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O que os jovens querem conquistar na ONU

Photo of indigenous rights defender Hamangai Pataxo at the UN in Geneva.
O jovem defensor dos direitos indígenas Hamangai Pataxo do Brasil esteve na ONU em Genebra para participar da Cúpula de Jovens Ativistas de 2019. Este ano, seis jovens ativistas foram convidados a apresentar suas soluções para os desafios globais. Keystone / Salvatore Di Nolfi

Em novembro, jovens líderes de diferentes regiões do mundo desembarcam em Genebra para participar da Cúpula de Jovens Ativistas da ONU. Mas, o que a entidade internacional de 76 anos significa para as novas gerações?

Na sede da Organização das Nações Unidas, durante a Cúpula de Jovens AtivistasLink externo (YAS) de 2021, é a juventude que ocupa o palco e projeta suas vozes para o planeta. Ao longo do evento, seis jovens ativistas de todo o mundo apresentam os projetos que desenvolvem para enfrentar os desafios globais e podem interagir com outros jovens líderes que participam do evento de forma remota ou presencial.

A convidada mais nova, Gitanjali Rao, tem apenas 15 anos. É uma cientista americana cujas invenções ajudam a prevenir o vício em opiáceos e o cyberbullying – além de desenvolver um mecanismo para detectar contaminações em água. Em 2020, Rao recebeu o título de ‘Garota do Ano’ da revista Time.

Já a liderança mais velha que participará do evento é Lual Mayen, que tem 26 anos. Nascido no Sudão do Sul, no período em que o país foi devastado pela guerra, Mayen cresceu em um campo de refugiados. Atualmente, o ativista desenvolve videogames que promovem a paz.

“Não estamos buscando perfeição e crianças maravilhosas. Ativismo é ter ideias, tentar implementá-las, testá-las, melhorá-las”, diz Marina Wutholen, diretora da ONG de mídia Dev.tv e fundadora do YAS.

Embora os seis ativistas convidados para vir a Genebra tenham currículos impressionantes, o que mais importa, diz Wutholen, é que eles estão trabalhando em soluções concretas que podem inspirar jovens de outros lugares a replicarem suas iniciativas e enfrentarem problemas semelhantes. “Se determinadas soluções são eficazes no Quênia, podem ser eficazes na Ásia ou na América do Sul também”, diz ela.

Os projetos desenvolvidos pelos jovens ativistas incluem soluções para restaurar os recifes de coral, prevenir a mutilação genital feminina, estimular a reciclagem, combater a pobreza e promover a agricultura sustentável.

Novas gerações na liderança

Nos últimos anos, os mais jovens estiveram na vanguarda dos movimentos sociais. Greta Thunberg inspirou milhões de estudantes de todo o mundo a exigirem das autoridades políticas ações mais eficazes no enfrentamento às mudanças climáticas. O que explica esse fenômeno?

“Acho que o que realmente mudou é a educação e a formação que damos nas escolas. Os jovens de agora foram educados em um período em que as questões de sustentabilidade, as crises ambientais e climáticas são muito discutidas nas escolas”, diz Jasmine Lorenzini, pesquisadora sênior da Universidade de Genebra (UNIGE).

O acesso mais amplo à informação e a maior conscientização, aliado a uma tendência de longo prazo de declínio de confiança nas instituições políticas, criou um terreno fértil para que figuras importantes como Greta Thunberg emergissem e desencadeassem movimentos globais, diz Lorenzini.

Um estudo do “efeito Greta Thunberg” descobriu que as pessoas que estão familiarizadas com a jovem ativista sueca têm mais probabilidade de acreditar que elas próprias podem fazer a diferença e estão mais inclinadas a agir em prol do meio ambiente.

Na Suíça, os movimentos liderados por jovens também mobilizam as gerações mais velhas. Em parte, a mobilização intergeracional pode ser explicada pela história dos movimentos ambientais na Suíça, diz Lorenzini. Nas décadas de 1970 e 1980, grupos antinucleares e ambientalistas atuavam no país, ocupando e bloqueando o acesso aos locais onde seriam instaladas futuras usinas nucleares. Alguns dos ativistas da época podem ter retornado ao movimento quando viram os jovens protestando contra as mudanças climáticas, sugere ela.

“Muitas vezes falamos de movimentos juvenis – o que é correto no sentido de que os jovens são os organizadores – mas é redutor se considerarmos quem são as pessoas que estão saindo às ruas e defendendo esses movimentos”.

Lorenzini alerta para o risco de se fazer uma interpretação errada sobre os movimentos jovens, minimizando seu peso ou alegando que eles não refletem a opinião da população.

Mas, enquanto a confiança nas instituições políticas cai, o que pode estar atraindo jovens para a ONU? Uma entidade que não necessariamente é associada a imagem de agilidade ou de ações práticas?

Juventude na ONU

Quando jovens ativistas apresentam suas soluções na ONU durante a YAS, alcançam um certo prestígio e reconhecimento específicos, diz Wutholen. Ela e seus colegas também organizam sessões para os ativistas se conectarem e receberem orientações de especialistas em Genebra e outros lugares.

“Nós vemos que, para a maioria dos ativistas que participam, existe um antes e um depois da YAS”.

O Geneva Youth CallLink externo (GYC) é outra iniciativa sediada em Genebra que promove as vozes jovens na ONU. O projeto foi criado no início de 2020 por alunos da UNIGE.

“Um problema fundamental que queríamos resolver é o fato de que, no momento, não existe realmente um espaço comum onde os jovens do mundo podem se engajar em questões globais”, diz Eva Luvisotto, cofundadora do GYC.

Em 2021, o GYC lançou uma plataforma digital onde jovens de todo o mundo podem compartilhar os problemas que enfrentam e as soluções que desenvolvem. O conteúdo da plataforma irá alimentar uma Carta Internacional da Juventude, que pode indicar um posicionamento global das novas gerações para a ONU. O GYC pretende organizar sua primeira Assembleia Global da Juventude em abril de 2022 para refinar seu regulamento.

Luvisotto, que também é estagiária no Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), argumenta que muitas das críticas que a ONU tende a receber – por exemplo, ser muito burocrática – não tem como alvo direto o que a ONU representa – como a promoção da paz mundial – mas sim a forma como a organização funciona. Esses são problemas que podem ser resolvidos por meio de reformas e para os quais o GYC espera fornecer soluções.

“Ela [a ONU] representa algo muito importante no mundo”, diz Noa Rakotoarijaonina, que estuda relações internacionais e integra a equipe do Geneva Youth Call.

Os movimentos juvenis estão cada vez mais construindo laços com organizações estabelecidas como a ONU, com as quais compartilham valores e trabalham em problemas similares, mas usando estratégias e recursos diferentes”, diz Wutholen. “A ONU tem restrições que os grupos de jovens não têm e vice-versa. E é por isso que é muito importante unir forças”.

A ONU trabalha para proteger os refugiados e os oceanos, para acabar com a pobreza e a fome, para promover a ação climática responsável e a igualdade de gênero. Os jovens convidados para vir a Genebra fazem o mesmo. Eles estão desenvolvendo soluções concretas que merecem a atenção e o apoio da comunidade internacional.

Adaptação: Clarissa Levy

Adaptação: Clarissa Levy

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