Ministro suíço da Defesa anuncia renúncia
Isolado no governo e pressionado por adversários políticos, o ministro suíço da Defesa, Samuel Schmid, anunciou hoje (12/11) que renunciará ao cargo no final do ano, alegando problemas de saúde.
Schmid acaba de ser operado da vesícula. Ainda ontem, o ministro havia desmentido especulações sobre sua demissão, depois que a Comissão de Política de Segurança do Parlamento aprovou um novo programa de armamento das Forças Armadas.
“Renuncio em favor de minha família, da minha saúde e por amor às Forças Armadas e ao país”, disse Schmid, em entrevista coletiva à imprensa na manhã desta quarta-feira, em Berna. Ele acrescentou que, nos últimos oito anos, fez uma política de segurança “com alegria e engajamento”.
Advogado do interior
Schmid era um ministro discreto, que evitava polêmicas e não se intrometia nos assuntos dos colegas de gabinete. Por seu discurso cauteloso, foi classificado como político sem carisma, um “típico advogado do interior”, que chegou ao primeiro escalão do Estado.
Por outro lado, é considerado uma pessoa simples e acessível, que conversa com todos. Nos corredores do Palácio Federal, freqüentemente parava para conversar com o pessoal da limpeza.
Mas ele é capaz também de ações relâmpago. Em 1° de janeiro de 2005, em seu primeiro dia como presidente suíço, fez uma visita de surpresa a policiais de fronteira, um gesto simbólico que foi muito elogiado.
Inesquecível foi também seu discurso na Cúpula Mundial da Sociedade da Informação, em 2005, em Túnis, quando condenou abertamente a censura do governo tunisiano.
O anti-Blocher
Samuel Schmid sempre foi um contrapeso à ala radical da UDC (direita nacionalista). Isso já ficou evidente quando o Parlamento, em 6 de dezembro de 2000, elegeu-o e não a candidata oficial da UDC, Rita Fuhrer, para o Conselho Federal (Executivo suíço). Ele foi eleito pelo UDC de Berna, justamente uma das alas moderadas do partido.
Por causa de sua oposição à direção partidária, Schmid foi sistematicamente criticado pela linha dura da UDC, que o rotulava de “meio ministro”. Mas ele sempre passou a impressão de ser alguém que absorve bem as críticas.
Na hora certa, ele deu o troco. Irritado, há poucos meses ele abandonou seu antigo partido para ingressar no recém-criado Partido Democrático Burguês (BDP, na sigla em alemão), formado por dissidentes da UDC.
Balanço modesto
O saldo dos oito anos que permaneceu à frente do Ministério da Defesa é modesto. Duas de suas principais vitórias foram a aprovação popular ao projeto de reforma das Forças Armadas e o envio de soldados armados da Suíça para missões internacionais de paz.
Hoje, porém, as Forças Armadas Suíças parecem não ter objetivos realmente claros. A rejeição do programa de armamento 2008, no valor de 917 milhões de francos, em sua primeira votação pela Câmara dos Deputados (Conselho Nacional), em setembro passado, foi interpretada como voto de desconfiança contra o ministro.
Para Schmid, 2008 foi um “ano terrível”, cujo ápice – antes de sua própria renúncia – foi a demissão do comandante das Forças Armadas, Roland Nef, um de seus protegidos. Abandonado pela UDC e torpedeado por severas críticas de outros partidos, ele foi empurrado para fora do governo.
A eleição do sucessor de Samuel Schmid, pelo Parlamento, está marcada para 10 de dezembro.
swissinfo, Olivier Pauchard (e agências)
Nascido em 1947, casado, três filhos.
Estudou Direito na Universidade Berna.
Após trabalhar no Ministério das Finanças (1973), atuou como tabelião e exerceu a advocacia (a partir de 1978, com escritório próprio).
Ocupou diversos cargos em empresas e entidades empresariais.
Preside a Associação da Indústria de Berna desde 1990 e integra a diretoria da Federação da Indústria Suíça desde 1991.
Iniciou sua carreira política no município de Rüti, perto de Berna.
De 1982 a 1993, foi deputado estadual do cantão de Berna.
Foi deputado federal (1994-1999) e senador (1999-2000).
De 1998 a 1999, foi líder da bancada da União Democrática de Centro (UDC, direita nacionalista).
Desde 2001, é conselheiro federal (membro do Executivo suíço). Em 2005, exerceu a presidência rotativa da Suíça. Ele deixa do cargo de ministro da Defesa em 31 de dezembro de 2008.
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