não podemos deixar o Partido do Povo Suíço tomar conta desse terreno”.

Encontro com Evo Morales

Às vezes o político concorda em por de lado um pouco do seu radicalismo para se acomodar em um terno – “mas sem a gravata, e nada de querer tirar meu piercing!”. Mathias Reynard jura que será sempre um rebelde. Em Savièse, ele é carinhosamente chamado de “vermelhinho” pelos mais velhos de sua cidade. “Sim, porque coloco fundamentalmente em causa o nosso sistema. Os explorados já não são os mesmos de ontem, mas as relações de dominação não mudaram, seja entre o Norte e o Sul, ou mesmo no nosso país”, se exalta.

Quando pedem a ele de citar seus modelos políticos, o jovem não hesita um segundo: “Evo Morales, que tive a oportunidade de conhecer em 2006 durante uma viagem na América do Sul. Se não, Charles Delberg, fundador do Partido Socialista do Valais”.

Sua próxima luta será travada tanto a nível nacional e estadual com duas iniciativas pedindo a introdução de um salário mínimo na Suíça. “Estou ciente de que a vitória será difícil, mas é importante levantar nossas vozes agora para ganhar depois”.

Ainda “sinceramente” surpreso de se encontrar em Berna, o deputado federal do Valais garante que não pretende fazer carreira na capital. “De qualquer maneira, meus amigos, a família e meu trabalho como professor passam em primeiro lugar. Me recuso a sacrificar tudo à política”.

Nasceu em 7 de setembro de 1989, em Sion, no Valais, na região de língua francesa da Suíça.

De família modesta, começou seu envolvimento político em 2003, na Juventude Socialista e no Parlamento da Juventude de seu cantão. Em 2009, foi eleito ao “Grand Conseil” (Assembleia Legislativa) do Valais.

Se destacou pela sua luta em defesa dos correios, das condições de trabalho, do desenvolvimento econômico estadual, da ecologia, contra o desemprego juvenil, pelas bolsas de estudo ou ainda a defesa do dialeto de sua região.

No Congresso, Mathias Reynard é membro da Comissão de Educação, Ciência e Cultura e da Comissão de Crianças e Jovens.

Mestre em Letras pela Universidade de Lausanne, é professor do nível médio em Savièse.

Adaptação: Fernando Hirschy

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