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‘Nein Danke’: a resistência dos europeus de língua alemã às vacinas contra a Covid

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Manifestantes contra a política do governo suíço contra a Covid reunidos em Berna, em 23 de outubro. Keystone / Peter Schneider

A hesitação de austríacos, alemães e suíços está entrelaçada a uma política antissistema e populista.

Quando a Suíça deu início a uma campanha de vacinação em massa, a polícia de choque formou uma barreira ao redor da principal estação ferroviária de Zurique. Sua missão: proteger o novo ponto de vacinação na estação contra manifestantes furiosos.

“Somos um movimento de direitos civis”, disse Nicolas A. Rimoldi, um manifestante de 26 anos da cidade de Lucerna. Ele foi uma das várias pessoas presas durante os protestos no início do mês. Todos foram liberados sem acusação. “A enorme pressão que está sendo exercida sobre as pessoas, contra a moralidade, contra a constituição, simplesmente não é correta”.

Alguns manifestantes carregavam o Trycheln, os gigantescos sinos de vaca que são um símbolo da Suíça rural, onde a resistência à vacina é alta.

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FT

Apesar de ser um dos países mais ricos do mundo, a Suíça tem a taxa de vacinação contra a Covid-19 mais baixa da Europa Ocidental. Mais de um terço da população suíça – 33,6% – não tomou a primeira dose da vacina.

A Suíça faz parte de um grupo de nações ricas – e predominantemente de língua alemã – no coração da Europa que têm taxas de vacinação surpreendentemente baixas. Na sua vizinha Áustria, 33,1% da população ainda não tomou sequer uma dose da vacina. Na Alemanha, esse percentual é de 30,4%. O número de casos está aumentando nos três países.

Os altos níveis de hesitação, evidentes entre adultos de todas as faixas etárias e convicções políticas, têm aumentado o escrutínio dos fatores que levam à desconfiança em relação às vacinas nos países de língua alemã.

Na Alemanha, é notável a resistência à vacina nos estados ricos do sul do país, como a Baviera e Baden-Württemberg, assim como em regiões orientais como a Saxônia. Markus Söder, o primeiro-ministro bávaro, disse que as três regiões tinham uma grande proporção de Querdenker (“pensadores laterais”) – membros do movimento de contestação que mais se opõe às restrições pandêmicas do governo.

“Temos dois vírus no país”, disse Söder num talk show alemão. “Temos o coronavírus e temos este veneno [do ceticismo contra a vacina], que está sendo disseminado em grande escala pelos Querdenker e por partidos [de extrema direita] como o Alternativa para a Alemanha [AfD]”.

Na Suíça, a aceitação de vacinas em cantões rurais do leste, de língua alemã, frequentemente é muito menor do que no oeste de língua francesa e no sul de língua italiana. Em Appenzell Innerrhoden, 45% da população ainda está completamente não vacinada. Mas o padrão não é claro. O cantão montanhoso de Graubünden, de língua alemã, administrou mais primeiras doses do que Genebra, que é urbana e de língua francesa.

Suzanne Suggs, professora de comunicação no Instituto de Saúde Pública da Universidade de Lugano, sugere que as autoridades dos países de língua alemã tendem a ser muito menos intensas em suas comunicações sobre saúde. “Tem sido mais funcional do que emocional”, disse ela. A falta de mensagens emocionalmente impactantes que sejam a favor das vacinas “significou que as teorias da conspiração preencheram esse vazio – muitas vezes elas são mais fáceis de acreditar para as pessoas [desinformadas]”, acrescentou.

Os casos diários na Áustria e na Alemanha atingiram seus níveis mais altos em toda a pandemia. No início do mês, a província da Alta Áustria – um reduto de resistência à vacina, com uma população de 1,5 milhão de pessoas – registrou mais casos novos de Covid-19 do que toda a Península Ibérica.

Na Alemanha, 14 milhões de pessoas que podem ser vacinadas decidiram, até agora, não o fazer. No subúrbio de Hohenschönhausen em Berlim, as pessoas esperando para se vacinarem no “ônibus de vacinação” deram uma série de motivos para terem esperado.

“Geralmente sou uma campeã de vacinação, mas simplesmente não tenho certeza de que essa seja segura”, disse Jutta, que preferiu não dizer seu sobrenome. Ela disse que ainda se opunha à vacina contra a Covid, “mas não tenho mais escolha. Estão dizendo que eu não poderei ir trabalhar a menos que tenha tomado a vacina”.

Pesquisas da Universidade Erfurt dão alguma indicação de por que muitos alemães não querem se vacinar: 80% dos entrevistados não vacinados disseram que precisavam pesar os riscos e os benefícios antes, e 41% simplesmente consideravam a vacinação “desnecessária”.

O sentimento antivacina está fortemente entrelaçado com uma política antissistema e populista. Uma pesquisa da Forsa, realizada em nome do Ministério da Saúde alemão, constatou que metade dos entrevistados não vacinados havia votado no partido populista de direita AfD nas últimas eleições federais.

Na Áustria, o partido populista de direita Freedom se tornou feroz em sua oposição às medidas para a vacinação. No mês passado, o chefe do partido, Herbert Kickl, falou sobre relações “aterrorizantes” entre vacinas e tumores.

A Suíça está se preparando para um referendo que ocorrerá em 28 de novembro, com o intuito de sistematizar os poderes do governo federal em emergências pandêmicas. O Partido Popular Suíço – o maior do país – está abertamente fazendo uma campanha contra o governo. De acordo com uma pesquisa de opinião realizada em outubro pela Sotomo, 51% de seus apoiadores não estão vacinados.

Embora, para a maioria dos políticos de língua alemã, tenha se tornado conveniente ridicularizar aqueles resistentes à vacina – chamando-os de algo que se traduz vagamente como “provincianos balbuciantes” –, a realidade é mais complexa.

Quando o MFG, um partido resistente à vacina que acabou de ser criado, ganhou mandatos numa eleição regional austríaca em setembro, 30% de seus eleitores eram antigos apoiadores da extrema-direita. Mas outros 30% eram ex-conservadores moderados, enquanto 16% eram ex-socialistas e 12% ex-verdes.

Nos três países, muitas pessoas jovens também se opõem à vacina contra a Covid – e às medidas governamentais para incentivá-la. Na Áustria, cerca de 37% dos adultos com menos de 35 anos de idade não estão vacinados.

A idade média dos apoiadores do movimento Mass-Voll! (“Já chega!”), que organizou a manifestação em Zurique no início do mês, é de apenas 20 anos. Ele já tem mais seguidores no Instagram do que o movimento de jovens do Partido Verde da Suíça e o dos sociais-democratas.

“Trata-se do futuro de uma geração mais jovem”, disse Rimoldi.

Copyright The Financial Times Limited 2021

Adaptação: Clarice Dominguez

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Protesters demonstrating against coronavirus measures

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