Max Göldi saiu da prisão
Max Göldi, o refém suíço detido há quatro meses em uma prisão em Trípoli, foi libertado. Seu retorno à Suíça é esperado para o final de semana. Berna e Bruxelas reagem com cautela.
O anúncio foi feito na quinta-feira (10/6) por seu advogado Salah Zahaf. “Max Göldi foi liberado hoje e encontra-se atualmente em um hotel em Trípoli. Estamos concluindo os procedimentos administrativos para que ele possa sair do país”, declarou Salah Zahaf à agência de notícias France Presse.
O advogado francês do executivo suíço, Emmanuel Altit, também confirmou que seu cliente havia saído da prisão.
Max Göldi teria sido então libertado dois dias antes da data anunciada em maio pelo seu advogado.
A ministra suíça das Relações Exteriores, Micheline Calmy-Rey, disse na noite de quinta-feira à rádio pública DRS que estava “cautelosamente otimista” de que Göldi possa retornar da Líbia em breve.
Visto
Agora resta solucionar a questão da sua saída da Líbia. Max Gödli poderá obter seu visto de saída e retornar a Suíça já a partir do sábado, como explica a Anistia Internacional. “Nada mais pode o reter na Líbia”, declarou o porta-voz da ONG de defesa dos direitos humanos, Manon Schick, na quinta-feira.
“Aparentemente ele ainda não possui os papéis necessários para sair da Líbia. Ele não poderá recebê-los amanhã, pois sexta-feira é feriado no país. Porém, ele deverá poder receber o visto a partir do sábado”, respondeu a ONG à questão enviada pela agência de noticias ATS.
Um caso de longa data
Max Göldi, executivo da multinacional suíça ABB, foi detido em julho de 2008 em uma ação aparentemente como resposta à detenção em Genebra de Hannibal Kadhafi, filho do líder líbio Muammar Khadafi, após uma queixa por maus tratos de dois empregados domésticos.
Após 53 dias de prisão, Max Göldi e seu companheiro de infortúnio, Rachid Hamdani, foram libertados, mas proibidos de abandonar o território líbio.
Depois eles se refugiaram dentro da Embaixada da Suíça em Trípoli. Enquanto Hamdani conseguiu sair da Líbia em 23 de fevereiro, Göldi abandonou a proteção diplomática para se apresentar às autoridades líbias e cumprir uma pena de quatro meses de prisão por estadia “ilegal” na Líbia.
Crise diplomática
O “caso Hannibal” gerou atritos nas relações entre Trípoli e Berna. Em reação à detenção de dois dos seus cidadãos, a Suíça, membro associado do Espaço Schengen, decidiu em 2009 restringir para a elite líbia a concessão de vistos permitindo a entrada nos países do grupo, envolvendo dessa forma a União Europeia nessa disputa.
Em resposta, o governo líbio impôs em fevereiro do mesmo ano restrições para a entrada de cidadãos originários de países do Espaço Schengen. Essas medidas provocaram fortes reações em várias capitais europeias e finalmente a intermediação de Bruxelas. Ao final, a União Europeia e a Líbia anunciaram reciprocamente revogar as restrições relativas à concessão de vistos.
O governo líbio já havia imposto em 2008 medidas de retaliação contra a Suíça ao sacar seus fundos depositados em instituições bancárias suíças e, ao mesmo tempo, expulsando empresas helvéticas instaladas no país. Ele também anunciou o fim das exportações de petróleo para a Suíça. Em março, Trípoli chegou anunciar um “embargo econômico total’ contra a Suíça.
Conseqüências comerciais
O intercâmbio comercial entre os dois países diminuiu acentuadamente na esteira da crise. As compras de petróleo na Líbia despencaram em 80% em 2009 em relação aos números do ano anterior, como revelaram as autoridades aduaneiras suíças.
Sinal do esfriamento das relações no plano comercial, as exportações suíças à Líbia caíram em 44,7% em 2009 em relação a 2008. As importações de produtos líbios na Suíça caíram em 78,4% para 718 milhões de francos suíços, segundo as estatísticas oficiais.
Reações cautelosas (atualização em 11/6/10)
Em visita à concentração da seleção suíça na África do Sul, nesta sexta-feira, a presidente da Suíça, Doris Leuthard, manifestou-se cautelosamente sobre a libertação de Göldi. “Para mim, o caso só estará resolvido quando ele estiver na Suíça. Mas é um bom sinal que ele tenha sido libertado no prazo previsto.”
A Comissão Europeia saudou a libertação de Göldi e espera que ele possa retornar logo ao seu país. “O retorno imediato à sua pátria seria um passo importante rumo a uma solução do conflito bilateral entre a Suíça e a Líbia”, segundo um comunicado da Comissão.
Em uma declaração conjunta, a encarregada das relações exteriores da UE, Catherine Ashton, e a comissária de Interior, Cecilia Malmström, disseram esperar que Göldi “possa voltar muito brevemente para sua família e ter novamente uma vida normal”.
A chave para resolver a disputa entre a Suíça e a Líbia é o diálogo e são gestos positivos dos dois lados, afirma a Comissão Europeia. Asthon e Malmström pediram repetidamente gestos de boa vontade dos “dois lados”.
Segundo informações da TV pública da parte francesa da Suíça TSR, diplomatas líbios e suíços se encontrarão no sábado “para por um fim à crise”. Uma delegação suíça estaria a caminho da Líbia.
swissinfo.ch e agências
Hannibal Kadhafi, o filho do líder líbio Muammar Kadafi, e sua esposa foram detidos pela polícia suíça em 15 de julho de 2008, no hotel Presidente Wilson, em Genebra.
Hannibal e Aline Kadhafi foram indiciados no dia seguinte por lesões corporais simples, ameaça e coação contra dois empregados domésticos. Ambos negaram as acusações.
Após dois dias de detenção, o casal Kadhafi foi liberado mediante o pagamento de uma caução de meio milhão de francos e retornaram à Líbia. Os dois empregados pediram asilo político na Suíça.
No início de setembro de 2008, a Justiça de Genebra arquivou o processo contra os Kadhafi, depois que os dois acusadores retiraram a queixa.
Um relatório apresentado em 14 de setembro de 2008 por uma comissão independente concluiu que as autoridades de Genebra agiram corretamente.
Em 20 de agosto de 2009, o presidente suíço Hans-Rudolf Merz pediu desculpas, em Trípoli, pela prisão do casal Kadhafi.
Na ocasião, foi assinado um acordo para normalizar as relações entre os dois país e para que a Líbia libertasse dois reféns suíços, retidos nos país desde o ano passado. Um tribunal independente investigaria de novo o caso Kadhafi.
O prazo para o cumprimento do acordo terminou em 20 de outubro de 2009 sem que a Líbia tivesse cumprido a sua parte.
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